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No Brasil, vendas pela internet sobem 15,3% em 2015

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RIO – O comércio eletrônico vem surfando boas ondas também no Brasil. Em 2015, ano em que o varejo viu suas vendas encolherem em 4,3% no país, as transações pela internet cresceram 15,3%, totalizando R$ 41,3 bilhões. É um salto sobre os R$ 14,8 bilhões registrados em 2010. E, mesmo com a recessão, a previsão é de alta de 8% este ano, com as compras on-line batendo R$ 44,6 bilhões, segundo dados E-bit/Buscapé.

A crise, em verdade, impulsiona as vendas pela internet. Com inflação, desemprego e incertezas sobre os rumos da economia, o e-commerce se destaca como alternativa para conseguir melhor relação custo/benefício na hora de comprar, explica a E-bit. Há menos compradores ativos, mas as compras cresceram em volume e também no valor do tíquete médio. Em paralelo a esse crescimento, aumenta também o lixo gerado pelas embalagens usadas para entregar os produtos adquiridos pela web ao consumidor.

No Brasil, não há dados compilados sobre o tamanho dessa montanha de lixo gerada pelos pacotes utilizados pelo comércio eletrônico. Mas sabe-se que, assim como os produtos que carregam, essas embalagens pode movimentar cifras robustas. Em 2013, as indústrias recicladoras geraram faturamento de R$ 10 bilhões no país, segundo dados do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), que reúne 22 associações do setor de embalagens. Três anos atrás, estudo do Ipea estimava que o Brasil perdia R$ 8 bilhões ao ano por levar para lixões e aterros sanitários materiais recicláveis que poderiam voltar à cadeia produtiva.

— Dos pontos de vista social, econômico e ambiental, é uma insensatez ter resíduo. É preciso olhar para a cadeia de consumo de forma circular, induzir inovação em design de embalagens, produtos e processos, além de mexer em pradrões técnicos, logísticos e culturais — destaca o biólogo Ricrado Barros, professor dos MBAs da FGV.

De acordo com a Associação Brasileira de Embalagens (Abre), a indústria do setor movimenta R$ 56 bilhões por ano. Embalagens em geral equivalem a 37% dos resíduos gerados nos lares do país, ou 108,4 quilos por pessoa por ano, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Em novembro passado, o governo assinou um acordo com as empresas para implementar o sistema de logística reversa de embalagens no país, como parte da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), de 2010. O foco está em coletar o lixo reciclável e devolvê-lo ao setor produtivo, para que possa ser reaproveitado ou destinado de forma adequada.

— O primeiro relatório sobre o que é gerado em resíduos de embalagens sai em 2017. Ainda há poucos dados disponíveis. A partir do acordo empresarial, o setor precisa coletar e dar destinação correta a 3.815 toneladas de embalagens por dia, sobretudo vindas de pontos de entrega voluntária, comos os instalados em supermercados, e via cooperativas de catadores — explica Sabrina Gimenes, gerente de resíduos perigosos do MMA.

O Grupo Pão de Açucar, por exemplo, conta com pontos de coleta de embalagens e materiais recicláveis diversos em seus supermecados. Já a Via Varejo, que reúne Casas Bahia e Ponto Frio, por exemplo, recolhe embalagens de produtos comprados em suas lojas no momento da entrega na casa do cliente.

Se o foco estiver no lixo como um todo, 32% do que chega aos aterros sanitários do país são recicláveis. A meta de 3.815 toneladas diárias representa 22% dessa fatia, composta principalmente de plástico, papel e papelão.

— O desafio é justamente coletar o que está sendo descartado errado. Acredito estarmos cumprindo a meta, mas os relatórios ainda não estão prontos. A indústria envolvida no acordo está comprometida. Mas há o desafio de incluir todos. Temos conversado com o governo sobre como trazer quem está de fora para as obrigatoriedades do acordo e da lei — diz Victor Bicca, presidente do Cempre.

O comércio eletrônico não está entre os signatários, confirma Rodrigo Bandeira Santos, vice-presidente da ABComm, que reúne o setor no país:

— As vendas pela internet estão em expansão e, sem dúvida, o uso de embalagens pelas empresas do setor também. Não integramos esse acordo com o governo. Temos uma certificação para eficiência energética. E a destinação das embalagens merece ser discutida. O e-commerce tem o aspecto sustentável de menor emissão de gases, consumo de energia e outros insumos — conta Santos.

A Abre vem trabalhando o conceito de economia circular na indústria, para estimular o reaproveitamento de matérias-primas. E lançou, mês passado, uma ferramenta para auxiliar empresas de embalagens a adaptar seus negócios a esse conceito. Prepara agora, a versão digital do manual.

Faltam dados sobre as embalagens utilizadas pelas .Com para entregar produtos. Numa visão mais ampla, a indústria de papelão produziu 3,3 milhões de toneladas no ano passado. A tonelada do material comprado para reciclagem, de acordo com o Cempre, vale R$ 370 no mercado.

— Do total da produção, mais de 70% são reciclados. É um material que pode ser reciclado sete vezes. É fundamental porque não haveria fibra virgem suficiente no Brasil para toda a produção — explica Sérgio Ribas, diretor da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO).

Relatório da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (Iswa, na sigla em inglês) mostra que a produção de lixo nos países acompanha a expansão do consumo, mas sua composição e destinação variam conforme o perfil de renda dos países.

O lixo em papel — onde se encaixam as embalagens usadas para entregas expressas — cresce conforme a renda do país. Representa uma taxa de 6% do total do lixo gerado nas nações de baixa renda, de 11% a 19% nas de média renda e de 24% nas de alta renda.

Há caminhos outros caminhos para destinar as embalagens, como utilizar a Bolsa de Valores Ambientais (BVRio), desenvolvida pelo Instituto BVRio. Trata-se de uma plataforma de commodities ambientais criada para ajudar no cumprimento de políticas voltadas para o setor. E se prepara para começar a negociar créditos de logística reversa de embalagens.

— E uma proposta alternativa e complementar ao acordo empresarial. Funciona a exemplo do que é feito com créditos de carbono, compensando o descarte feito por uma dada empresa a partir da compra de créditos da coleta e destinação correta de embalagens em uma operação precificada — explicou Luciana Freitas, gerente do departamento de logística reversa.


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