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Desaparecimento de 28 mineiros vira debate político na Venezuela

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CARACAS — Enquanto o paradeiro dos 28 mineiros venezuelanos desaparecidos no último fim de semana permanece desconhecido, autoridades do país intensificam as operações de busca no estado de Bolívar com mais de mil militares enviados ao local nesta terça-feira. Na Assembleia Nacional, parlamentares deverão decidir sobre a criação de uma comissão especial para o caso que toma conta da Venezuela nos últimos dias. Moradores locais dizem que as vítimas teriam sido mortas — e, em seguida, seus corpos teriam sido cortados para facilitar o transporte a uma mina na cidade de Tumeremo.

Nesta terça-feira, a região recebeu o defensor público Tarek William Saab para apoiar as investigações em campo. Enquanto isso, o deputado Américo de Grazia, que representa a região, ressaltou a responsabilidade do Parlamento em impulsionar a investigação do caso.

— Queremos que a Assembleia Nacional sirva de plataforma para que organizações nacionais e internacionais nos ajuder a esclarecer esta situações como atores de boa fé — disse de Grazia à imprensa local.

Em sua conta no Twitter, de Grazia chegou a publicar uma lista com os nomes de 17 dos 28 desaparecidos e comparou a história ao caso dos 43 estudantes desaparecidos no México em 2014. O parlamentar da Mesa de Unidade Democrática (MUD) tem feito duras críticas ao governador de Bolívar, Francisco Rangel Gómez, que ainda não se dirigiu a Tumeremo.

O episódio teria acontecido na região de Tumeremo, intensamente afetada pela violência de grupos armados do nordeste venezuelano. No último sábado, as famílias dos 28 mineiros fecharam as principais vias da cidade em um protesto pelos desaparecidos. Com medo de represálias, os parentes não se identificaram, mas têm trabalhado em uma intensa campanha para provar à imprensa local que este é um caso de assassinato em massa.

Muitas pessoas da população local acreditam que o grupo armado — chefiado por um criminoso conhecido pelo nome “El Topo” — pretendia ocupar o valioso depósito de ouro que havia sido descoberto horas antes. No entanto, representantes do governo local contrariaram a versão dos fatos levantada por familiares, embora reconheçam a gravidade da situação.

A história dos mineiros desaparecidos tem levantado um debate sobre a segurança em áreas de mineração na Venezuela poucos dias após o governo do país ter anunciado um novo plano para impulsionar a exploração de ouro, cobre, ferro, diamantes e outros minerais no sul do país. Por isso, muitos acusam deputados oposicionistas — como De Grazia — de utilizar o caso como estratégia de interesse político-partidário contra a nova estratégia econômica do presidente Nicolás Maduro. O parlamentar, no entanto, nega as acusações de conspiração:

— Estamos conspirando contra a mentira e o massacre para que haja ordenamento territorial e a mineração seja legalizada e tenha espaços de harmonia com o ambiente. Para que as minas não sejam controladas por ninguém senão os mieiros e as empresas que vêm para investir.

A extração de ouro por comerciantes é a principal atividade da região, uma atividade que também atrai a brasileiros e guianenses. As minas da região são dominadas por associações criminosas — fato reconhecido pelas forças políticas locais, que são frequentemente acusadas de serem condescendentes aos grupos armados. Embora os conflitos pelo controle da riqueza local sejam frequentes, esta é a primeira vez em que se levanta a possibilidade de desaparecimento massivo.


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