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Beth Ritto lança livro em homenagem a Ernesto Nazareth

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RIO — O livro “O Rio de Ernesto Nazareth” é uma homenagem à altura do talento do pianista carioca, autor de canções célebres, como os choros “Odeon” e “Brejeiro”. Lançada na semana passada pela jornalista e escritora Beth Ritto, a obra costura a história do compositor com a da cidade e traz relíquias, como partituras manuscritas por ele e fotos de sua infância, juventude e maturidade, além de imagens do Rio Antigo e charges de acontecimentos marcantes da época, como a proclamação da República (1889) e a Revolta da Vacina (1904). Nascido em 1863, Ernesto Nazareth morreu em 1934.

— Ernesto nasce na época do Império, vivencia a abolição da escravatura e a ascensão e queda da República. Tudo isso foi fonte de inspiração para ele. E tudo foi registrado pela imprensa, facilitando a minha pesquisa — comenta Beth.

A escritora teve o primeiro contato com a obra do músico ao ouvir um disco de 1975 do pianista Arthur Moreira Lima, dedicado ao compositor. Ela decidiu escrever sobre ele após um convite da dramaturga Maria Carmem Barbosa, para ajudá-la no roteiro de um musical sobre o artista. — O espetáculo acabou não acontecendo, mas, em 2013, roteirizei um espetáculo em homenagem aos 150 anos dele, “Ernesto Nazareth iluminado”, produzido pela cravista Rosana Lanzelotte. O então gerente de edições da Funarte, Oswaldo Carvalho, viu a apresentação e me chamou para fazer o livro. A história de Ernesto é fascinante — destaca Beth, que teve a ajuda da historiadora Mariana Lambert na empreitada.

Filho de um funcionário público e de uma dona de casa, Ernesto Júlio de Nazareth era o segundo de quatro irmãos. A modesta casa da família, na Zona Portuária, tinha um piano herdado da mãe, Carolina Augusta, uma apreciadora dos compositores clássicos. Ela tentou passar seus conhecimentos musicais para os rebentos, mas apenas Ernesto se interessou. Carolina morreu cedo, quando ele tinha 11 anos. E o menino teve que enfrentar dificuldades para prosseguir com os estudos de piano, pois o pai achava que a música não daria futuro.

PRIMEIRA CANÇÃO

Determinado e ajudado por amigos, Ernesto seguiu com as aulas. E, aos 14 anos, compôs sua primeira canção, “Você bem sabe”, cuja partitura foi editada pela Casa Arthur Napoleão & Miguez. A partir daí, passou a ser um profissional da música. Aos 23, se casou com Teodora Amália de Meireles, com quem teve quatro filhos. Foi para ela que escreveu o tango “Dora”. Após um breve período como escriturário do Tesouro Nacional, o artista passou a dar aulas de piano e a tocar regularmente em casas de música.

— Naquela época, não tinha nenhuma possibilidade tecnológica, não tinha como a pessoa ouvir música se não fosse ao vivo. Para vender partitura, a loja tinha que ter um pianista demonstrador. Ele também fazia a trilha ao vivo de filmes mudos no Cine Odeon. Tinha gente que ia lá só para vê-lo.

Depois de viver um período áureo, de participar de festivais e de ter suas obras tocadas nos Estados Unidos e na Europa, Ernesto acabou entrando em decadência.

— Ele sentiu muito a vinda do samba. Quando o rádio chega ao Brasil (em 1922), Ernesto vai ficando ofuscado, porque a música popular surge, com nomes como Francisco Alves — explica a escritora. — Ele passa por situações muito sérias de falta de dinheiro. É ajudado pelo escritor Mário de Andrade, que o convida a fazer uma série de shows em São Paulo.

Com a morte da mulher, em 1929, o músico ficou entristecido. Ele, que já estava com um problema auditivo, contraiu sífilis, o mal da época, que causou danos ao cérebro. Por duas vezes, foi internado na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, de onde desapareceu. Seu corpo foi achado três dias depois, numa cachoeira perto da instituição.

— O trabalho dele misturava choro, lundu. Era o clássico com o popular. Saía dos salões e atingia um público mais diversificado. Espero que o livro contribua para o público conhecer um compositor tão importante para a nossa música — finaliza Beth, que se prepara para escrever “O Rio de Ary Barroso”, com o documentarista André Weller.


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