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Feiras dedicadas ao pequeno produtor fomentam economia criativa no Rio

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Novembro de 1996: uma lona de circo foi armada sobre o píer onde hoje é o Museu do Amanhã (região ainda longe de ser a bola da vez no Rio) para a primeira edição da Babilônia Feira Hype. Corta para 2016. A Babilônia se reinventou, continua na ativa e o Rio, por sua vez, ganhou mais um punhado de feiras dedicadas a pequenos produtores, pautadas na economia criativa.

Quase todo fim de semana há um evento desses. Hoje, por exemplo, é dia de O Cluster, na Glória, e Carioquíssima, na Praça Mauá. Juntas as duas feiras já reuniam mais de oito mil presenças confirmadas pelas redes sociais até o meio da semana.

— O que atrai muita gente é a cara do evento. Aquele clima de informalidade, com possibilidade de diálogo direto com os produtores — afirma a responsável pela Carioquíssima, Nathalie Al Jalali. — A variedade de coisas em um só lugar fez com que virasse um programa social, onde as pessoas levam a família e escutam música boa. No fim, vira uma festinha.

O clima é de festa, mas o negócio é sério. Em todas elas, os organizadores afirmam haver fila de pessoas querendo participar, o que demanda todo um esquema de curadoria com direito a banca examinadora. A maior procura é na área de alimentos. A Carioquíssima, na qual o preço para expor vai de R$ 400 a R$ 1.500, criou até um evento extra para dar conta disso: a edição que leva o nome “gourmet”.

— Quando anunciamos pelas redes sociais que as pessoas podiam começar a se inscrever para a última edição da Carioquíssima Gourmet, recebemos 450 e-mails em cinco horas, sendo que havia 70 vagas — conta Nathalie.

O desafio, segundo ela, é selecionar para que não tenha muita coisa repetida. Afinal, o público vai ao evento em busca de novidade.

— Tem muito brownie, cerveja, hambúrguer e brigadeiro — avisa. — Ainda sentimos dificuldade em encontrar alguns produtos diferentes, como comidas típicas ou petiscos de boteco.

Plataforma de lançamento

Para quem deseja se lançar no mercado, esses eventos se transformaram numa atraente plataforma de testagem e divulgação de produtos. Com custo bem mais baixo do que montar uma loja, negócios em áreas como moda, arte e gastronomia estão prosperando neste circuito. Não por acaso, o mercado carioca está cheio de grandes marcas que começaram suas trajetórias desta maneira. Farm e Via Mia estão na lista, com a Babilônia como ponto de partida.

Um dos criadores da feira, Robert Guimarães lembra que, no momento em que o evento foi lançado, o quadro era de economia debilitada, com o início do Plano Real. E isso o tornou ainda mais providencial, já que as pessoas precisavam de uma alternativa viável para pôr suas criações na praça. Vinte anos depois, com o quadro financeiro que o país atravessa, essa premissa volta a ganhar força.

— Num momento de desafios, as pessoas buscam um novo horizonte e a Babilônia é um ótimo espaço para as pessoas expressarem seus talentos — analisa ele.

Com duas edições de dois dias por mês, sendo uma na Zona Sul e outra na Barra, a Babilônia reúne cerca de 150 expositores, mantendo aproximadamente 30% do espaço para a entrada de novos participantes.

O custo para o expositor fica entre R$ 800 e R$ 2.500, conforme a área ocupada e sua localização. Para quem enxerga aí uma oportunidade, Guimarães afirma que é preciso paciência e sensibilidade.

— A feira é uma oportunidade de amadurecer seu produto e seu negócio, numa dimensão em que seu capital e risco são otimizados — resume. — O comércio exige um tempo de maturação do produto e do empreendedor, que precisa entender bem o que está vendendo e para quem.

Boa parte dessas feiras mantém um flerte direto com o consumo ético. A edição do Cluster deste domingo, por exemplo, será totalmente dedicada ao tema, com exibição de filmes e possibilidade de trocas de produtos entre o público.

— Tudo que está na feira é feito no Brasil, sendo a grande maioria no Rio. Isso mostra como esses negócios geram emprego na cidade. Nossa ideia, é fazer com que as pessoas enxerguem como existe uma maneira de consumo fora do modelo tradicional — conta a idealizadora do evento, Carolina Herszenhut.

No caso do Cluster, o valor pago pelo participante é de R$ 850 por dia. E, segundo Carolina, há marcas que conseguem lucrar até dez vezes esse valor ao final do evento.

— Os negócios capazes de oferecer preço justo e alcançar um público mais abrangente, geralmente, são as que se dão bem — diz.

Coordenador do Núcleo de Economia Criativa da ESPM-Rio, Rodrigo Carvalho confirma o clima de euforia entre os organizadores. Do ponto de vista do expositor, ele lembra que é importante enxergar além da feira.

— A feira põe o pequeno produtor em contato com seu público direto e elimina o papel do varejo. E a internet potencializa isso, já que a pessoa que está ali na feira consegue se divulgar e manter o relacionamento com os clientes depois. Não precisa de loja física, o que engessaria os custos.


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