“Migalha”: Wilson Lima usa 13º para disfarçar salários atrasados de trabalhadores da saúde, diz líder de movimento no AM
Amazonas – O clima de fim de ano trouxe consigo uma manobra política do governo estadual, segundo o líder do movimento “Todos pela Saúde”, Denison Vilar. O governador Wilson Lima (União Brasil) anunciou na última segunda-feira (9) o pagamento da segunda parcela do 13º salário aos servidores estaduais, justamente no momento em que trabalhadores da saúde planejavam uma paralisação. Para Vilar, essa ação não passa de uma tentativa de “silenciar” os profissionais que há meses enfrentam salários atrasados e condições precárias de trabalho.
Em entrevista, Denison argumentou que, a cada vez que os trabalhadores da saúde se mobilizam para exigir seus direitos, o governo reage com o que ele classificou de “migalhas” – ações pontuais, como o pagamento do 13º, que não resolvem os problemas estruturais enfrentados pelos profissionais. “Em virtude de anos de luta pelos profissionais da saúde, a gente lida com as mesmas situações de maneira corriqueira. Toda vez que a gente pronuncia um movimento, anuncia-se algum ‘cala boca’, alguma migalha, algo simplório em relação às dívidas alarmantes com os trabalhadores da saúde”, afirmou.
De acordo com o líder do movimento, a situação é grave. Profissionais da saúde enfrentam salários atrasados que vão de 8 a 12 meses, e há uma série de pendências relacionadas à data-base e ao plano de carreira dos trabalhadores. “São dois, três, até quatro anos de data-base atrasada. O plano de carreira que não é cumprido desde 2009. E, no final, paga-se com um percentual muito abaixo do que deveria ser pago. Isso é uma prática corriqueira do governo”, disparou Denison.
Ainda segundo Vilar, o pagamento do 13º, embora celebrado por alguns, não resolve os problemas reais da categoria, que estão ligados ao descompasso na administração pública e à falta de um planejamento efetivo. “Não é sobre um mês, não é sobre um 13º. Sabemos que o problema está em um planejamento efetivo para honrar tudo aquilo que deve aos trabalhadores. O que queremos é um pagamento justo pelo nosso trabalho e condições dignas de trabalho”, acrescentou.
O líder também criticou a atuação do sindicato dos profissionais da saúde, que, segundo ele, não representa adequadamente os trabalhadores e tem falhado em suas negociações com o governo. “O sindicato, na maioria das vezes, nem sequer ouve os trabalhadores. Não há assembleias gerais, não há discussões reais sobre os acertos com o governo. Simplesmente acertam e impõem ao trabalhador aquilo que não é o que realmente necessita”, disse.
Denison fez questão de destacar que a luta dos trabalhadores não se resume ao fim de ano, mas à necessidade de condições de trabalho adequadas e ao pagamento de salários que estão em atraso há meses. “Não é sobre dinheiro no fim de ano, é sobre respeito e dignidade para os profissionais que estão enfrentando o caos na saúde pública”, enfatizou.
Enquanto isso, o Governo do Amazonas segue divulgando que a injeção de R$ 1,6 bilhão na economia estadual, proveniente do pagamento do 13º salário, beneficiará 121 mil servidores ativos, aposentados e pensionistas. No entanto, o movimento dos trabalhadores da saúde considera que, por trás desse pagamento, o governo está apenas tentando melhorar sua imagem, sem enfrentar os problemas estruturais da saúde pública.
Pagamento antecipado para OS em Goiás
Em um cenário em que profissionais da saúde enfrentam dificuldades financeiras, a gestão de Wilson Lima gerou ainda mais polêmica ao pagar de forma antecipada R$ 31,27 milhões para a Associação de Gestão, Inovação e Resultados em Saúde (Agir Saúde), de Goiás, após uma decisão judicial que reverteu a suspensão de contrato pela Corte de Contas do Amazonas (TCE-AM). Esse pagamento, segundo Denison, foi realizado de forma apressada para evitar novos desdobramentos judiciais, enquanto diversos profissionais da saúde continuam com salários atrasados e hospitais enfrentam um colapso.
“Enquanto se pagam milhões para organizações de fora, os profissionais que estão na linha de frente da saúde pública no Amazonas não recebem o que é devido. Os hospitais estão em colapso e nada muda para quem realmente trabalha para salvar vidas”, criticou Vilar.
Mobilização em curso
Como forma de protesto, o movimento “Todos pela Saúde” convocou os profissionais para se reunirem na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM) na próxima terça-feira (10), onde esperam demonstrar sua indignação contra o que chamam de “engenharia política” do governo, que, segundo eles, busca apenas maquiar os problemas em vez de resolvê-los de fato. “Vamos todos para a Assembleia para demonstrar nossa indignação com essa enganação”, concluiu Denison.
Com as eleições municipais já se aproximando e o fim de ano batendo à porta, o governo do Amazonas se vê em uma situação delicada, com as cobranças por melhorias no setor da saúde se intensificando. O futuro dos trabalhadores da saúde no estado, que há anos enfrentam promessas não cumpridas, continua incerto, enquanto o governo tenta administrar a crise e evitar novas manifestações.