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Retomada do crescimento econômico exige solução para crise política

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RIO – O Brasil tem pela frente o desafio de enfrentar uma crise que se desdobra em duas frentes. Segundo analistas, as medidas necessárias para sair da recessão não englobam apenas o âmbito econômico, mas também a crise política. Para eles, a combinação de medidas nessas duas áreas é a chave para recuperar a confiança dos empresários, que seguram investimentos em meio a incertezas.

O maior impacto da política na economia é sobre as contas públicas, que o governo tenta reequilibrar desde o início de 2015. Muitas ações do ajuste fiscal dependem de um turbulento Congresso, que, no ano passado, não aprovou todas as medidas propostas pelo Planalto.

O economista Paulo Levy, do Ipea, destaca que, quanto maior a demora para atacar a crise fiscal, piores as consequências:

— Quanto mais se protelam as medidas para promover o ajuste fiscal, elemento fundamental para ter alguma retomada da confiança na economia, pior. Houve erro na condução da política econômica, mas também faltou reconhecimento para corrigir esses erros.

IMPEACHMENT NO RADAR

Para André Gamerman, economista da Opus Gestão de Recursos, os instrumentos técnicos para recuperar o país existem. Mas a colocação em prática dessas medidas esbarra no cenário político.

— O principal é ter uma reversão das expectativas. Para que isso aconteça, a tarefa número um é resolver o imbróglio político. Hoje, há uma turbulência grande que causa paralisia no país. Resolvido isso, será preciso resolver o problema fiscal, que, vale lembrar, tem origens para além do quadro político — avalia Gamerman, que espera que, em 2016, o PIB encolha de 3,5% a 4%.

As dúvidas sobre um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff acrescentam um ponto de interrogação às previsões para o desempenho econômico. No entanto, não há consenso sobre o que pode acontecer em caso de mudança de governo, nem se essa seria uma saída viável para a crise.

Para o economista-chefe da LCA Consultores, Braulio Borges, a mudança no cenário político pode ser capaz de alterar a trajetória do câmbio na direção de estabilidade. Borges traça um cenário menos pessimista para a economia em 2016, de retração de 3%.

— Independentemente de ter ou não impeachment, qualquer desfecho para o impasse político pode significar, se estabilizar o câmbio, um desempenho melhor da economia que o esperado hoje. O câmbio é um ingrediente importante nas expectativas, pode fazer os empresários investirem, as pessoas pegarem crédito — apontou.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, é mais radical. Para ele, o desfecho do processo de impeachment de Dilma terá efeito direto no resultado do PIB em 2016:

— Deve cair 3,8% com alguma mudança política ocorrida até a metade do ano e 4,9% se a presidente continuar.

A trilha para a retomada, no entanto, não está só no cenário político. Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp, o Brasil deve buscar medidas para financiar projetos de infraestrutura, além de buscar o estímulo ao crédito:

— O governo tem meios de arrumar. Por exemplo, recorrer ao banco dos Brics, recorrer aos acordos de reservas que o país tem com a China ou recorrer a outros instrumentos que ele sabe muito bem mobilizar, como reduzir o compulsório para ajudar a reestruturar a dívida dos bancos. Eu acredito que há ferramentas, falta um pouco de inteligência e coragem.

SAÍDA PELAS EXPORTAÇÕES

Nos últimos meses, boa parte das esperanças recaiu sobre o setor externo, já que o dólar alto beneficia as exportações e reduz as compras do exterior, provocando o efeito de substituição de importações. O efeito deve ser mais percebido pela indústria, setor que, para Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, deve ser o primeiro a ter resultado positivo.

— Quem começou a sofrer primeiro foi a indústria. Em algum momento, talvez ela acabe encontrando uma melhora.

Para Rafael Ihara, economista do Brasil Plural, a desaceleração da inflação pode abrir espaço para uma retomada do crescimento e dos investimentos. Mas isso só deve ocorrer no ano que vem. Para 2016, o analista espera retração de 4%. Em 2017, crescimento de só 0,2%.

— Esperamos alguma recuperação doméstica ao longo de 2017, com a retomada do consumo. Apesar de inflação bem alta ainda este ano, a gente vê uma alta de preços compatível com uma redução de juros — afirma.


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