Descaso do governo Wilson Lima: presidente do ICEAM cobra 90 dias de salários atrasados dos médicos do AM
Amazonas – A crise na saúde pública do Amazonas ganha mais um capítulo preocupante com a grave redução no número de médicos e a falta de condições adequadas de trabalho no Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto. O Instituto de Cirurgiões do Estado do Amazonas (ICEAM), que atuava há mais de 30 anos na unidade, em conjunto com o Hospital Dona Lindu, foi afastado da gestão de ortopedia após a entrada da Organização Social Agir, de Goiás, no comando do complexo hospitalar.
Marcus Assayag Coen, presidente do ICEAM, expôs a situação caótica enfrentada pelos profissionais da saúde e a falta de pagamento por parte da Secretaria de Saúde do Amazonas (SES-AM), que acumula mais de 90 dias de atraso salarial. “Desde setembro deste ano, não recebemos nossos salários. A nova empresa que a Agir escolheu para gerir o hospital não tem a menor condição de assumir a continuidade do nosso trabalho. Precisamos de uma solução urgente”, afirmou Coen, revelando que o Instituto deu um ultimato de 48 horas à Secretaria para garantir a continuidade dos serviços no 28 de Agosto e Dona Lindu.
O presidente do ICEAM ressalta ainda, que o Governo do Amazonas, sempre teve o costume de atrasar os salários dos médicos por meses, e só depois acertar, mas nunca por tanto tempo.
Confira a reportagem ao vivo:
Redução de Leitos e Profissionais
A entrada da Organização Social Agir trouxe uma drástica redução nos serviços prestados no 28 de Agosto. A unidade, que sempre foi referência em ortopedia e cirurgias no estado, agora contará com apenas quatro médicos por plantão, um terço do número de profissionais que atuava anteriormente. A transição tem sido marcada por incertezas, com relatos de atrasos nos pagamentos aos médicos e a redução na quantidade de leitos disponíveis, o que compromete ainda mais o atendimento aos pacientes, especialmente com a proximidade do período de festas, tradicionalmente movimentado nos prontos-socorros.
Profissionais da saúde têm alertado que, com a redução da equipe e dos recursos, o atendimento no hospital pode piorar consideravelmente. “Estão tentando lidar com a situação como se nada tivesse acontecido, mas a realidade é que os pacientes estão sendo prejudicados. A redução de leitos é alarmante e a população corre o risco de não encontrar atendimento adequado”, disse a coordenadora do setor de ortopedia do hospital.
Denúncias de Irregularidades
Além da redução drástica no número de médicos, a nova gestão também enfrenta denúncias graves. Segundo informações de médicos do hospital, profissionais contratados pela Agir estariam atuando sem a devida autorização do Conselho Regional de Medicina (CRM-AM). “Na última noite, tivemos a surpresa de ver dez pacientes sendo liberados com altas médicas, sendo que os médicos responsáveis nem possuíam autorização provisória para atuar no estado. Isso é um risco inaceitável para a saúde pública”, relatou a coordenadora da ortopedia.
R$ 31 milhões adiantados, mas sem resultados
A Agir, responsável pela gestão do 28 de Agosto e do Instituto da Mulher Dona Lindu, já recebeu um adiantamento de R$ 31 milhões, mas a situação segue caótica, com atrasos no pagamento dos profissionais e uma gestão questionada. Empresas locais que prestavam serviços médicos foram excluídas do processo de contratação, e o trabalho da Agir já enfrenta críticas pela falta de estrutura e planejamento.
O deputado estadual Wilker Barreto (Mobiliza) também se pronunciou sobre o caso, questionando a decisão do governo de Wilson Lima de entregar a gestão de hospitais tão importantes para uma organização social de fora do estado. “Estamos entregando nossas vidas a quem nem conhece a realidade da nossa saúde. Esse modelo já se mostrou falho em outros estados, e aqui no Amazonas não será diferente. O povo está sendo prejudicado com essa escolha”, disse o deputado.
A população do Amazonas, que já enfrenta dificuldades com o sistema de saúde, agora se vê à mercê de uma gestão com cada vez mais incertezas. O Hospital 28 de Agosto, que sempre foi uma referência de atendimento médico no estado, corre o risco de perder essa condição se a crise não for resolvida com urgência.