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Uma cacofonia de sons no abismo mais fundo do oceano

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RIO – A mais de 11 mil metros da superfície do Oceano Pacífico, o Abismo Challenger, na Fossa das Marianas, é o lugar mais profundo dos oceanos da Terra. Tão isolado, era de se esperar que fosse um mar de silêncio, mas os cientistas se surpreenderam ao descobrir que o local na verdade é atingido por uma cacofonia de sons produzidos tanto por fontes naturais quanto humanas, num volume e diversidade impressionantes.

O barulho no abismo foi registrado continuamente pela primeira vez ao longo de pouco mais de três semanas por um tipo especial de microfone, chamado hidrofone, protegido por uma cápsula de titânio baixado em julho do ano passado no local por pesquisadores da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA (Noaa), da Universidade do Estado do Oregon e da Guarda Costeira americana. Neste período, ele registrou de terremotos ao canto de baleais, além dos motores e hélices dos muitos navios que circulam naquela região da Micronésia.

– Você pensaria que a parte mais profunda do oceano seria um dos lugares mais quietos da Terra – conta Robert Dziak, pesquisador da Noaa e líder do projeto. – Mas na verdade o que temos é um barulho quase constante tanto de fontes naturais quanto humanas. O som ambiente no Abismo Challenger é dominado por terremotos tanto próximos quanto longe, assim como o distinto canto de baleias e o impressionante clamor do tufão de categoria 4 que passou sobre ele na época. E teve também muito barulho do tráfego de navios, identificável pelo claro padrão de som de suas hélices enquanto passam.

O projeto, financiado pelo Escritório de Pesquisas e Exploração do Oceano da Noaa, tem como objetivo estabelecer uma linha de base para medir a poluição sonora nos oceanos. O barulho antropogênico, ou produzido pela Humanidade, nos mares tem aumentado constantemente nas últimas décadas e essa primeiras gravações vão ajudar os cientistas do futuro a determinar se ele subiu de volume.

– É como mandar uma sonda para os confins do Sistema Solar – compara Dziak. – Enviamos uma sonda para o fundo do oceano, chegando a regiões desconhecidas do espaço interior de nosso planeta.

Nos últimos meses, Dziak e seus colegas analisaram os sons captados pelo hidrofone durante 24 dias, diferenciando os naturais dos de navios e outras atividades humanas.

– Gravamos um terremoto de magnitude 5 muito alto que aconteceu a uma profundidade de cerca de 10 quilômetros na crosta terrestre próxima – relata o pesquisador. – Mas como nosso hidrofone estava a 11 quilômetros de profundidade, na verdade ele se encontrava numa posição mais baixa que o epicentro do terremoto, o que é uma experiência muito incomum. O barulho do tufão também foi dramático, embora a cacofonia de grandes tempestades tenda a se espalhar e elevar o volume geral do som por um período de dias.


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