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Dono do Gula Gula, Pedro de Lamare também treina garçons para Olimpíada

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RIO — Faixa preta de judô e cantor nas horas vagas. Alguém reconhece? Só os amigos… No cartão de visitas de Pedro de Lamare, está escrito: “diretor de Comunicação e Marketing da rede Gula Gula”, restaurante aberto por seu pai e dois amigos em 1984. Desde 2010, ele acumula essa função com a de presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio (SindRio), que vem treinando de garçons a recepcionistas para a cidade fazer bonito nos Jogos Olímpicos. De Lamare sabe bem que bom atendimento não é exatamente uma qualidade do carioca.

— O Rio tem um serviço pior do que o de São Paulo, por exemplo. Ao assumir a presidência do SindRio, me comprometi a capacitar a nossa mão de obra. Hoje, o sindicato oferece 32 cursos, como atendimento em inglês, liderança de equipe, gestão de cardápios. De 2015 para cá, já capacitamos mais de cinco mil pessoas, parte delas gratuitamente — destaca. — Os profissionais estão mais conscientes do desafio que vem pela frente e mais bem preparados.

Pode parecer excesso de otimismo, mas Pedro é mesmo desses que acreditam — e correm atrás. Tanto que, com a ajuda de sócios, transformou as “quatro ou cinco” casas do Gula Gula que a família tinha quando o seu pai morreu, em 1995, em uma rede de 16 restaurantes (três são franqueados), hoje sob a batuta da chef Nanda de Lamare, sua sobrinha. A primeira casa, chamada por ele carinhosamente de “Gulinha”, fica na Rua Rita Ludolf, no Leblon. Engenheiro químico aposentado, Fernando de Lamare tinha 73 anos quando se aventurou num novo ramo.

— Minha família tem um histórico: desde que nasci, só se falava em comida entre nós. Meu pai chegava em casa pela cozinha, corrigia o que a cozinheira estava fazendo — lembra Pedro, que “aos 20 e poucos anos” já ajudava o pai no negócio. — Eu trabalhava numa corretora financeira no Centro e, na hora do almoço, ia fazer o livro-caixa do Gula Gula. Adorava ver a alegria do meu pai se encontrando aos 73 anos.

Apesar do tino para os negócios, Pedro não chegou a cursar administração. Tentou vestibular para medicina, inspirado em um primo, o renomado pediatra Rinaldo de Lamare, mas não passou porque “não era um cara de estudar”. Como gostava de ler, resolveu fazer faculdade de letras, “a única coisa que dava para fazer”, mas não chegou a concluir o curso. Com 18 anos, ele queria começar a trabalhar:

— O dono da Atlântica-Boavista Seguros (hoje Bradesco Seguros) era amigo do meu pai e me chamou para entrar na empresa. Ele perguntou o que eu sabia fazer, e eu disse que era bom de conversa. Caí no setor de vendas de seguros de vida e acidentes pessoais. Tinha que convencer que morrer era um bom negócio (risos). E eu era fera, vendia muito. Saí de lá cinco ou seis anos depois como chefe de uma porção de gente.

Depois, foi parar no mercado financeiro, onde todos os seus amigos estavam:

— Eu vendia e comprava ações. Não tinha nada a ver comigo, mas virei sócio de uma corretora e ganhei um dinheiro. Pude comprar a parte de um dos sócios do meu pai no Gula.

Passar a bater ponto no Leblon em vez de no Centro mexeu com as emoções do jovem empreendedor.

— Tinha 27 anos, estava vindo do setor de venda de seguros, do mercado financeiro, da selva e indo parar na Zona Sul, com sol, praia, gente bacana… Meu pai teve que ter uma certa paciência comigo, porque eu dei uma desbundada. Ia nadar, tomava banho no restaurante, trabalhava de bermuda, mas também pegava pesado — diverte-se.

O garotão do Leblon acabou tomando gosto pela coisa. E, com o tempo, foi construindo relações com os clientes. Um deles é o humorista Marcelo Madureira, que acabou virando amigo — e parceiro de judô.

— Ele fez parte da minha banca examinadora para a faixa marrom lá atrás. Passei, né? Sou um bom judoca, tinha estudado — conta Marcelo, já faixa preta, como Pedro. — Lutamos juntos várias vezes. Ele me derruba mais do que eu o derrubo. Mas meu joelho é melhor (risos).

BANDA NA JUVENTUDE

Pedro machucou o joelho dançando numa festa de réveillon e teve que dar um tempo no judô. Mas, apaixonado por esportes, segue fazendo crossfit na praia e malhando na academia. Outra paixão do empresário é a música: ele chegou a cantar numa banda na juventude. Numa dessas aventuras musicais, conheceu o cantor e compositor Zé Renato. E lá se vão mais de 30 anos de amizade.

— Quando o filho mais velho do Pedro nasceu, o Marcelo, eu estava me apresentando no Jazzmania (extinta casa de shows em Ipanema) e dediquei uma música para ele. Mais de 20 anos depois, Marcelo cantou num show meu, e Pedro ficou superemocionado na plateia — conta Zé Renato.

Marcelo tem 26 anos e é músico: toca violão, guitarra e canta na banda Novíssimos. Pedro tem ainda um caçula, Thomaz, de 18, que está indo fazer faculdade de gestão de negócios em Boston (EUA) por quatro anos.

— Estou com o coração deste tamaninho — diz o pai coruja, que lamenta a falta de interesse dos filhos em trabalhar no Gula Gula. — É o caminho de cada um. A música para o Marcelo falou mais alto, e ele é muito talentoso. Já Thomaz curte o mercado financeiro.

Pedro ama o que faz, mas também adora ir às sextas-feiras com a mulher, a atriz Bel Kutner, com quem está há sete anos, para o sítio da família em Paraíba do Sul. Lá, Bel costuma exercitar seus dotes culinários.

— É difícil, mas assumo que Bel cozinha melhor do que eu — brinca ele, que está prestes a completar 60 anos, em julho. — Sem dramas. Só com a sensação de que o tempo passou muito rápido.


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