Seca já começa a prejudicar a economia do Amazonas; veja vídeo
Amazonas – Um vídeo que viralizou nesta segunda-feira (2/8) mostra uma balsa encalhada no meio do rio Juruá, completamente presa à areia. A embarcação, que tinha como destino o município de Carauari, sofreu o impacto direto da estiagem que já começa a prejudicar severamente a economia do Amazonas.
A situação recorda a grave seca de 2023, que afetou drasticamente a bacia hidrográfica amazônica e provocou prejuízos bilionários. De acordo com o engenheiro de transportes Augusto Rocha, diretor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam) e da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), a seca deste ano pode gerar impactos econômicos semelhantes, principalmente na Zona Franca de Manaus.
Impactos Econômicos e Logísticos
A seca histórica de 2023, considerada a pior dos últimos 120 anos, deixou um rastro de prejuízos estimados em R$ 1,4 bilhão para as indústrias do Polo Industrial de Manaus, principalmente devido à escassez de componentes e dificuldades no escoamento de mercadorias. Além disso, a Prefeitura de Manaus registrou uma perda de arrecadação de cerca de R$ 1 bilhão no período.
Na ocasião, o nível do rio Negro, que banha Manaus, atingiu a cota mínima de 12,7 metros, insuficiente para o atracamento de navios de grande porte. Para que as operações de transbordo sejam realizadas com segurança, é necessário que a profundidade atinja pelo menos 18 metros. Essa situação forçou empresas a adotar medidas extraordinárias, como a “taxa da seca”, que encareceu os fretes em até 50%.
Navegabilidade Comprometida e Alternativas
A baixa navegabilidade dos rios na região comprometeu gravemente a logística de transporte. Cargueiros que operavam em Manaus precisaram atracar no porto de Vila do Conde, em Barcarena (PA), onde as operações logísticas enfrentaram grandes dificuldades devido à falta de infraestrutura. Em alguns casos, balsas ficaram até 20 dias esperando para carregar, e a capacidade de transporte foi drasticamente reduzida.
Empresas como a rede de lojas e farmácias Bemol, que opera em diversos estados da Amazônia, viram seus custos de frete aumentar em 30%, com atrasos significativos nas entregas de mercadorias, principalmente via e-commerce.
Reflexos no Polo Industrial e na Zona Franca
A crise também impactou o Polo Industrial de Manaus, onde empresas como a Super Terminais precisaram interromper suas operações de transbordo por 32 dias, gerando um prejuízo estimado em R$ 40 milhões e resultando em férias coletivas para 400 funcionários.
Em meio a essa crise, o transporte aéreo se tornou uma alternativa, embora mais cara. Com a liberação de aviões cargueiros internacionais, o fluxo de componentes foi parcialmente normalizado, mas a sobrecarga do aeroporto local elevou ainda mais os custos logísticos.
Debate sobre Infraestrutura
A seca trouxe novamente à tona o debate sobre a recuperação da BR-319 (Manaus-Porto Velho), uma rodovia que poderia servir como alternativa rodoviária, mas que atualmente está intransitável na maior parte de seus 900 km. O governo federal já se manifestou a favor da pavimentação da rodovia, mas não há previsão para o início das obras.
Especialistas como Olivier Girard, da consultoria Macroinfra, alertam que os problemas logísticos enfrentados na Amazônia não são exclusivos da região, mas refletem um atraso generalizado na infraestrutura do país, afetando também outras áreas, como o Sul do Brasil.