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Família sepulta jovem morta em arrastão no dia em que suspeitos são detidos

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RIO – O Dia das Mães foi de luto. Em silêncio, quebrado apenas pelo choro de quem acompanhava o cortejo, o corpo de Ana Beatriz Frade, de 17 anos, foi sepultado ontem. Roberta Pereira, mãe da menina sonhadora, que queria ser médica, carregava no rosto as marcas da dor e nas mãos, rosas brancas para se despedir da filha, no Cemitério de Petrópolis. A adolescente morreu durante um arrastão, no sábado de manhã, num dos acessos à Linha Amarela, em Del Castilho. Ela, que morava há três anos com os avós em Guarapari, no Espírito Santo, tinha acabado de desembarcar no Rio e seguia para o Aeroporto do Galeão para surpreender Roberta, que estava chegando à cidade de uma viagem e não sabia que veria a filha na data especial. Tudo que aconteceu após uma bala tirar a vida de Ana Beatriz, atingida na cabeça dentro do carro em que estava com o padrasto e o irmão, ainda um bebê, foi tão tão chocante, tão incompatível com a surpresa amorosa planejada pela estudante, que emudeceu a todos. O adeus à jovem foi pálido, como um filme triste e sem som.

Em choque desde o assassinato, o padrasto — que, segundo a polícia, tentou fugir do bloqueio dos criminosos ou não percebeu o assalto — estacou do lado de fora do cemitério. Roberta foi buscá-lo e, durante todo o tempo, choraram juntos. Já o pai da vítima, Flávio Frade, que mora em Petrópolis, ficou agarrado a um porta-retrato da filha. A mãe levava outra foto, com Ana Beatriz mais menina. Os dois rezaram juntos à beira do caixão. Amiga da família, Claudia Regina Moraes Filgueira contou que conhecia a adolescente desde os 3 anos de idade:

— Ela sempre foi uma menina linda, doce e simpática É muito sofrimento. A mãe está em desespero; o pai, inconsolável. A gente sabe que Dia das Mães é todo dia, mas perder um filho nesta data é muito triste. A Roberta está em estado de choque. E também é triste demais para o Flávio, que perdeu a sua filha única.

Sensibilizadas pela história, muitas pessoas que não conheciam Ana Beatriz foram para o cemitério. A comerciante Luciane Vogel criticou os governos.

— Esses nossos políticos ordinários têm que fazer alguma coisa contra a violência. Sou de Petrópolis e, como vim aqui perto comprar flores para minha mãe, vou levar uma rosa para colocar ao lado do caixão dela (Ana Beatriz). Tenho um filho, que é engenheiro e mora no Rio, e fico com o coração na mão por saber que ele está lá, no meio do fogo cruzado. Essas Olimpíadas só serviram para acabar com a saúde e a segurança do estado. E o pior é que nem estão fazendo obras de qualidade — reclamou.

PM ajuda a identificar acusados

Enquanto isso, no Rio, três mães recebiam a notícia de que os filhos eram suspeitos do crime. A policial militar que teve o carro roubado no arrastão reconheceu o acusado de ser o autor do disparo que matou Ana Beatriz. Douglas Paiva Santos Ventura da Silva, de 18 anos, foi preso na manhã de ontem e levado para a 44ª DP (Inhaúma). Segundo o delegado Roberto Ramos, ele foi detido na comunidade Fernão Cardim, em Pilares, junto com dois menores de 17 anos que também participaram do arrastão. Os três foram identificados com a ajuda da PM. Nenhum deles tinha passagem pela polícia.

De acordo com o delegado, os dois adolescentes apreendidos admitiram participação no assalto e apontaram Douglas como autor do disparo, acusação que ele nega. Investigadores descobriram que integrantes do grupo, ao saberem da morte da jovem, trocaram mensagens por celular, preocupados com a perseguição policial e com uma possível prisão.

— Pegamos o celular de um dos detidos (e havia uma troca de mensagens) com um suspeito que está foragido, dizendo que a “Civil é osso”. Dizia ainda que a Polícia Civil estava investigando o caso e que seria melhor deixar a comunidade — contou o delegado.

Nas mensagens, um dos suspeitos diz: “A mulher morreu. Saiu no jornal. Na net. (…) Se estiver em casa, mano, ganha a pista”.

Polícia procura um quarto suspeito

Os adolescentes contaram, em depoimento, que o assalto de sábado não foi o primeiro praticado por eles. Um quarto suspeito ainda estaria foragido.

Na delegacia, a mãe de um dos adolescentes esperava para tentar falar com o filho. Ela acabara de sair da igreja quando sua irmã ligou, avisando que policiais tinham arrombado o portão de sua casa e levado o filho detido. O dia seria diferente do que imaginara, pois se preparava para um almoço de Dia das Mães na casa da avó, também na Fernão Cardim.

— É um desespero passar o Dia das Mães aqui. Meu filho trabalha, estuda. Está terminando o ensino fundamental e faz curso no Senac. Eu tenho certeza de que meu filho não fez nada. É um medroso. Nem expulsar um rato de casa ele consegue. Se eu soubesse que ele fez, se tivesse a certeza, ia dizer para ele pagar pelo que fez — afirmou a mulher, de 31 anos, que é mãe ainda de duas crianças, trabalha como auxiliar de serviços gerais e engravidou com apenas 14 de um homem que conheceu numa festa e nunca mais viu. — Falta de aviso não foi. Quem se mistura com porco farelo come. Eu falei: “Não fica perto” (referindo-se aos outros suspeitos). Mas não tem jeito.

Douglas será indiciado por porte de arma de fogo, roubo e associação criminosa. O delegado responsável pelo caso também pedirá a apreensão dos dois adolescentes por atos infracionais análogos aos três crimes. Já o indiciamento por homicídio doloso deve ser feito pela Divisão de Homicídios, que ficou com o inquérito do assassinato.


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