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Cada vez mais sofisticadas, fábulas do cinema passam lições e miram também o público adulto

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Histórias protagonizadas por animais com características exclusivas dos seres humanos – como a capacidade de falar, refletir e apreender lições morais a partir de situações cotidianas – são recorrentes desde a Grécia Antiga. O surgimento das fábulas enquanto gênero narrativo é atribuído à imaginação fértil do escritor Esopo, nascido seis ou sete séculos antes de Cristo. Transmitidas para as gerações seguintes sobretudo por meio da tradição oral, os pequenos contos são o marco zero de uma tradição abraçada pela literatura infantojuvenil e, mais tarde, por outras manifestações artísticas, a exemplo do teatro e do cinema.

Na sétima arte, especificamente, cujas produções são com frequência repletas de bichos antropomórficos de toda espécie, há um nicho de mercado tão frutífero quanto exigente. Para agradar tanto o público infantojuvenil quanto os pais, os realizadores se desdobram no sentido de não deixar a inventividade se descolar de um ingrediente fundamental das fábulas – a existência de enredos edificantes e comoventes (veja exemplos na página). A mais nova criação de Hollywood para este filão, Zootopia – Essa cidade é o bicho, entrou em cartaz nos cinemas brasileiros, nesta semana, com grande expectativa. A confiança se deve, em parte, ao excelente desempenho em países onde já estreou, tanto nas críticas recebidas quanto nas bilheterias.

Passada em um ambiente onde os animais ocupam os papéis dos humanos, a animação acompanha a saga da coelha Judy Hopps (dublada pela atriz Mônica Iozzi), filha de agricultores cujo sonho é se mudar para a cidade grande e se tornar policial. Discriminada pelo porte físico diminuto, a princípio ela é designada para ser guarda de trânsito. Insatisfeita e determinada, consegue assumir a investigação do desaparecimento de vários mamíferos, embora a exigência por uma resolução em tempo recorde a coloque sob pressão. Vítima de manipulações, Judy recorre à malícia da raposa Nick Wilde (voz de Rodrigo Lombardi) para enfrentar o desafio. 

Entre as possíveis mensagens positivas espalhadas pelo roteiro, estão o combate ao preconceito, o respeito às diferenças e o estímulo à perseguição dos sonhos e objetivos. Em uma análise mais minuciosa, talvez a saga da coelhinha Judy possa representar, ainda, o empoderamento da mulher – supostamente frágil e incapaz – diante de uma sociedade machista (no filme, os policiais são animais de grande porte). Como um esforço extra para cativar espectadores adultos, o longa-metragem tenta estabelecer um diálogo direto com eles ao salpicar referências a produções audiovisuais como O poderoso chefão (1972) e Breaking bad (2008-2013). 

Por Felipe Torres, do Diario de Pernambuco


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