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Pirâmide Digital: dinheiro era lavado com carros de luxo na Ponta Negra e Parque das Laranjeiras

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Grupo de pirâmide de criptomoedas lavava dinheiro com carros de luxo guardados na Ponta Negra e Parque das Laranjeiras

Manaus –  Condomínios de luxo na Ponta Negra e no Parque das Laranjeiras e uma loja no Parque das Laranjeiras tiveram carros de Luxo apreendidos pela Polícia Civil que rastreou esquema de um grupo criminoso envolvido em falsa venda de criptomoedas e esquema de pirâmides.

Segundo  Denis Pinho, o delegado da Especializada em Roubos e Furtos de Veículos, o grupo com grandes posses usava uma empresa de investimentos em Bitcoins para roubar milhões de investidores, prometendo lucros de 10% ao mês em aplicações e causando prejuízos milionários a investidores.

Calcula-se que o golpe tenha gerado um lucro criminoso para o grupo de valor  entre R$ 50 a R$ 100 milhões.

“Eles se passavam como investidores de criptomoeda, inclusive eles utilizavam a Blockchain, uma rede segura dentro da criptomoeda que eles transitam os dados. Então eles usavam empresas que investem em criptomoeda, eles pegavam esse dinheiro das vítimas, tem gente que investiu R$ 2 milhões, R$ 5 milhões com a promessa de lucrar 10% ao mês. Aí eles pagavam 2, 3 meses essas pessoas e com isso ia alimentando essa pirâmide e no final deixava essas pessoas no prejuízo”, explicou o delegado.

A operação ocorre simultaneamente em Brasília, São Paulo onde foram apreendidos dois veículos de luxo: uma Ferrari Spider e uma Mac Laren, avaliadas em R$ 5 milhões.

Hoje, 8 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Manaus sendo: 1 em um condômino na Ponta Negra onde ficava a sede da empresa, 1 mandado em um condomínio no Parque das Laranjeiras, 1 em uma loja de veículo importado no Parque das Laranjeiras e 1 mandado na casa do próprio dessa loja de veículo. Na residência ele, a polícia apreendeu três veículos de luxo: um Troller, um Mini Cooper e uma BMW, além de dólar, euro, peso mexicano, dólar canadense e reais.

Semelhanças com Operação Federal

A Polícia Federal (PF) e a Receita Federal  trabalharam nos últimos meses na então conhecida Operação Kryptos, contra um esquema falso que usava a imagem dos bitcoins para atrair investidores a uma pirâmide, sediado em Cabo Frio, que movimentou R$ 38 bilhões.

Origem

No sobrado de dois quartos alugado a R$ 900 em uma rua estreita e de paralelepípedo do bairro simples de Jardim Olinda, em Cabo Frio, na Região dos Lagos, Glaidson Acácio dos Santos começou a projetar seu palácio em 2014. Então maître de um resort com 84 suítes na vizinha Búzios, onde recebia R$ 800 para trabalhar de 15h às 23h20, ele foi orientado pela mulher, a venezuelana Mirelis Yoseline Dias Zerpa, a iniciar a carreira como investidor e consultor de moedas virtuais, as chamadas criptomoedas.

No tempo livre, com uma pasta de plástico embaixo do braço, ia no seu carro popular em busca de clientes — uma das primeiras foi justamente a proprietária do imóvel onde morava, que lhe confiou as economia e recebia mensalmente em sua conta-corrente 10% da rentabilidade do valor aportado.

De acordo com as investigações das polícias Civil e Federal, desde então, o negócio do casal passou a atrair milhares de outros brasileiros, sobretudo da cidade natal de Glaidson, num esquema clandestino de pirâmide financeira que deu a ele o apelido de “faraó dos bitcoins” e o fez movimentar R$ 38 bilhões nos últimos seis anos.

A partir dele, pelo menos 30 outras empresas do ramo surgiram em Cabo Frio, que passou a ser conhecida como “Novo Egito”. Com a prisão do ex-garçom, em agosto, muitas delas quebraram, e, pelo menos, dez são alvos de inquéritos abertos a partir de mais de 200 registros de vítimas de crime contra a economia popular e estelionato.

— Orientamos as pessoas a fazerem petições com o mínimo de material comprobatório de que foram lesadas, como contratos ou, quando não houver, prints dos aplicativos das empresas que demonstrem as transações financeiras. Até agora, temos recebido cerca de cinco vítimas por dia no último mês. Iremos compilar separadamente os casos por empresas e tentar localizar os responsáveis para que prestem seus esclarecimentos na delegacia — explica o delegado Carlos Eduardo Pereira Almeida, titular da 126ª DP (Cabo Frio).

Se a ascensão de Glaidson levou a reboque muitos dos seus vizinhos, que contrataram a GAS Consultoria para aplicar valores que estavam na poupança, venderam motos, carros e casas e até contraíram empréstimos em instituições financeiras para investir, os bloqueios judiciais decorrentes da Operação Kryptos também fizeram com que os pagamentos de seus rendimentos fossem suspensos.

Os clientes passaram a amargar prejuízos e a conviver com a queda do padrão de vida que adquiriram nos últimos anos.

Dono de um loja de carros há 20 anos na cidade, Leandro Rodrigues Diogo, de 41 anos, sente que a economia da cidade foi afetada:

— O dinheiro parou de circular em Cabo Frio. A cidade, que já teve a economia brutalmente prejudicada por causa da pandemia, está travada por causa dos atrasos dos repasses e da quebra de outras empresas do setor. Nunca tinha vendido menos de 10, 15 carros por mês, mas, em outubro, só fechei um negócio: justamente de uma pessoa que não conseguiu continuar pagando as parcelas do financiamento de R$ 1.200 porque parou de receber o pagamento do valor investido na GAS — explica Leandro.

Cliente foi de comprador a endividado

Amigo de Leandro, um despachante de 24 anos, além de investir mais de R$ 104 mil em quatro contratos com a GAS, também aplicou R$ 23 mil na Black Warrior (BW), que encerrou as atividades e também está sendo investigada pela Polícia Civil.

— Preciso dar o braço a torcer que tive o famoso olho grande. Estava recebendo direitinho os 10% da empresa do Glaidson todo mês, mas veio o consultor da BW, me prometeu 30% e eu resolvi arriscar. Depois do carnaval, coloquei lá todo o dinheiro que tinha na minha poupança. Em uns três meses, recuperei todo o valor, então não tive prejuízo algum, mas sei que poderia ter me ferrado — diz.

Morador de Jardim Esperança, um técnico em manutenção de 39 anos também teve prejuízos após investir em uma empresa que prometia faturamento acima dos 20%.

A Eagle Eyes foi aberta em maio deste ano pelo pastor Jonas Gomes da Silva, que também responde pelo CNPJ da Igreja Apostólica Ministério Renascer em Silva, situada no mesmo bairro:

— Comprei uma casa por R$ 80 mil. Faltando R$ 5 mil para quitar, eu me planejei para fazer um empréstimo e pagar as parcelas restantes, mas deu tudo errado. Em junho, eu não recebi mais nada, fiquei no vermelho, meu nome foi sujo e eu perdi meu imóvel. Hoje, tenho esse dinheiro como perdido, não vejo como ele voltar para minha posse. Na época, chegamos a fazer um documento em cartório, mas depois soube que não valia de nada — lamenta.

Diarista aplicou R$ 5 mil

Leonardo passou a investir na empresa de Glaidson em 2018, aconselhado por um amigo. Desde então, levou outros 11 parentes, entre eles a mulher, os pais e os sogros, e até a faxineira da família, que fez um aporte de R$ 5 mil. Nesse período, acumulou 11 contratos com a GAS Consultoria e, a partir dos rendimentos, se comprometeu com despesas altas, como os boletos da faculdade de Medicina do filho mais velho, que custa quase R$ 10 mil:

— Tudo que eu precisava pagar, eu fazia por meio dos rendimentos com a GAS. Se queria comprar um Iphone de R$ 10 mil, eu aplicava esse valor e, com R$ 1 mil que recebia todo mês, ia pagando as prestações da loja. Agora, depois dos bloqueios, vivemos apreensivos e na esperança de que os pagamentos dos clientes sejam liberados. Se isso não acontecer, não sei o que vamos fazer da nossa vida nos próximos meses. Todo meu dinheiro está com eles, sempre recebi antes da data estipulada e nunca imaginei que fosse passar por isso.

Glaidson, que é réu, ao lado de outros 16 comparsas, por crimes contra o sistema financeiro nacional, foi indiciado por tentativa de homicídio contra Nilson Alves da Silva, que também atua no ramo de investimentos com criptomoedas.

Com auxílio de informações via Extra


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