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Impasse político agrava crise, dizem economistas

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SÃO PAULO E RIO – A solução para a crise econômica brasileira só será alcançada após o fim do impasse político, que se acentuou nos últimos dias. Essa é a avaliação de alguns dos principais economistas do país, que divergem, no entanto, sobre os caminhos para dar fim às tensões. Enquanto alguns defendem abertamente uma mudança no governo, outros acreditam que o gestão da presidente Dilma Rousseff tem chances de se reorganizar.

Para o economista e ex-ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — nomeado ministro da Casa Civil — pode ajudar o governo Dilma a reverter o pessimismo com a economia.

— Seguramente, ele pode ajudar Dilma porque é um exímio negociador. E alguém tem que negociar — disse Delfim, na 4ª edição do Fórum Brasil, realizado pela revista “Carta Capital”, em São Paulo.

Apontado como um dos interlocutores econômicos frequentes de Dilma, Delfim foi perguntado se havia se encontrado com a presidente recentemente, mas não respondeu.

‘CRESCIMENTO ECONÔMICO É UM ESTADO DE ESPÍRITO’

Segundo ele, se não fosse pelo cenário político conturbado, “o Brasil estaria crescendo”. Delfim afirmou, entretanto, que o cenário econômico ruim só vai ser revertido quando “você induzir as pessoas a voltarem a investir. Sem isso, não tem solução”. Ele disse, ainda, que a retomada da economia deve começar com as medidas de longo prazo (como reformas da Previdência e tributária), mas sem esquecer as medidas de curto prazo.

— Nós não precisamos inventar nada. Existem hoje 30 países desenvolvidos com regime democrático, e é só copiar. Precisamos de uma ordem na economia e na política. Crescimento econômico é um estado de espírito e só acontece com quem acredita que vai crescer — disse o ex-ministro da Fazenda.

Delfim destacou o efeito da falta de confiança sobre a economia. Atualmente, explicou, está tudo parado “porque estamos em pânico e preocupados com liquidez”:

— O trabalhador não compra porque tem medo de perder o emprego. O empresário não investe porque tem medo de não haver demanda para seus produtos. O banqueiro tenta recuperar um pedaço de seu empréstimo e aumenta a taxa de juros para se prevenir. Todos querem ficar com liquidez e vão morrer afogados nessa liquidez.

No Rio, em seminário na Fundação Getulio Vargas, Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, destacou que as chances de reequilibrar a política econômica brasileira sem o impeachment são mais difíceis. O economista, que comandou a autoridade monetária entre 1983 e 1985, comparou o momento atual com a década de 1980.

— Podem ter várias soluções. Um impeachment, em que entre um governo com legitimidade com condições de executar uma política econômica com uma agenda de reformas. Se não muda, estamos realmente caminhando para uma crise que é um pouco maior do que aquela que vivemos — avaliou Pastore.

‘NA VIDA REAL, NÃO EXISTE MÁGICA’

O economista da FGV, José Julio Senna, ex-diretor do BC, também avaliou que o impeachment da presidente parece ser a solução mais viável no momento:

— O governo atual perdeu totalmente a capacidade de agir, de negociar, de implantar políticas econômicas mínimas que sejam. Acho que uma mudança de governo é importante.

Especialista em política monetária, Senna criticou as medidas que compõem a chamada “guinada à esquerda”, que incluiriam o uso das reservas internacionais para pagar a dívida pública:

— Vejo o governo falando em necessidade de reanimar a economia. Acho que não faz sentido uma redução na marra de juros, descabida no momento. Se fala muito nessa ideia de pegar reservas e reduzir a dívida pública. Seria a pior coisa. Na vida real, não existe mágica.

Armando Castellar, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV), destaca que o país está em uma situação de “dominância política”, ou seja, a economia está a reboque dos rumos da crise política. No entanto, alerta que não basta uma mudança de governo para que a crise seja solucionada. No caso de um impeachment, um eventual novo governo teria muitos desafios pela frente, começando pela crise fiscal pela qual passa o país.

— A ideia de que algum tipo de ruptura, seja impeachment, renúncia, decisão do TSE, é a expectativa de que, havendo um novo governo, haja uma resposta do tamanho da crise. Mas é um desafio grande. Mudança de governo, simplesmente, se é que ela venha a ocorrer, não será suficiente. O novo governo teria que fazer o que o atual não está fazendo — analisa Castellar.

Fernando de Hollanda Barbosa, professor da FGV, não defende especificamente o impeachment, mas avalia que a crise é de responsabilidade do governo Dilma e que a gestão da petista já não tem mais credibilidade para tocar as medidas necessárias à economia.

— Acho que ela perdeu credibilidade, que se precisa ter em política econômica. A pergunta é: você compraria um carro usado da presidente Dilma? Quando você perde a credibilidade, ninguém quer comprar carro usado de você — compara.


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