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Secretária contra aborto diz que é preciso respeitar posições diferentes

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BRASÍLIA – A nova Secretária de Políticas para Mulheres, Fátima Pelaes, que foi deputada federal por cinco mandatos e desde 2011 preside o PMDB Mulher, tem um perfil diferente das antecessoras que ocuparam o cargo nos treze anos de governos do PT. Religiosa – é evangélica – e com uma posição menos liberal sobre assuntos polêmicos como o aborto – que é contrária até mesmo no caso de estupro -, Pelaes afirmou em entrevista ao GLOBO que é preciso respeitar posições diferentes. Em nota divulgada nesta quarta-feira, ela disse que a vítima de estupro “que optar pela interrupção da gravidez, deve ter total apoio do Estado”, direto que hoje já garantido por lei.

Fátima Pelaes afirma que seu posicionamento sobre a descriminalização do aborto “não vai afetar o debate de qualquer questão” frente à secretaria,

— Quando se respeita a posição do outro é mais fácil o convívio dos contrários. Não somos obrigados a pensar igual ao outro, mas obrigados a viver bem e nos respeitarmos. E ver no que podemos nos unir — disse Fátima Pelaes, na sua primeira entrevista como secretária da Mulher.

Pelaes disse ainda que o aborto é uma questão de saúde pública e fez uma crítica ao governo de Dilma Rousseff.

— Aborto é uma questão de saúde pública. Não vamos perder esse foco. Sou muito consciente. Até bom que você tem equilíbrio. Aprovei leis no Congresso. Eu penso isso (contra o aborto). Acabamos de ter uma presidente que acabou de sair e pensava diferente e não avançou porque a maioria da população não pensa assim.

Com sua indicação criticada por movimentos de mulheres, Fátima Pelaes diz que os 25 anos que passou na Câmara a credenciam para assumir a secretaria.

— Essa minha luta hão é de hoje. Cheguei ao Parlamento lutando pela igualdade. A questão da mulher está acima de questões partidárias.

Mesmo com as críticas à gestão petista, Pelaes cita iniciativas que deve dar continuidade como o disque 180, de denúncias de violência contra mulher, e a Casa da Mulher Brasileira, um espaço de atendimento amplo a mulheres vulneráveis. A secretária comentou o episódio de uma jovem que teria sido violentada sexualmente no Rio.

— Uma barbárie. Uma jovem ser usada e depois jogada. Há uma indignação da sociedade. É preciso fazer um trabalho nas escolas. O bom dessa pasta é que faz uma articulação transversal, uma interlocução com outras políticas públicas.

E elogiou o presidente interino Michel Temer.

— É um presidente que tem sensibilidade a esse tema da mulher. Criou a Delegacia da Mulher quando foi secretário de Segurança em São Paulo. Como presidente da Câmara criou a Procuradoria da Mulher. E faz a diferença uma pessoa no comando com esse olhar.

Fátima Pelaes comentou a sessão de uma comissão da Câmara, em 2010, quando revelou que sua mãe, que estava presa, foi vítima de um estupro, que a engravidou. A secretária nasceu dessa gestação. E nunca conheceu seu pai.

— É uma história de vida que nunca usei, até então. A discussão do momento me levou a isso. Um deputado relatou oito casos de mulheres que fizeram aborto. Reagi. Minha mãe me deu condição para viver e vencer. Não uso isso em respeito a minha família.

Pelaes é formada em sociologia pela Universidade Federal do Pará. Como deputada, foi autora do projeto que garante amamentação a mães presidiárias e que prevê licença maternidade ás mães adotivas.

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