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Aluno da UFRJ pediu dinheiro à família para deixar alojamento

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RIO — Diego era o mais velho de quatro filhos. Foi criado pela avó materna em Belém, junto com Maycon Machado, um ano mais novo. A mãe vive em Ananindeua, a 20 km da capital, e não tinha condições de educá-los, por isso entregou os dois mais velhos à avó. No RG de ambos, não consta o nome do pai, desconhecido.

A última vez que Maycon e Diego conversaram foi no dia 15 de junho. Combinaram que Maycon compraria passagens de avião no cartão de crédito do seu patrão, assim o estudante poderia passar as férias com a famíla. Desde que se mudou para o Rio, no fim de 2011, após ser aprovado no Enem, voltou ao Pará apenas uma vez.

— Ele sofria bullying na escola por ser gay. Sempre foi de poucos amigos, não era popular. Não tinha maldade, eu que tomava as dores, brigava muito por ele. Diego gostava de ter o cabelo comprido, uma vez dois garotos cortaram o cabelo dele à força, quase fui expulso da escola nesse dia — lembra Maycon. — Ele pensava que, no Rio, as pessoas tivessem a mente mais aberta. Mas olha o que aconteceu.

“Ódio por ele ser gay”

Diego, chamado de “Dje Govz” por alguns amigos, queria sair do alojamento estudantil onde morava há mais de um ano —chegou a pedir ajuda financeira a uma tia para conseguir se mudar. Em 7 de abril, denunciou que operários da obra do campo de rugby do Fundão, perto da Educação Física, violentaram sexualmente e agrediraram um estudante, e que os seguranças da universidade não teriam feito nada.

— Ele falava abertamente sobre isso no Facebook. Criticava a segurança interna da faculdade abertamente. Acho que o ódio contra ele foi maior ainda por causa disso. Ódio por ele ser gay, por ele ser do norte.

A mãe de Diego recebeu ontem a notícia do assassinato. Passou mal, desmaiou, só conseguiu dormir à base de calmante. Não para de chorar. A UFRJ telefonou dizendo que mandar um psicólogo de Belém para conversar com a mãe do aluno. Até agora, ninguém apareceu para amenizar sua dor.

“Voltei a estudar por causa dele”

Maycon se emociona ao lembrar do irmão. Conta que voltou a estudar ciências da computação por causa de Diego, que queria o mais novo ao seu lado.

— Parei de estudar depois do Ensino Médio, quando minha filha nasceu. Ele queria que eu fosse morar com ele no Rio, para voltar a estudar, mas não era possível. Meu maior incentivador foi ele. Acabei voltando a estudar por causa dele, que era muito estudioso.

O corpo de Diego ainda está no Instituto Médico Legal. Segundo Maycon, a universidade lhe informou que os documentos desapareceram, e por isso o laudo cadavérico ainda não foi feito. O traslado para Belém, onde o corpo será enterrado, será pago pela universidade.

— Tem gente que postou que ele estava amarrado, que estava com o rosto desfigurado. Não temos informação nenhuma, não sabemos de nada, se teve outro tipo de violência, nao sabemos de nada, ninguém da polícia entrou em contato — diz. — A gente tinha o maior orgulho de ter um irmão estudando no Rio. É muito difícil uma pessoa da periferia de Belém virar estudante da UFRJ. Ele era puro, não ligava pra vaidade, sempre descabelado. Não fazia ideia que existia no mundo gente capaz de fazer isso.


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