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Em três anos, coleta seletiva na Grande Tijuca cresce 1.125%

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RIO – No dicionário está escrito: lixo significa “qualquer matéria ou coisa que repugna por estar suja ou que se joga fora por não ter utilidade”. A definição é correta. Mas, quando o assunto é reciclagem, alguns resíduos podem (e devem) ter alguma função. Tanto que, em 2002, a Comlurb deu início ao programa Coleta Seletiva na cidade. Consiste no recolhimento, em residências e estabelecimentos comerciais, apenas desse tipo de dejeto, que é conduzido para cooperativas de reciclagem cadastradas.

Na Grande Tijuca, os números são alentadores. Nos últimos três anos, a quantidade de ruas onde a coleta é feita aumentou de 70 para 857.

— O negócio está tão bacana que quando o caminhão atrasa um pouco sempre tem alguém que liga para perguntar onde estamos — diz Israel Andrade, gerente da Comlurb na região.

Apesar do crescimento, segundo ele, menos de 50% dos moradores das vias onde há coleta seletiva aderiram ao serviço. Isso se explica porque nem todas as casas e os edifícios participam.

— Costumamos panfletar pelas ruas onde passamos e nas residências que ainda não estão cadastradas. Explicamos o quão importante é a coleta seletiva de lixo para o meio ambiente — fala Andrade. — Se a pessoa topar, preenchemos a ordem de serviço na hora, e na semana seguinte o caminhão vai até o local. É muito simples. Quem precisar de mais detalhes pode entrar em contato pelo nosso site ou pelo telefone.

Andrade afirma que, no caso de condomínios muito grandes, a companhia agenda uma palestra com o síndico para explicar o serviço e tentar angariar novos adeptos.

Para Fabiano Araújo, gerente da Coleta Seletiva na cidade, “não é fácil convencer as pessoas a terem esse trabalho”.

— Queira ou não, é mais uma responsabilidade que o indivíduo terá. E hoje em dia, com o mundo tão corrido, as pessoas querem fugir de um “problema”. Mas, elas precisam entender que é um compromisso que têm como cidadãos — argumenta Araújo. — Um dos maiores desafios do ser humano é conseguir mudar de hábito. E a coleta seletiva é isso. É só se acostumar. Vale a pena e é mais simples do que parece.

Josué Pinheiro, síndico de um prédio na Rua Major Ávila, ao lado da sede da Comlurb, aderiu ao programa em 2004. Ele diz que, se não houver vontade dos moradores do condomínio, o serviço não vai para frente.

— Todos toparam. Creio que fomos um dos primeiros prédios da região a aderir. O resíduo orgânico vai para a lixeira; o reciclável, deixamos no pé das caçambas — afirma.

A coleta é feita uma vez por semana.

— De dois em dois dias, nossos funcionários recolhem o lixo e colocam no depósito em frente ao prédio para que os garis possam levar. Estamos felizes por fazer a nossa parte e contribuir para o meio ambiente e para a sociedade como um todo — orgulha-se Pinheiro.

Próximo dali, na mesma rua, o porteiro Claudemir Barbosa conta que o edifício onde trabalha participa há cinco anos da iniciativa.

— Nem todos fazem, mas posso dizer que a grande maioria está comprometida. É uma questão de consciência — revela Barbosa.

Para fazer parte da coleta é necessário seguir algumas regras. Os resíduos recicláveis devem ser colocados, secos e limpos, em sacos transparentes e translúcidos, disponibilizados pelo condomínio.

Se o lixo estiver em sacolas pretas ou misturado com material orgânico, os garis colam um adesivo amarelo com os dizeres: “Atenção! A Coleta Seletiva não recolhe os recicláveis misturados com lixo orgânico e/ou infectantes. Basta separar os recicláveis e colocar tudo no saco transparente!”.

— Os resíduos recicláveis sujos perdem valor de mercado, por isso não podemos deixar passar — explica Araújo.

Além de não desperdiçar o lixo, a coleta seletiva tem outro ponto positivo: ajuda as 24 cooperativas de catadores do Rio e cadastradas pela Comlurb. De lá, eles revendem os reciclados para as indústrias. A região da Grande Tijuca, junto com a Zona Sul, abastece cerca de 20 cooperativas.

— O grande mérito do programa não é o apelo ecológico e sustentável. É claro que isso tem grande importância, mas acredito que o lado social é mais forte. Acima de tudo, as cooperativas são um local de trabalho, de oportunidade e de dignidade. Ajudam a tirar da rua os catadores que ficam revirando lixo e aterros sanitários para encontrar algo reciclável. A coleta veio para fazer esse meio-campo, digamos assim — opina Araújo.

Uma das cooperativas que recebe os resíduos da Grande Tijuca é a Coopfuturo, inaugurada em 2014, em Irajá. Segundo Evelin de Brito, presidente do centro de triagem, o local recebe cerca de 150 toneladas de resíduos por mês. O espaço tem 33 catadores.

— Todo o material comercializado é pesado e rateado em partes iguais entre os trabalhadores — conta Evelin, que também é catadora.

Segundo ela, se o mês for bom, é possível arrecadar cerca de R$ 1.200.

— Se for razoável, cada um de nós consegue tirar uns R$ 950. É uma ótima oportunidade. Além de um pouco mais de conforto, por não termos que ficar revirando lixão, é uma renda certa que ganhamos — comemora.

Os garis que fazem a coleta seletiva usam uma roupa diferenciada. Vestidos com uma camisa verde, eles se sentem satisfeitos por trabalharem em caminhões “sem cheiro”. E incentivam os tijucanos a mergulharem na iniciativa.

— Acredito que a população está tendo mais consciência da importância da reciclagem. Para participar, basta ter vontade, pois o serviço está em toda a região — diz o gari William Gomes, que trabalha há nove anos na Comlurb e seis na coleta seletiva.


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