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Dupla cria plataforma para conectar novos artistas com público

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RIO — A carioca Manuela Seve, economista, e a paulista Renata Thomé, formada em comunicação e história da arte, mal se conheciam e moravam a léguas de distância: Manuela, no Rio, e Renata, em Nova York. Mas ambas, de 28 anos, compartilhavam a mesma vontade: ajudar a acelerar a carreira de artistas plásticos independentes.

— Quando me formei, trabalhei na casa de leilões Christie’s e na Galeria David Zwirner, uma das maiores do mundo. E, naquela época, convivia muito com artistas supertalentosos que trabalhavam transportando arte para ter um ganha-pão e poder fazer arte nas horas vagas. Isso me incomodava muito — conta Renata.

Filha e sobrinha de galeristas (seu pai ajudou a fundar a Galeria Ipanema e hoje é dono da Frederico Seve Gallery, em Nova York), Manuela se aproximou ainda mais da arte após uma experiência no mercado financeiro.

— Trabalhava na Gávea Investimentos quando li a biografia de Marc Rich, que é o cara que criou o mercado de spot de petróleo (que admite apenas transações na bolsa de valores em que a entrega da mercadoria é imediata e o pagamento, feito à vista). E, olhando para o mercado do petróleo nos anos 1960 e para o mercado da arte, você vê muitas coisas parecidas. A quantidade limitada de pessoas trabalhando, quase um cartel que manipula preço e mantém esse mundinho fechado porque é muito mais interessante. Isso me inquietava — diz Manuela.

Percebendo que o mercado da arte começava a se digitalizar, a economista resolveu, então, criar, no final de 2014, a Geração Alpha (hoje, Alpha’a), uma plataforma de conexão de novos artistas com o público. Foi quando ela estreitou laços com Renata, que conheceu por meio de amigos em comum.

— Eu estava com um estande da Geração Alpha na ArtRio e a Renata foi à feira representando um cliente de Nova York. Conversamos, descobrimos que tínhamos pensamentos e desejos similares e resolvemos nos unir — lembra Manuela.

Um dos desejos da dupla era promover um curso de verão gratuito para novos artistas. Para ajudar no financiamento, resolveram abordar artistas já consagrados, como Marcos Chaves, Paulo Climachauska e Nelson Leirner, através das galerias que os representavam. A ideia era convencê-los a doar ilustrações para camisetas, que seriam vendidas para custear as aulas.

— Pensamos nisso por ser uma coisa acessível e pelo significado de “vestir a camisa”. Todo grande artista já passou por dificuldades. Além disso, eles adoram quando recebem um pedido para ilustrar camisetas, abrem um sorriso na hora. Se fosse uma gravura, eles falariam que a venderiam em suas galerias — observa Manuela.

PERFIS DE INICIANTES

Os seis artistas procurados embarcaram no projeto e as 25 camisetas produzidas foram vendidas (a R$ 300, cada). Nasceu, então, em janeiro de 2015, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, a primeira residência em arte promovida pela Alpha’a, a EAV Verão.

— Recebemos 678 inscrições para 25 vagas, o que nos fez perceber que a demanda por educação é muito maior do que se imagina. Um comitê formado por acadêmicos e pessoas do mercado se encarregou da seleção. Foram três meses de aulas, 10 horas por dia, dadas por nomes prestigiados no mundo da arte, como Tunga e Ronaldo Lemos. Metade do projeto foi pago com a renda das camisetas e a outra, tiramos do nosso bolso. Mas a ideia é que as camisetas financiem 100% das residências — afirma Renata.

Outros grandes artistas abraçaram a causa, e, hoje, a plataforma Alpha’a vende pela internet, e também em eventos, 13 modelos diferentes de camisetas, que custam entre R$ 100 e R$ 220. As meninas planejam promover a próxima residência em São Paulo. Além de vender camisetas, o site (que também tem uma versão em aplicativo) abriga os perfis de mais de mil artistas iniciantes, onde eles exibem suas obras e divulgam seus contatos.

— Queremos fomentar a arte e ajudar artistas independentes a viver de seus trabalhos — diz Renata.


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