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Ex-Pimco El-Erian vê risco de recessão prolongada no Brasil

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RIO – A aposta de Mohamed El-Erian no Brasil antes da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 foi recompensada com uma disparada nos preços dos ativos do país nos anos seguintes. Mais de uma década depois, o investidor diz que a maior economia da América Latina precisa aproveitar o momento para realizar reformas profundas.

O Brasil enfrenta sua pior recessão em um século. Um escândalo de corrupção envolvendo as maiores empresas da nação impede o Congresso de focar em medidas para estimular o crescimento. Após um tombo em 2015, o índice Bovespa e o real registram os maiores ganhos do mundo em suas categorias, enquanto os títulos soberanos do país se valorizaram mais que o dobro da média dos títulos de mercados emergentes, ao mesmo tempo em que os índices de risco de crédito recuaram com as expectativas de que a presidente Dilma Rousseff sofrerá impeachment e um novo governo assumirá o comando.

“O Brasil agora se encontra em uma situação delicada que ameaça a geração atual e as futuras”, escreveu El-Erian, conselheiro econômico chefe da Allianz SE e colunista do Bloomberg View, em e-mail em resposta a perguntas da reportagem. “Se a classe política não reagir com um conjunto abrangente de medidas, o país ficará vulnerável a uma recessão prolongada, pressões inflacionárias, pobreza pior e mais disseminada, e pressões financeiras internas e externas que aumentarão gradualmente.”

Embora os índices de confiança de consumidores e empresários tenham se recuperado recentemente, estão próximos dos menores níveis históricos, uma vez que os juros estão no maior patamar desde 2006 para conter a inflação acima da meta. Alberto Ramos, do Goldman Sachs Group, e o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman estão entre os economistas que afirmam que o Brasil precisa reformar a previdência social como parte das medidas para sanar as contas públicas.

Se as reformas necessárias acontecerem, seja no governo Dilma ou no seguinte, o real pode surpreender os analistas e se valorizar, afirmou El-Erian. De acordo com a estimativa mediana de 51 estrategistas sondados pela Bloomberg, a moeda brasileira vai perder 11 por cento até o final do ano, quando o dólar será cotado em R$ 4,15.

El-Erian, que já foi codiretor de investimentos da Pacific Investment Management Co., aumentou a posição da instituição em ativos brasileiros em 2002, quando os títulos brasileiros desabavam com a perspectiva de uma possível moratória após Lula assumir o cargo. A estratégia foi oposta à de investidores como o bilionário George Soros, mas proporcionou ao Fundo de Mercados Emergentes da Pimco o melhor ano desde sua criação em 1997, com a disparada dos títulos brasileiros após a eleição.

Em dezembro, El-Erian disse que o país passava por uma “faxina” que poderia atrapalhar o crescimento no curto prazo. De acordo com uma pesquisa do Banco Central, a economia brasileira vai encolher 3,5 por cento em 2016, após a retração de 3,8 por cento no ano passado.

“O Brasil tem um enorme potencial, absolutamente enorme”, disse El-Erian. “O que falta é o contexto político que permita implementação sustentável de políticas, juntamente com entendimento e apoio amplos.”


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