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A volta do medo de Lula

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SÃO PAULO – Como ocorreu antes da eleição de 2002, Lula volta a provocar no mercado o receio de mudanças na política econômica com sua ida para a Casa Civil. O otimismo da semana passada de que a Lava-Jato impulsionaria o impeachment da presidente Dilma Rousseff deu lugar à apreensão. Hoje, devido à divulgação de áudios de Lula com interlocutores como a presidente Dilma Rousseff, fez os temores arrefecerem. A Bolsa sobe, o dólar cai. Mas, se em 2003 Lula surpreendeu com uma política amigável aos mercados, por que o medo está de volta? A resposta pode estar em 2008.

O Lula que volta ao governo hoje pode estar com a cabeça mais na crise global de 2008 e 2009 do que em 2003, diz Alexandre Schwartsman, sócio da Schwartsman & Associados e diretor do BC entre 2003 e 2006. Para enfrentar aquela crise global, o governo ampliou os estímulos ao consumo. Lula hoje pode estar inclinado a repetir a dose. Esse é o medo do mercado, segundo Schwartsman: de que Lula vai ampliar gastos para combater a recessão.

O ex-diretor lembra que o sucesso do governo em debelar a crise oito anos atrás foi assegurado pelos bons fundamentos da economia, com dívida pública em queda, superávit primário elevado, inflação ancorada e um Banco Central com alta credibilidade. As chances de medidas semelhantes darem certo hoje são baixas diante da deterioração fiscal e da inflação muito mais alta.

A primeira reação dos mercados à confirmação de Lula na Casa Civil foi bastante negativa. “Venda Brasil. Ponto final”, disse Win Thin, estrategista de Emergentes em Nova York da Brown Brothers Harriman.

Nesta quinta-feira, apesar da posse de Lula como ministro da Casa Civil, o mercado se tranquilizou. De qualquer forma, prevalece a incerteza. Além do risco de uma guinada na política econômica com ampliação dos estímulos, o mercado também teme que o retorno de Lula dê sobrevida a Dilma, diz Vitor Suzaki, analista da Lerosa Investimentos.

— Ele voltando com carta branca para fazer o que quiser pode gerar um rali para baixo na Bolsa, porque ele deve articular melhor com a base aliada e reduzir a chance de impeachment no STF — diz o analista.

Schwartsman vê a situação hoje muito mais difícil até mesmo do que em 2003. No início do seu primeiro mandato, Lula conquistou o mercado com uma reforma da Previdência do setor público, que reforçou sinais dados ainda antes da posse, com os compromissos da Carta ao Povo Brasileiro e a nomeação de uma equipe econômica ortodoxa, comandada por Antonio Palocci e Henrique Meirelles e que ainda incluía Joaquim Levy e Marcos Lisboa.

Em 2003, Lula venceu a crise apenas atuando no campo das expectativas. Hoje, contudo, há uma crise real, com dívida ascendente e déficit da previdência em expansão, diz Schwartsman. Para ele, serão necessárias reformas e outras medidas para superar a crise, que devem ser difíceis mesmo que Dilma seja afastada. Se Dilma sair, a coalizão PT -PMDB pode ser substituída por outra, PMDB-PSDB, o que não muda muita coisa numericamente. Sem contar os riscos da Lava-Jato, que atingem governo e oposição, alerta Schwartsman:

— Hoje a situação é muito mais difícil.


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