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Conheça os negros conservadores que lutaram pelo fim da escravidão ao lado do Império Brasileiro

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A Guarda Negra da Redentora: conheça os negros conservadores que lutaram pelo fim da escravidão ao lado do Império Brasileiro

Brasil – Neste sábado (20/11) comemora-se no Brasil o dia Consciência Negra e o Portal CM7 prestigia os grandes negros brasileiros que lutaram ao lado do Império Brasileiro para libertação dos seus irmãos escravizados. Conheça a história do da Guarda Negra da Redentora, o grupo que chegou a ter um efetivo de até 1.500 negros alforriados que deu todo suporte para a Princesa Isabel consagrar a liberdade dos negros no país após a Lei áurea.

História

A Guarda Negra da Redentora foi uma instituição que surgiu nos meses que se seguiram após a abolição da escravidão no Brasil, formada por ex-escravos que tinham como objetivo proteger a liberdade recém adquirida bem como o bem-estar da princesa Isabel, como um gesto de agradecimento pela libertação deles.

Este grupo foi instalado em 10 de fevereiro de 1889, na casa nº 4, da rua Voluntários da Pátria, com queima de fogos, grandes discursos e comparecimento numeroso. Alistaram-se no Clube da Guarda Negra, no primeiro dia, quinhentas pessoas. E tinha como patrona a Princesa Isabel, o que foi permitido, sem dúvida, para popularizar a imagem da Princesa Isabel, fortalecendo a relação desta população recém liberta com a monarquia.

Segundo Câmara Cascudo, os negros libertados foram arregimentados por todo o país, e passaram a ser orientados pelos políticos do Partido Conservador, que pretendia combater as ideias republicanas. Porém esta atuação conservadora não impede a fala do presidente nacional do grupo, Clarindo de Almeida, no Rio de Janeiro, que dizia: “O nosso fim não é levantar o homem de cor contra o branco, mas restituir ao homem de cor o direito que lhe foi roubado de intervir nos negócios públicos”, (jornal Cidade do Rio em 3 de janeiro de 1889).

José do Patrocínio

O monarquista José do Patrocínio foi um grande intelectual das áreas do direito como jornalista na época do Império. Foto: Divulgação

A guarda, portanto, seria um novo lugar de atuação política de homens negros, como as irmandades negras foram durante o período colonial para os escravos. José do Patrocínio, um abolicionista, conservador e monarquista, afirma no Cidade do Rio, (publicação da qual era dono e diretor): “É preciso que se saiba bem que a Guarda Negra se organizou para resistir e não para atacar”. Contudo, Patrocínio afirma que há muita raiva entre os negros que precisará ter um canal para fluir. A violência da guarda tinha um motivo para existir. Havia um combate para ser vencido em nome da coroa.

A diretoria, à época da fundação, em Natal, se compunha do senhores Malaquias Maciel Pinheiro, como presidente; Antônio José Coelho, como seu vice; Samuel Martins Caldas e Frederico Teodoro de Souza como primeiro e segundo secretário, respectivamente; e Manoel Peregrino do Nascimento como seu orador oficial. O clube tinha três comissões: uma executiva, que planejava as ações, formada por cinco homens; uma chamada de sindicância, também composta por cinco homens; e a de prontidão, também com cinco homens, que era responsável por aqueles que estavam prontos para “defender a coroa imperial, a pau, navalha e capoeira” (Câmara Cascudo. História da Cidade do Natal, p. 371).

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Na ata de fundação, os nomes de batismo na capoeira, seus apelidos, como José Carlos “Pequeno”, João Guimarães da Silva “Goianinha”, João Juvêncio Tacino “Bicho Feroz”, Antônio Minerva “Tição”, Joaquim Honório “Honra e Glória”, Jorge O’Grady Lopes “Trovão”, Napoleão da Fé “Renegado”, Heronides “Macaca”, Francisco Gomes Patacho “Ronha” e Manoel Onofre Pinheiro “Tramoia” estão registrados. Mas como afirma Humberto Machado, as acusações de vínculos com a capoeiragem aos membros da Guarda Negra, na verdade prejudicava o grupo, era uma clara “estratégia para desqualificar o movimento, visto que os capoeiras eram identificados como desordeiros que provocavam arruaças na cidade”.

“A ação dos capoeiras e a sua arte no manejo de armas, em especial a navalha, nas correrias pelas ruas da cidade provocavam sobressaltos nos governantes e na população de uma maneira geral. As maltas de capoeiras traziam muita insegurança, agravada pelo próprio caráter da sociedade escravista e a especificidade de mobilidade do escravo urbano” (Humberto Machado).

A capoeira foi criminalizada em 1890, com a Proclamação da República, vista por diversos historiadores como Golpe de Estado. A pena para quem fosse pego praticando a arte-marcial africana era exílio nas prisões do forte de Guerra em Fernando de Noronha. A decisão de tornar crime, segundo Carlos Eugênio Soares, tem profunda relação com a participação dos soldados negros na Guerra do Paraguai. A capoeira era uma técnica extremamente perigosa para estar nas mãos de uma população que se temia tanto: o negro pobre.

“A volta para casa foi recebida em triunfo. Saídos como marginais, obrigados a assentar praça nas fileiras de um desacreditado exército, eles retornaram como heróis. Alguns cobertos de medalhas, muitos libertos da escravidão pelo“tributo de sangue” ao servir nas forças armadas (escravos eram alforriados antes de ingressarem no serviço militar).Desmobilizados, estavam de novo nas ruas, alguns querendo reaver os territórios perdidos após a remessa para o front” (Carlos Eugênio Soares)

A criminalização dos capoeiras também tornou a Guarda Negra ilegal, e com isso os republicanos impediram que os homens negros se organizassem e participassem politicamente da nova nação que estava sendo construída.

Outro mártir  

Candido da Fonseca Galvão – O Dom Obá II D’África

Dom Obá foi amigo pessoal do Imperador Dom Pedro II

Dom Obá foi amigo pessoal do Imperador Dom Pedro II – Foto: Divulgação.

Cândido da Fonseca Galvão, também conhecido como Dom Obá II D’África (Lençóis, 1845 — 1890) foi um fidalgo e militar brasileiro. Filho de africanos forros, seu pai, Bemvindo da Fonseca Galvão, era filho de Abiodum, o obá do Império de Oió. 

Príncipe guerreiro, Dom “Obá” (que quer dizer “rei” em ioruba) lutou na Guerra do Paraguai (1865-70), de onde saiu oficial honorário do Exército Brasileiro, por bravura. De volta ao país, fixou residência no Rio, onde sua posição social era, no mínimo complexa. Tido pela sociedade de bem como um homem meio amalucado, uma figura folclórica, era, ao mesmo tempo reverenciado como um príncipe real por escravos, libertos e homens livres de cor.

Amigo pessoal, uma espécie de protegido de Dom Pedro 2º, Dom Obá assumiu, nos momentos decisivos do processo de abolição progressiva, o papel histórico, até então insuspeito de elo entre as altas esferas do poder imperial e as massas populares que emergiam das relações escravistas.

Sua figura imponente de homem de 2m de altura, seus modos de soberano, como que captavam a atenção dos contemporâneos, embora poucos estivessem realmente preparados para acreditar no que viam. Um príncipe afro-baiano a perambular pelas ruas do velho Rio, barba à moda de Henrique 4º, muito bem vestido em suas “finas roupas pretas”, como foi descrito, de fraque, cartola, luvas brancas, guarda-chuva, bengala, pince-nez de aro de ouro.

Alistou-se voluntariamente para lutar na Guerra do Paraguai e, devido à grande bravura que demonstrou, foi condecorado como oficial honorário do Exército brasileiro. Depois da Guerra, fixou-se no Rio de Janeiro, tornando-se uma figura muito conhecida da sociedade carioca. Foi amigo pessoal do Imperador Pedro II. Entre os negros e mulatos do Rio de Janeiro, era reverenciado especialmente por sua representatividade, como neto do obá Abiodum.

Dom Obá II d´África foi o representante da África Pequena do Rio de Janeiro, dos “pardos e pretos” que viviam precariamente à margem do sistema, em atividades de auto-emprego. Quando havia debate intelectual e político no Parlamento e na imprensa, Dom Obá tinha idéias definitivas. Ele pensava na salvação da grande lavoura de exportação, base econômica do Império, e era contra o trabalho escravista. Como as demais personalidades, também o Príncipe procurava o apoio do imperador para seus projetos.

Dom Obá tinha o hábito anualmente realizar uma visita oficial ao Paço, onde era recebido como herdeiro de seu avô. Foi defensor da monarquia brasileira, atuou na campanha abolicionista e no combate ao racismo. Com a infeliz queda do Império, devido ao Golpe Republicano em 1889, Obá foi perseguido pelos republicanos, que cassaram seu posto de alferes. Morreu logo depois, em julho de 1890. Sua morte foi noticiada na primeira página dos jornais da capital do país, que ressaltaram a imensa popularidade do Príncipe Obá e o fato de ter falecido “na majestade de uma soberania que ninguém se atreveu jamais a contestar”.

Com auxílio de informações de Natal das Antigas. Referências para aprofundar os estudos e saber mais: Câmara Cascudo. História da Cidade do Natal. Cap. XXXVII: Abolição e República.


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