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‘Venezuela vê mídia independente como inimiga’, diz diretora do ‘El Carabobeño’

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RIO – Diretora de redação do “El Carabobeño”, tradicional diário venezuelano que deixará de circular e despediu 300 funcionários pela falta de papel, Carolina González denunciou manobras políticas do governo para prejudicar a imprensa.

Qual a situação da imprensa independente na Venezuela?

É sumamente grave neste momento. Estamos ameaçados de ter de reduzir mais páginas, baixar ainda mais a circulação e acabar com conteúdos importantes. A presença da imprensa e o serviço que prestamos estão sendo afetados. Por outro lado, os meios de comunicação estão sendo pressionados. Nos últimos 17 anos, a imprensa independente acabou. O governo não enxerga uma imprensa independente, só vê inimigos.

Qual a linha editorial do “El Carabobeño”?

Sempre tivemos uma linha voltada a priorizar as necessidades da população, de serviços. Nossos leitores nos procuram para fazerem denúncias. Há quatro anos, iniciamos uma campanha mostrando a qualidade da água no estado de Carabobo, que é cheia de coliformes fecais e sem tratamento. Também mostramos pessoas que estão desaparecidas, ou a situação desastrosa nos hospitais. Ou seja, informações de que os governantes não gostam.

De que maneira a criação da Corporação Maneiro influenciou a crise do papel-jornal?

Em teoria, apenas eles vendem papel-jornal desde 2014. E há exatamente um ano, no dia 18 de março de 2015, foi a última vez que nos venderam. Eles sequer respondem mais nossas solicitações, encerraram de repente a relação que existia. Tivemos que adquirir papel com empresas intermediárias, que revendem a matéria-prima a preços altíssimos, mas tornou-se uma alternativa que já não é mais viável. Os custos são tão elevados que não permitem retorno do investimento.

Por que deixaram de vender papel-jornal? O que aconteceu?

Em fevereiro do ano passado, o jornal deu um passo importante e necessário para a escassez, mudando seu formato. Ganhamos mais presença e nos tornamos o terceiro jornal em vendas, aumentando nossa circulação. Mas não mudamos em nada nossa linha editorial. Aí as coisas começaram a mudar. Denunciamos que não nos vendiam mais papel e pedimos para regularizarem a venda. Eles prometeram 72 bobinas e cumpriram a promessa. Mas nos venderam a última leva em março. Nunca mais fomos atendidos, eles simplesmente desapareceram.

Quais foram as consequências?

Passamos de 48 páginas a 32. Cortamos suplementos importantes, como o caderno científico, o industrial e o infantil, um dos mais icônicos de Carabobo. Muitas crianças aprenderam a ler com este suplemento, que era usado em aulas e doado às escolas, gratuitamente. O programa teve que desaparecer, e perdemos um dos cadernos mais queridos pelos leitores, principalmente as crianças. No ano passado, quando chegamos ao auge da falta de papel, chegamos a circular com 16 páginas.


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