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Às vésperas da votação, pesquisas indicam reviravolta contra Brexit

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LONDRES — A dois dias do referendo que decidirá o futuro da relação entre o Reino Unido e a União Europeia (UE), o apoio à permanência do país no bloco voltou a crescer, animando os mercados e fazendo com que a libra esterlina registrasse sua mais alta valorização nos últimos sete anos. Mesmo assim, o resultado deve ser bem apertado. Em três pesquisas realizadas após o assassinato da parlamentar trabalhista Jo Cox, na quinta-feira, os favoráveis à permanência voltaram à liderança.

Na da Survation para o “Mail on Sunday”, 45% das intenções apoiaram a UE, contra 42% dos favoráveis à saída do bloco — o chamado Brexit. Já a enquete do instituto ORB para o “Daily Telegraph” indicou 53% de apoio à permanência, enquanto 46 % sinalizaram voto contra.

Por sua vez, o instituto YouGov apontou apoio de 44% à permanência no bloco (subida de cinco pontos em relação à pesquisa anterior), enquanto o suporte ao Brexit alcançou 43% (queda de três pontos). Na enquete anterior, uma semana antes, o apoio à saída tinha registrado subida de sete pontos percentuais, em tendência de alta, que foi revertida.

Embora um apanhado das últimas seis pesquisas aponte uma clara divisão entre os eleitores do país, a Betfair, principal empresa britânica de apostas on-line, afirma que a opção pela permanência tem 78% de chances de sair com vitória na quinta-feira. A palavra final caberá aos indecisos, que somam cerca de 20% do eleitorado.

PARLAMENTARES HOMENAGEIAM JO COX

Um outro dado levantado pela pesquisa ORB que animou o lado favorável à permanência na UE foi que subiu de 54% para 69% os eleitores adeptos dessa posição que declararam certeza de comparecer às urnas para votar, enquanto entre os apoiadores do Brexit, desceu de 69% para 64%.

— O resultado do referendo ainda é incerto, apesar do impulso para a permanência — disse ao “Daily Telegraph” o especialista Lynton Crosby.

Além do assassinato da deputada Jo Cox — uma fervorosa defensora da UE morta por um simpatizante do partido Reino Unido Primeiro, de extrema-direita — entre os muitos fatores que parecem ter influenciado o recente crescimento do apoio à permanência está um pôster apresentado pelo líder do Partido pela Independência do Reino Unido (Ukip), Nigel Farage, que mostra uma longa fila de refugiados e indica que o Reino Unido chegou a seu “ponto de ruptura”. A peça publicitária levou uma das principais apoiadoras do Brexit, a baronesa Sayeeda Warsi, que foi copresidente do Partido Conservador, do primeiro-ministro David Cameron, a declarar que estava abandonando a campanha por suas “táticas odiosas”, e mudando de lado.

— Estamos prontos para contar mentiras e espalhar ódio e xenofobia somente para vencer uma campanha? — perguntou Warsi. — Para mim, esse é um passo além do aceitável. Este tipo de campanha xenófoba e racista pode ser politicamente útil a curto prazo, mas causará danos às comunidades ao longo dos anos.

Durante o fim de semana, nomes nos dois lados da campanha se manifestaram contra o pôster. Cameron o classificou como uma “tentativa irresponsável de apavorar o eleitorado”, enquanto o ministro da Economia, George Osborne, afirmou que a peça publicitária era “nojenta” e a comparou a obras publicitárias do regime nazista alemão. Já o presidente da campanha anti-UE, Michael Gove, afirmou que o cartaz o fez “estremecer”.

Já Farage respondeu dizendo a imagem dos refugiados não era muito mais intensa do que as criados pela equipe liderada por Gove, e afirmou que uma peça publicitária não causaria tanta polêmica, não fosse pela morte de Cox. O líder do Ukip acusa o premier de tentar se aproveitar politicamente do assassinato da parlamentar trabalhista, morta pelo neonazista Thomas Mair.

— O que observamos aqui é que o primeiro-ministro e a campanha a favor da permanência estão tentando associar as ações de um indivíduo maluco aos motivos que levam metade do Reino Unido a querer de volta o controle de nossas fronteiras — afirmou o líder do Ukip. — E acho que isso tem sido feito de uma maneira muito errada.

O assassinato de Cox — baleada e esfaqueada por Mair na última quinta-feira — interrompeu a campanha pelo referendo, mas levou parlamentares a se reunirem ontem em sessão especial em homenagem à deputada trabalhista. O recesso em virtude do referendo foi suspenso para que seus colegas realizassem uma cerimônia, que acompanhou seu velório na Igreja de St. Margaret.

— Um ataque como esse não atinge apenas um indivíduo, mas sim nossa liberdade, e é por isso que nos reunimos aqui hoje para honrar Jo e redobrar nossa dedicação à democracia — afirmou o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow.

A cerimônia contou ainda com discursos do líder trabalhista, Jeremy Corbyn — que pediu aos parlamentares que “adotassem políticas mais gentis, evitando semear o ódio e a discórdia” e buscassem “mudar a política britânica para apostar mais na tolerância e menos nas condenações” — e de Cameron, que descreveu Cox como “uma colega e amiga extraordinária que trazia à tona o melhor nas pessoas a seu redor”.

— Estamos homenageando uma política determinada e progressista que representava o que a Humanidade tem de melhor e que várias vezes comprovou o poder da política de fazer do mundo um lugar melhor — afirmou o premier.

DEZ PRÊMIOS NOBEL DE ECONOMIA APOIAM A UE

Além de diversas celebridades e diários britânicos, a opção pela permanência na UE ganhou o reforço de dez economistas laureados com o Prêmio Nobel, que assinaram uma carta conjunta, publicada pelo “Guardian, na qual afirmam que “o país estaria melhor economicamente dentro da UE”. Segundo o grupo — que se junta a 13 cientistas agraciados com o Nobel que também apoiaram a permanência na UE há dez dias — “as firmas e os trabalhadores britânicos precisam de acesso total ao mercado comum. O Brexit causaria grandes incertezas sobre os futuros arranjos comerciais alternativos do Reino Unido”. Entre os signatários da carta estão seis americanos, três britânicos e um francês. Segundo eles, os efeitos do Brexit “persistiriam por muitos anos”.


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