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Com o frio, cresce 30% busca por abrigos para moradores de rua

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RIO – Há uma semana, Maria do Carmo Campos, de 39 anos, alcoolizada, foi atropelada. Na noite gelada da terça-feira, ela sentia dores, tossia e tinha muito frio, quando tomou a decisão: pedir ajuda e ir para um abrigo de moradores de rua. Assim como em São Paulo — onde cinco pessoas chegaram a morrer de frio —, as baixas temperaturas nas madrugadas dos últimos dias no Rio também fizeram com que mais gente agisse como Maria do Carmo. Na última semana, aumentou em 30% a procura pelos abrigos da prefeitura, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social. Um crescimento muito acima do registrado normalmente para os meses de junho e julho, que costuma ser de cerca de 10%.

Só na unidade de reinserção social da Ilha do Governador, onde Maria do Carmo foi acolhida, 160 pessoas (150 homens e dez mulheres) pernoitaram de terça-feira para quarta, além das 157 que têm abrigo fixo no lugar. Mas o recorde de moradores de rua recebidos pela central de recepção de adultos dos abrigos do município, que funciona na unidade, já tinha sido batido no último dia 8, quando 218 novas pessoas foram até lá.

— Nos últimos quatro anos, a depressão, o alcoolismo, a dependência de drogas e problemas familiares me levaram várias vezes para a rua. Eu morava na Rocinha quando passei minha primeira noite na rua. Foi a pior, em que eu mais bebi e me droguei para suportar. Esta é minha segunda vez no abrigo. Decidi voltar ontem (terça-feira) porque eu estava muito ruim, com muito frio — conta Maria do Carmo, oriunda de Porto Alegre e mãe de um filho de 14 anos. — Agora, quero uma segunda chance — diz ela, que aceitou o acolhimento fixo na unidade.

De madrugada, no entanto, pelas ruas do Centro e de bairros como Glória e Lapa, logo se constata que é grande a quantidade de pessoas enfrentando o frio nas ruas. Na mesma noite em que Maria do Carmo foi para a Ilha, um grupo dormia na calçada do Hospital Souza Aguiar, assim como nas imediações da Praça da Cruz Vermelha. Ronaldo de Souza, de 34 anos, pernoitou debaixo de uma marquise da Rua Riachuelo. Ele diz ter casa, no Favela do Chapadão, em Costa Barros. Mas costuma não voltar para lá porque falta dinheiro.

— Trabalho fazendo fretes e garimpando no lixo do Centro. Antes, ia para casa até três vezes por semana. Agora, vou menos. A condução está cara. Com a crise, tem menos trabalho. Tenho sete cobertores que ganhei para resistir ao frio — conta ele.

SUBSECRETÁRIO: HÁ VAGAS

Embora despertem polêmica entre alguns assistentes sociais, por desestimularem moradores de rua a aceitarem ir para abrigos, várias campanhas têm arrecadado agasalhos para doar a pessoas como Ronaldo. Os franciscanos da Toca de Assis, que acolhe moradores de rua e tem várias unidades na cidade, fazem uma campanha parecida. Na instituição religiosa, afirma o irmão Belém, a busca por abrigo aumentou com as baixas temperaturas. Além disso, há uma percepção de que mais pessoas foram para as ruas, empurradas por fatores como o desemprego:

— Temos visto famílias inteiras nessa situação.

No abrigo da Ilha, por causa da maior demanda, Rodrigo Abel, subsecretário de Proteção Social Especial da Secretaria de Desenvolvimento Social, conta que foi necessário aumentar o número de camas para pernoite. No entanto, ele garante que não faltam vagas nos 36 abrigos públicos do Rio.

— São mais de 2.300 vagas. Neste período do ano, junho e julho, reforçamos nossas abordagens nas ruas. Com o frio, mais gente aceita vir conosco para os abrigos. Mas ainda há muita resistência — diz ele, que discorda que o número de moradores de rua tenha aumentado significativamente em relação ao censo dessa população feito em 2013, quando eram 5.580 na cidade.


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