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Morre médico que dá nome ao Hospital Universitário da UFRJ

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RIO – Numa homenagem na Faculdade de Medicina da UFRJ, em 2007, o professor emérito Clementino Fraga Filho dizia, com a característica voz tranquila, que tudo que fez “foi manter o esforço, a vontade, a dedicação e o estudo”. Que tenha sido isso. Mas o que ele concebeu ao longo da vida produziu uma lista de legados e feitos muito mais extensa. Médico que dá nome ao Hospital Universitário do Fundão, ele foi um dos principais responsáveis pela construção da unidade, referência no tratamento de várias doenças de alta complexidade. E, de 1978 a 1985, foi o primeiro diretor geral do hospital.

Uma história de estreita ligação com a medicina que veio de berço. Baiano de Salvador, onde nasceu em 11 de agosto de 1917, Clementino Fraga Filho chegou ao Rio ainda criança, aos 4 anos, após seu pai, também médico e professor universitário, ter sido eleito deputado federal. Seguindo os passos do pai, ele ingressou na Faculdade de Medicina da então Universidade do Brasil (mais tarde UFRJ) em 1934. E começou ali uma relação de décadas com a instituição.

Já no começo dos anos 1940, foi nomeado assistente de clínica médica na Faculdade. Estudioso voraz, pouco tempo depois, aos 27 anos, conseguiria o título de livre-docente e, aos 38, o de cátedra. Nos anos seguintes, publicou mais de 450 trabalhos, chefiou o serviço de clínica médica do Hospital da Santa da Casa de Misericórdia, foi diretor do Instituto de Nutrição da Universidade do Brasil e tornou-se membro titular da Academia Nacional de Medicina. No magistério, ajudou a formar gerações de profissionais de saúde.

— Uma vez fui a um médico que me disse: “Seu pai não me ensinou Medicina. Ele me ensinou a pensar Medicina”. Isso representa o quão médico ele foi e como meu pai interpretava a missão dele. Era muito humano e generoso — diz Clementino Fraga Neto, o filho mais velho do professor.

Antes de assumir o hospital do Fundão, Clementino Fraga Filho ainda foi eleito, em 1966, vice-reitor da UFRJ e, dias depois, tornou-se reitor, após o afastamento de Raymundo Moniz de Aragão, nomeado Ministro de Educação e Cultura. Em plenos anos de chumbo, teve sua gestão marcada pela manutenção do diálogo com os estudantes. Chegou a estar ameaçado de cassação e, em 1969, decidiu continuar as atividades no magistério e na clínica médica.

Também na mesma década, ele encabeçou um grupo para instituir o Hospital Universitário. “O assunto mais importante era a projeção inicial do número de leitos. Logo se concluiu pelo exagero”, escreveu ele num livro sobre a unidade, referindo-se ao gigantismo do hospital, que durante décadas teve uma “perna seca”, como era chamada uma ala desocupada do prédio no Fundão, demolida em 2010.

Já em 1974, Clementino Fraga Filho foi nomeado diretor da Faculdade de Medicina da UFRJ e designado como presidente da comissão de implantação do Hospital Universitário. Mas só em 1978, após várias paralisações devido a trocas de governo e falta de recursos, o hospital foi inaugurado.

Depois de anos à frente da unidade, Clementino voltou para a Santa Casa. Nesse período, participou de comissões no MEC e no Conselho Federal de Educação para reformular o ensino médico. E trabalhou até perto dos 90 anos. Mas, acometido pelo mal de Parkinson, começou a ter a saúde física e neurológica afetadas. Daqui a três meses, ele completaria 99 anos de idade. Mas morreu nesta quarta-feira, em casa, de forma suave, como diz seu filho Fraga Neto, como uma “vela apagando”, deixando três filhos, cinco netos e quatro bisnetos.


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