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Assassinatos de mulheres seguem sem solução no DF

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As histórias de Jéssica Leite, Katyane Campos, Isabel Leal e Waldomira Salles se cruzam de forma trágica. Todas elas, mulheres de 20 a 60 anos, foram assassinadas por criminosos ainda à solta. Passados seis, cinco e quatro meses, os casos seguem sem solução. A polícia informa apenas que as investigações continuam de forma sigilosa e que há suspeitos identificados. Para familiares e amigos, no entanto, falta resposta para a angústia e sobra o sentimento de impunidade.

 
Arquivo pessoal/Divulgação

A mais nova das vítimas é Jéssica. A estudante de jornalismo morreu na tarde de 14 de junho, com uma facada no peito e a poucos metros da casa onde morava com o irmão e a mãe, em Taguatinga. O crime aconteceu na praça da EQNL 21/23, e Jéssica teve o celular roubado. Testemunhas, parentes e amigos da jovem prestaram depoimento na 17ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte). Segundo a polícia, o caso encontra-se na fase da construção do pedido de medidas cautelares à Justiça.

 
Desde que perdeu a filha, Mônica Leite dos Santos César, 45 anos, emagreceu 10kg. Sem apoio psicológico, o irmão de 15 reprovou o 1º ano do ensino médio. A dor da perda havia atingido a família em 2003. Jéssica, então com 7 anos, e o irmão, com 2, enfrentaram a morte do pai. Treze anos depois, Mônica e o filho tiveram de encontrar forças para enterrar a universitária. “A polícia nunca ligou para dar notícias. Desde que o caso aconteceu, trocaram delegados e agentes da unidade. Não sei nem mais quem está à frente das investigações. Não tenho nenhuma resposta, nada. É um descaso do governo, da polícia e da Justiça”, desabafa Mônica.
 
A casa onde a família mora, perto de onde o assassinato aconteceu, está à venda. A contadora quer se mudar dali e cogita deixar o Distrito Federal. “Além de os bandidos estarem na rua, eu perdi a minha filha e somos nós quem estamos sofrendo sem a alegria dela aqui. A minha vida e a do meu filho acabaram. Ninguém liga. Não aguento mais. Continuo nesse sofrimento”, lamenta.
 
No dia do homicídio, a polícia apreendeu a mochila da jovem. Nela, havia porções de maconha, microsselos de LSD, uma balança de precisão e um aparelho para triturar a droga. No entanto, à época, a família disse que a bolsa tinha sido retirada do local do crime por uma testemunha que tentou encontrar a família de Jéssica. A pessoa foi até a casa dela, mas, pelo horário, não achou ninguém. Por causa disso, as coisas ficaram com uma vizinha. “A minha filha foi assaltada e, com certeza, ela reagiu e a mataram, como está acontecendo em vários lugares com jovens”, queixa-se.

Sem solução

Arquivo pessoal/Divulgação

Outra investigação de assassinato que segue sem solução é a de Katyane. Aos 26 anos, ela foi encontrada morta em 27 de agosto no acesso de emergência da Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. O corpo estava parcialmente carbonizado e apresentava sinais de estrangulamento. Havia, ainda, suspeita de estupro. Dias depois, amigos fizeram uma manifestação na Rodoviária do Plano Piloto e, com cartazes e gritos de ordem, pediram justiça e proteção às mulheres.

 
A trajetória de Katyane a obrigou, desde cedo, a buscar independência. A mãe é alcoólatra e tem outros cinco filhos. A família está dividida entre Recanto das Emas e Jardim Ingá (GO). Mas, à época do crime, o Correio apurou que ela viveu em duas casas de Santa Maria. Uma delas é a da professora Ecy Oliveira, 59, que, em 1988, deu aula para Katyane. A proximidade criou afinidade entre as duas. A jovem passou a chamá-la de tia. “Eu fui tudo para ela. A única pessoa que existiu na vida dessa menina fui eu e as amigas dela. Fui família, amiga, mãe, mas, infelizmente, não pude ajudá-la mais, porque ela sumia”, revela.
 
Ecy explicou que o policial à frente das investigações se aposentou e outro agente que esteve na casa dela no dia em que o corpo foi encontrado conduz mais dois casos. Em 20 de dezembro, a professora conversou com ele, mas conseguiu poucas respostas. “Dizem que o caso está sob sigilo, e a linha de investigação está sendo feita. Parece que aguardam os resultados dos exames. Falaram que estão tentando fechar a apuração”, relata. “Quero acreditar que a polícia está fazendo investigação, mas sem velocidade. Enquanto isso, é mais um caso que está aí sem solução”, reclama.

Foragido

Polícia Civil/Divulgação

Apesar de suspeitar quem matou a médica patologista da Secretaria de Saúde encontrada amarrada e amordaçada no banheiro de casa, em Sobradinho 2, a polícia ainda não o prendeu. O ex-caseiro da vítima é o principal acusado do crime. Rafael Silva de Jesus, 25, trabalhou na residência de Isabel Irene Rama Leal, 61, por 14 dias. Ela o dispensou uma semana antes do crime. Três dias depois, ele teria voltado para se vingar da demissão, segundo a polícia. À época, investigadores da 35ª DP (Sobradinho 2) acreditaram que o homicídio havia sido premeditado.

 
Além do assassinato da médica, Rafael responde por dois assassinatos na cidade mineira de Pirapora — um em 27 de março de 2015 e o outro em 13 de fevereiro de 2012. Também é acusado de praticar um roubo em 27 de junho de 2011. Ele morava em Brasília havia seis meses. O então novo caseiro encontrou o corpo da vítima quando, ao chegar para trabalhar, estranhou a patroa não atender o interfone. Ele acionou o Corpo de Bombeiros, que encontrou Isabel morta.
 
Amiga da vítima desde 1973, nos tempos da faculdade, no Rio de Janeiro, a médica Ana Lúcia Ramos, 62, ajudou na doação dos animais de estimação da vítima. A patologista resgatava bichos na rua e cuidava deles. Eram 40 gatos e 10 cães. Mas, para Ana Lúcia, a demora na prisão do suspeito representa perigo. “O crime está elucidado, e essa situação demonstra uma omissão do Estado. Onde quer que este homem esteja, ele precisa ser afastado do convívio da sociedade, porque coloca em risco a vida das pessoas”, destaca. A Divisão de Comunicação da Polícia Civil (Divicom) informou que o suspeito segue foragido.

Discussão

Outro caso que continua sem a prisão do acusado é o de Waldomira Salles, 37. O companheiro dela é a principal pista da polícia, pois não há sinais de arrombamento na casa, local do crime. Ele sumiu com a filha do casal de 3 anos. O crime foi descoberto em 21 de julho, quando duas filhas da vítima, de um relacionamento anterior, voltaram para casa e encontraram a porta trancada. Elas olharam pela janela e viram o corpo da mãe no banheiro.
 

O casal morava no Vale do Amanhecer, em Planaltina. Waldomira morreu após uma discussão. O motivo da briga teria sido a guarda da filha. A Divicom esclareceu que a 16ª DP (Planaltina) encaminhou o inquérito para o Fórum da cidade em 26 de setembro, mas confirmou que o autor do crime continua foragido.

 
Matéria do Correio Brasiliense


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