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Univision fortalece presença hispânica para as eleições nos EUA

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NOVA YORK – Cerca de 11 milhões de hispânicos votaram nas eleições presidenciais americanas de 2012, menos da metade daqueles que poderiam. Ativistas dos dois principais partidos políticos vêm tentando aumentar esse número, por meio do registro de eleitores e de discussões sobre questões como a imigração e a estagnação salarial por um lado e a liberdade econômica por outro. Agora, a Univision também entrou na batalha.

A empresa de mídia, incluindo sua importante rede de televisão em língua espanhola e suas muitas subsidiárias, está fazendo um ambicioso esforço por todo o país com o objetivo de registrar cerca de três milhões de novos eleitores latinos este ano, mais ou menos o número daqueles que atingiram a idade de votar desde 2012.

A iniciativa vai requerer um cronograma agressivo de anúncios em todas as plataformas de vídeo e digitais da empresa, incluindo as 126 estações de televisão e rádio locais e o canal esportivo Univision Deportes. Os gerentes das estações vão incentivar sua audiência por meio de editoriais, um guia on-line completo para a votação será atualizado durante toda a temporada de eleições, e serão usados os mesmos esquemas de organização de eventos que os candidatos adotam – fóruns reunindo cidadãos e chamadas telefônicas – para tentar transformar a audiência em um bloco ainda mais poderoso de votação do que já é.

“A regra é que ninguém pode chegar à Casa Branca sem o voto dos hispânicos. Por isso, o registro de latinos é incrivelmente importante. Apenas alguns votos em Nevada, na Flórida ou no Colorado pode dar força ou acabar com qualquer candidato”, afirma Jorge Ramos, âncora dos noticiários da rede.

Um dos mais jovens atores de telenovela da rede, William Valdés, de 22 anos, fará um relato em vídeo e nas redes sociais de como se tornou cidadão e como se registrou para votar.

Neste verão, a Univision também vai montar unidades de registro de eleitores perto de estádios que sediarão a Copa América de Futebol e fazer anúncios de serviços públicos durante as transmissões dos jogos, que normalmente atingem milhões.

Os esforços se estendem para todas as propriedades digitais da Univision, incluindo a Fusion, plataforma que tem a intenção de engajar a audiência da geração Y. Também contam com o The Root, propriedade digital dedicada às questões dos afro-americanos, que a Univision chama de “esforço multicultural”.

Para a empresa, esse esforço em todos os meios resume o que a diferencia das maiores redes de televisão em inglês do país, cujos índices de audiência têm frequentemente ultrapassado nos últimos anos. Sua missão não é apenas informar e entreter, mas também “empoderar a comunidade hispânica”. E como essa comunidade compartilha a língua, mas não necessariamente uma etnia ou uma origem nacional, dar poder a ela significa funcionar como uma voz unificadora e uma força mobilizadora e de união.

Roberto Llamas, vice-presidente executivo da rede, diz que, com a eleição se aproximando rapidamente, “Nós pensamos, se nossa população se movimenta, então é mais importante do que nunca aumentar nosso nível de participação”.

Ainda assim, para uma rede que frequentemente é acusada de defender os democratas, controlada em parte por Haim Saban, um dos principais apoiadores financeiros de Hillary Clinton – e cujo âncora, Jorge Ramos, teve desentendimentos com o principal candidato republicano, Donald Trump – falar em jogar seu peso na política pode suscitar questões sobre se a iniciativa não é, na verdade, um esforço disfarçado para mobilizar eleitores para o Partido Democrata.

A rede insiste que é apartidária e diz que as unidades de registro, que focam nos estimados 27 milhões de hispânicos que podem votar, serão indiferentes quanto ao partido político. Ainda assim, 71 por cento dos latinos votaram no presidente Barack Obama na última eleição, de acordo com o estudo de tendências hispânicas do Pew Research Center.

E isso foi antes de Trump, com suas promessas aquecidas de reprimir a imigração ilegal, deu a Ramos um tema sobre o qual construir uma cruzada.

“O desafio verdadeiro agora é convencer os latinos a votar e o interessante é que talvez Donald Trump esteja fazendo isso. Os eleitores jovens, especialmente aqueles que estão fazendo 18 anos, me falaram que querem se envolver por causa de Trump. Não porque gostem dele, mas porque querem votar contra”, disse Ramos em uma entrevista.

O desafio, no entanto, é verdadeiramente real: cerca de 48 por cento dos eleitores hispânicos votaram em 2012. Os negros foram 67 por cento; e os brancos 64,1 por cento, de acordo com a pesquisa do Pew.

Aumentar o percentual de hispânicos que podem votar e que realmente se registram e votam é capaz de ter grandes efeitos em novembro – não apenas na eleição presidencial, mas também nas corridas pelo senado e outros cargos. As disputas na Flórida, para preencher a vaga de Marco Rubio, e em Nevada, para a de Harry Reid, acontecem em estados com grandes populações de latinos.

Os dois partidos tinham intenções de fazer incursões entre os hispânicos este ano antes de as primárias republicanas terem sido tomadas pela conversa linha-dura contra a imigração, mas os democratas começaram com uma vantagem. Obama e a chapa democrata ganharam o apoio de sete em dez eleitores hispânicos em 2012, segundo as pesquisas nas urnas. E, apesar do êxito dos republicanos em 2014, os candidatos democratas à câmara conseguiram 62 por cento dos votos dos hispânicos.

Os esforços da Univision na eleição de 2016 não param nas atividades de Ramos em frente às câmeras ou no trabalho de mobilização de eleitores da rede de televisão. Sua unidade de notícias vai patrocinar um debate democrata em nove de março e, em 14 de julho, um fórum geral de eleições com os eventuais candidatos republicano e democrata. Também está planejando uma série de pesquisas em estados indefinidos sobre os candidatos e suas questões. E designou sua maior equipe política até hoje – 16 repórteres, 20 produtores e dúzias de jornalistas digitais – para o Destino 2016, a cobertura da eleição da rede.

Seus programas políticos dão atenção a questões que a rede vê como de interesse do público hispânico, explicando debates de leis sobre imigração, acordos comerciais, cuidados de saúde, normas salariais, imposto de renda e outros assuntos que afetam os trabalhadores e os donos de pequenos negócios.

A campanha para o registro, da mesma maneira, vai tentar tornar o processo de se inscrever para votar o mais simples possível, mesmo que a pessoa não tenha nenhum conhecimento, dizem os funcionários envolvidos no esforço.

“Quando a maioria dos latinos se tornar eleitor, eles provavelmente serão os primeiros em suas famílias”, afirma Clarissa Martínez-de-Castro, vice-presidente adjunta da NCLR, uma organização latina também conhecida como National Council of La Raza, sócia da Univision. “Coisas que parecem simples, como onde eu me registro, o que eu preciso saber, o que é necessário? Essa é uma grande tarefa.”

Outras redes de televisão tentaram assumir o manto do registro de eleitores quando viram suas audiências pouco representadas nas eleições nacionais. A MTV desde o início fez uma parceria memorável com uma ONG, a Rock the Vote, pioneira no sistema de registro por telefone e internet nos anos 90, para tentar trazer mais jovens para as urnas.

Os resultados têm sido mistos e atribuí-los a iniciativas como a da Univision é uma ciência imperfeita, dizem os especialistas. “Há uma certa superfície de plausibilidade no que eles dizem e em seus objetivos. Mas acho que ainda estão na categoria de hipóteses não testadas”, explica Donald P. Green, professor de Ciência Política de Colúmbia que, em 2004, estudou os efeitos dos comerciais de televisão do Rock the Vote sobre o número de eleitores.

A Univision pode ter vantagens que suas predecessoras não tinham, afirma Melissa Michelson, professora de Ciência Política na Faculdade Menlo, na Califórnia.

“A Univision está posicionada de maneira única para ter sucesso por causa de sua dominância do mercado”, porque é uma “fonte confiável” e porque já tentou algo igual antes, diz Melissa. “Em 2012, a rede trabalhou para ajudar milhares de pessoas de sua audiência a se tornarem cidadãos americanos.”

Ela diz ainda que Ramos “é tão conhecido por causa desse evento que temos um nome para isso nas ciências políticas: o efeito Jorge Ramos. Os latinos que consomem mídias em língua espanhola têm muito mais possibilidade de se informarem sobre a eleição e estão mais propensos a votar”.

Na entrevista, Ramos pareceu que sabia desse efeito e estava ansioso para ostentá-lo.

“No passado, éramos descritos como um gigante adormecido”, afirmou, falando sobre a comunidade latina e talvez sobre a própria Univision. “Mas o gigante acordou. E agora temos que mostrar nosso poder.”


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