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Teatro Rival abre as portas com fôlego renovado

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RIO – O Teatro Rival Petrobras se prepara para abrir as portas. Mas não se trata apenas do significado prático do termo, já que a reinauguração se aproxima, marcada para o dia 16 com um show (guardado ainda em segredo) para o grande público após três meses fechado para obras. A expressão traduz a nova roupagem dessa casa camaleônica, aberta em 1934 na Cinelândia.

Sob nova direção, o endereço-patrimônio do Rio vai continuar com o tino musical, colocando no palco grandes nomes e novos talentos, mas amplia, agora, o acesso à sua programação. O teatro abrirá para almoço durante a semana. E happy hours, de segunda à sexta-feira, terão entrada gratuita e atrações variadas — somando-se ao pé-limpo recém-aberto, o Rivalzinho, que vem embalando um pós-expediente ao ar livre desde final de fevereiro.

À frente da grade artística estão a atriz Leandra Leal, terceira geração da família a tocar o negócio, e seu marido, o produtor cultural Alê Yousseff. A gastronomia entra como ingrediente de peso, pelas mãos da novas sócias: Kátia Barbosa, rainha do bolinho de feijoada, e sua filha Bianca. O time se completa com Pedro Henrique Trajano, sócio administrativo e vizinho “da vida” de Leandra.

— O Rival vai continuar com o seu legado, com a sua tradição, mas de uma forma mais contemporânea. Queremos que ele seja um centro de referência da cultura carioca — aposta Leandra. — A rua é uma tradição do Rio. O carioca gosta de ocupar a rua. O projeto é uma leitura do momento mesmo, democratizar o acesso à cultura.

Leandra recebeu o bastão para tocar o teatro de sua mãe, a também atriz Ângela Leal, que, por sua vez, assumiu o legado de seu pai, Américo Leal. A nova fase não deixa de ser, portanto, mais um capítulo na sua história com o teatro. Ela estreou naquele palco quando tinha 1 mês de idade. A mãe ainda em amamentação foi substituir uma atriz às pressas e a levou junto. No final do espetáculo, ela deixou as coxias vestida de “bebê-vedete”.

— Não tenho a primeira lembrança do Rival. É como tentar recuperar a primeira lembrança da casa dos pais. É um lugar que sempre existiu na memória — define.

Na adolescência, organizou uma feira junto com o grêmio estudantil que levou atrações musicais ao teatro. Mais tarde, em 2010, assumiu a programação de segundas e terças, dedicando-se a divulgar nomes da música contemporânea. Agora, será curadora, ao lado do marido, da grade completa. Às terças, haverá programação eclética, com shows de talentos, apresentações de travestis (tradição da casa desde os anos 1960, com shows como os das Divinas Divas) e peças inspiradas no chamado teatro de revista (inclusive com participação de Leandra). As quartas serão dedicadas à música instrumental, quintas aos novos nomes e sextas às rodas de samba com Pretinho da Serrinha. Sábados e domingos, como prega a trajetória do palco, são dias de grandes shows.

— É um desafio de resistência cultural. No momento em que todo mundo está fechando, é preciso se reinventar, porque não é só o negócio que corre risco, mas toda a cena atrelada a ele. — aponta Alê Youssef, ex-Studio SP e RJ. — Trouxemos a boemia para esse projeto, dentro e fora do teatro. Não existe revitalização de cima para baixo. É preciso ter negócios. Isso traz as pessoas para ruas, bares, teatros.

A boemia regressa aliada à boa comida. Além dos quitutes do Rivalzinho, Kátia Barbosa vai servir seus clássicos nos almoços, como bobó de camarão e baião de dois. O cardápio também terá opções saudáveis (“para homenagear Leandra, que está sempre numa pegada mais leve”, diz a chef). E os pratos executivos ainda renderão homenagens semanais a clássicos dos anos 1930, como a sopa Leão Velloso (de frutos do mar), filé Wellington (revestido em patê e massa folhada) e frango a Kiev (empanado e recheado com manteiga).

A cozinha sofrerá pequenas invasões. Na última sexta, o Bar da Frente serviu “coxinhas e petralhas” (um croquete de mortadela) no Rivalzinho. No Rival, o chef Alex Atala já sinalizou que quer desembarcar com sua galinhada. Elia Schramm, do Laguiole, Onildo Rocha, do Roccia, e Claude Troigros também já toparam, todos compadres de Kátia.

— Eu meio que pirei nesse projeto. Quando cheguei, fiquei com vontade de fazer um cardápio só de pratos que já não existem mais. O Rival já tem muita história para contar, por si só. Fui buscar o que era servido na época do avô da Leandra para prestar homenagem e falar da cultura carioca — conta Kátia. — O grande barato é que as pessoas vão almoçar dentro de um teatro.

O espaço está sendo redecorado pelo diretor de arte de cinema e TV Moa Batsow, que buscou resgatar o estilo art decó. A escada, por exemplo, será restaurada, ganhando espelhos e pintura. Mas a iluminação é quem ditará o clima do ambiente, agora multiuso com almoços, happy hours e shows.

— A ideia foi resgatar a arquitetura do espaço e fazer as adaptações necessárias. Fizemos um garimpo em antiquários para achar luminárias, mas usamos lâmpadas de LED, por exemplo. Não quisemos esconder que é um teatro — afirma a arquiteta Denise Godinho.

Para Leandra, a nova fase deixa latente o legado do Rival, mas de uma forma mais contemporânea:

— Todo projeto cultural que se propõe a ser duradouro contém em si a transformação. É preciso fazer uma leitura não só do que está sendo produzido artisticamente, mas também da necessidade do público.


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