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Manuela Dias aborda relação entre ética e as leis em nova série na TV Globo

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Nome em alta na Globo, Manuela Dias, autora da minissérie “Ligações perigosas”, exibida em janeiro, ficou impressionada quando sua empregada doméstica veio pedir ajuda para o marido. O homem ficou preso por uma semana depois de matar um cachorro que invadira a casa deles. E só saiu da cadeia depois que a escritora ajudou a funcionária a arrumar um advogado.

— Acendeu um negócio quando ouvi essa história. O Brasil é esse caos onde as pessoas fazem tudo e ficam impunes. Da Lava-Jato ao Mensalão, passando pelo cara rico que atropela o pobre, e nada acontece. Juntei umas histórias e pensei numa série que envolvesse questões como merecimento, arrependimento, vingança ou perdão para falar de justiça — conta a autora baiana em entrevista realizada em sua casa, no Rio, com intervalos para amamentar a filha Helena, de 3 meses, de seu relacionamento com o cineasta Caio Sóh.

UM PROTAGONISTA POR DIA

O caso da morte do cachorro será abordado de outra forma em “Justiça”, série com estreia prevista para o segundo semestre. A produção de 20 capítulos, cuja atual fase de gravação acontece em Recife, traz Adriana Esteves como uma empregada doméstica que mata o cão do vizinho. Ela vai presa porque o dono do animal é um homem que tem dinheiro e um amigo policial.

A série tem um formato diferente, com quatro histórias independentes — mas interligadas —, cada dia da semana dedicado a um protagonista. Todas as tramas tratarão da ética envolvendo a Justiça e o Direito.

— A lei dos homens é sujeita a questões muito circunstanciais, e não é baseada no que realmente é justo. É disso que falo. Não tem nada a ver com lei, não terá cena de tribunal — conta.

Protagonista dos capítulos de terça-feira, Adriana Esteves será empregada da personagem de Débora Bloch — foco principal da história de segunda-feira —, que tem a filha assassinada.

A série não será exibidas às quartas. Nas quintas, a trama gira em torno de duas jovens, uma branca (Luisa Arraes) e outra negra (Jéssica Ellen). As duas vão a uma festa, mas somente a negra é revistada e presa por porte de drogas.

Às sextas, será a vez dos personagens de Cauã Reymond e Marjorie Estiano. Ela é uma bailarina que fica tetraplégica depois de um acidente e pede para ele, seu marido, optar pela eutanásia.

— O que é justo nesse caso? A série gira em torno dessa justiça que gera as leis — diz.

Manuela conta que os personagens de “Justiça” também acabam se interligando espacialmente:

— A protagonista de segunda-feira é uma coadjuvante na terça, uma figurante na quinta e tem uma aparição relâmpago na sexta.

Aos 39 anos, a autora, que está há 20 na Globo, também já teve textos encenados no teatro e no cinema e diz ter escrito de tudo, “do programa da Xuxa ao ‘Zorra total’”:

— Aquele bordão “Tô pagando” (da personagem Lady Kate), fui eu que inventei.

Com passagens pelo time de roteiristas de séries como “A grande família” e “Faça sua história”, Manuela ressalta que sua trajetória na emissora “foi muito construída”.

— Sou ansiosa por natureza. E obsessiva também (risos). Mas já havia realizado trabalhos autorais no teatro e no cinema. E essa experiência fora da TV me deu uma certa falta de vícios. É difícil escapar, mas jamais quero escrever cenas como a que a vilã rouba um beijo do mocinho na hora em que a mocinha chega. Não dá! Por que a mocinha acredita que o beijo foi de verdade? Ela nunca viu uma novela? Não é possível! — debocha.

Um dos projetos da autora é o longa “Love film festival”, rodado durante seis anos em quatro países. Protagonizado por Leandra Leal, o filme — que estreia em novembro — foi escrito, produzido, dirigido e montado por Manuela.

Nos últimos anos, ela atuou como colaboradora das autoras Thelma Guedes e Duca Rachid nas novelas “Cordel encantado” (2011) e “Joia rara” (2013). Só estreou como autora titular em “Ligações perigosas”, adaptação do clássico francês “Les liaisons dangereuses”, publicado em 1782 por Choderlos de Laclos.

Duca supervisionou o texto da série e se tornou amiga de Manuela:

— Passamos três meses juntas, nos vendo diariamente, estudando o livro e estruturando a série. Manu ainda por cima é uma cozinheira de mão cheia.

Para Silvio de Abreu, diretor responsável pela dramaturgia diária da Globo, Manuela é mais do que uma aposta da emissora:

— Ela tem um enorme talento e uma grande vocação para escrever novelas. Suas ideias são originais e modernas. Aguardo ansioso por uma sinopse de sua autoria.

Diretor de “Justiça”, José Luiz Villamarim se identifica com a autora.

— Manu acorda cedo e dorme pouco, como eu. A gente costuma se falar às sete da manhã. Ela já me ofereceu uns cinco ou seis novos projetos, tem uma capacidade de trabalho incrível.

AULA COM GARCÍA MÁRQUEZ

Filha de uma produtora teatral, Manuela começou a trabalhar como atriz aos 7 anos, num musical de Ciro Barcelos. Seguiu como atriz até os 19, quando fez a novela “Brida” (1998), na extinta Manchete. Naquele mesmo ano, escreveu sua primeira peça, “Soul 4”.

Formada em Jornalismo e Cinema, com uma pós em tradução, a autora é estudiosa de grego arcaico desde os 17 anos (“É o programa mais legal das noites de sexta”, brinca) e já teve aulas de roteiro com Gabriel García Márquez, em Cuba. No braço, carrega tatuada a frase “conhece-te a ti mesmo”, em grego.

O próximo passo?

— Depois da minissérie e da série, eu adoraria escrever uma novela.

Ouviu, Silvio de Abreu?


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