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Argentina capta US$ 16,5 bilhões com emissão de títulos no mercado

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BUENOS AIRES – O governo do presidente argentino, Mauricio Macri, comemorou na segunda-feira o retorno do país aos mercados internacionais após 15 anos de isolamento em grande estilo: a equipe comandada pelo ministro da Fazenda, Alfonso Prat Gay, conseguiu captar US$ 16,5 bilhões com a emissão de quatro bônus no mercado americano, pagando juros, em média, de 7,2% (em março passado a província de Buenos Aires pagou 9,40%). Trata-se da maior e mais bem sucedida operação financeira da História argentina, graças à qual o governo Macri conseguirá saldar, na próxima sexta-feira, uma dívida em torno de US$ 9,3 bilhões com os chamados holdouts, os credores que não participaram das operações de reestruturação da dívida realizadas em 2005 e 2010 e foram favorecidos por sentenças nos tribunais americanos. O pagamento colocará ponto final no calote da dívida argentina, que se arrasta desde 2002.

Em coletiva no Ministério da Fazenda, Prat Gay confirmou que o governo recebeu ofertas por um total de US$ 69 bilhões.

— Poderíamos ter captado o dobro do que decidimos captar, entre outros motivos, porque acreditamos que a taxa de juros vai continuar caindo — declarou o ministro, que disse não pretender realizar novas emissões no mercado americano este ano.

Visivelmente satisfeito com uma operação que levou a Bolsa de Valores de Buenos Aires a fechar em alta de 4,9% e à agência de classificação de risco Fitch a elevar a nota dos bancos com operações no país Macro, Santander Rio, BBVA, Supervielle e Cartão Laranja para B, o ministro lembrou que até agora “o único que tinha emprestado dinheiro à Argentina tinha sido o governo Chávez, com juros de 15% ao ano”.

A emissão de ontem foi dividida em quatro títulos, com vencimentos em três, cinco, dez e 30 anos. Os juros correspondentes foram 6,25%, 6,87%, 7,50% e 7,62%.

— Duas terças partes dos investidores foram americanos — comentou Prat Gay.

Nos últimos meses, sua equipe fechou acordos com 220 holdouts beneficiados por sentenças do juiz Thomas Griesa, de Nova York. A meta da Casa Rosada é continuar conseguindo a adesão de holdouts nos próximos meses, a uma oferta que prevê redução, em média, de 25%, do valor das demandas.

— Era muito importante para nós conseguir este acesso ao mercado. Sem crédito teríamos de ter feito um ajuste fiscal, em lugar de uma estratégia gradual de redução de despesas — explicou Prat Gay.

A boa notícia anunciada ontem pelo ministro chegou num momento de forte tensão social e sindical na Argentina. Com uma inflação ainda muito alta – a meta da Casa Rosada é fechar o ano com 25% – e indicadores sociais preocupantes – a pobreza ainda afeta cerca de 30% dos 40 milhões de habitantes -, Macri teve de anunciar recentemente medidas sociais como o aumento do seguro desemprego, para tentar conter uma crescente insatisfação social. Embora o governo estime que este ano o crescimento do país será zero, economistas privados acreditam que o PIB argentino poderia encerrar 2016 com retração de até 2%.

— A operação de hoje (ontem) foi muito boa, superou as expectativas, mas não é suficiente. Ainda temos muitos desafios pela frente, entre eles a redução do déficit fiscal — disse a economista Marina Dal Poggeto, da empresa de consultoria Miguel Bein e Associados.

Segundo ela, “a redução de subsídios e aumentos de tarifas não terão impacto do expressivo déficit fiscal, que ainda ronda 4% do PIB”.

— Não basta sair ao mercado e conseguir recursos. Se for só isso, daqui a quatro anos estaremos novamente em problemas — enfatizou a economista.

Prat Gay afirmou que com a emissão de ontem o governo encerrou uma primeira etapa em matéria de política econômica. Agora, disse o ministro, “começa a segunda, na qual esperamos ter uma drástica redução da inflação e recuperação do crescimento econômico”. Em sintonia com o presidente, Prat Gay pediu aos empresários locais que comecem a fazer os investimentos necessários para “financiar projetos produtivos”.

— Nós já fizemos a nossa parte — alfinetou o ministro.


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