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Ultranacionalista vira ministro da Defesa e joga governo de Israel à direita

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JERUSALÉM – O líder ultranacionalista Avigdor Lieberman foi empossado novo ministro da Defesa de Israel, após um acordo entre seu partido, o Yisrael Beitenu, e o Likud, do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Com a decisão de colocar o ex-chanceler de volta no governo, Netanyahu expande sua coalizão para ter maioria garantida no Parlamento, mas analistas temem que a decisão de se inclinar à extrema-direita e escolher um nome contrário à Palestina prejudique os esforços pelo processo de paz. O acordo resulta na criação do governo mais à direita da História do país.

À frente da pasta da Defesa, Lieberman terá como atribuição, entre outros, administrar os territórios palestinos ocupados na Cisjordânia. Juntos, eles comunicaram a parceria.

— Meu governo continua comprometido com a busca pela paz com os palestinos e todos os vizinhos. Minha política não mudou. Continuaremos a procurar toda via para a paz, garantindo a segurança de nossos cidadãos. Um governo mais amplo tornará mais fácil ter novas oportunidades na região — disse Netanyahu.

Lieberman, que vive em um assentamento na Cisjordânia — eles são oficialmente vetados pela ONU —, já prometeu no passado destituir árabes da nacionalidade israelense e pediu o assassinato de membros do Hamas, além de ameaçar bombardear a represa egípcia de Aswan. Mas junto a Netanyahu, ele prometeu uma política “reponsável e razoável” à frente da Defesa.

— Minha intenção é dar segurança e, com nosso forte comprometimento, ter paz e chegar a um acordo final com os palestinos — disse o ultranacionalista.

Antigo rival de Netanyahu, Lieberman já se juntou a seu governo para representá-lo na política externa, mas tem pouca experiência em assuntos de segurança e não tem formação militar. Ele já havia criticado, em 2014, a forma como o país lidou com o conflito de 2014 contra o Hamas, que deixou mais de 2 mil mortos.

Lieberman já defendeu, entre outros, a saída do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. Analistas questionam se a entrada de Lieberman no governo vai provocar um endurecimento da política nos Territórios Palestinos e dificultará a relação com os vizinhos. Com os esforços de paz entre Israel e palestinos praticamente congelados, a entrada de Lieberman no governo poderia afastar qualquer esperança de recomeçar o processo. O Hamas já reagiu a sua posse.

— Lieberman é um tagarela e covarde. Desafio-o a se aproximar de Gaza — ameaçou o líder e cofundador Mahmoud al-Zahar.

Um porta-voz de Abbas, por sua vez, disse que o importante “são ações, não palavras”.

— Israel deveria aprender a verdadeira lição de fazer a paz, porque não há paz nem estabilidade sem que a causa palestina seja resolvida — cutucou Nabil Abu Rdainah.

MANOBRA POR COALIZÃO

Lieberman substitui na Defesa Moshe Yaalon, um general aposentado que ficou afastado das posturas de direita do governo por seu discurso diplomático, que se contrapunha e amenizava as crescentes desavenças de Netanyahu com os EUA e o presidente Barack Obama. Yaalon vinha sendo isolado no governo por deixar subordinados falarem abertamente suas posições, e acabou tendo o cargo oferecido por Netanyahu para Lieberman.

— O Estado de Israel é paciente e tolerante com os fracos em seu meio e suas minorias, mas lamento que elementos extremistas e perigosos tenham tomado conta dele, assim como do partido Likud (de Netanyahu), abalando nosso lar e ameaçando causar dano aos que vivem nele — disse Yaalon ao anunciar sua renúncia.

Apesar da possível desculpa de Netanyahu para tirar Yaalon do governo, a entrada de Lieberman no governo permite a Netanyahu dispor de uma maioria de 66 votos em um total de 120 no Parlamento. Desde sua vitória nas eleições legislativas de março de 2015, Netanyahu tentava ampliar a base de apoio parlamentar para não depender de ameaças de correligionários, fato que o forçou a dissoilver seu governo anterior.

Dentro do Yisrael Beitenu, no entanto, uma de seus seis parlamentares já saiu. Orly Levi-Abekasis afirmou que votará de maneira independente por discordar das políticas sociais e econômicas de sua legenda, da qual prometeu se desfiliar num futuro próximo.


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