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Promotor procura fortuna de sócio dos Kirchner até debaixo da terra

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BUENOS AIRES —As imagens têm causado debate e, sobretudo, comoção entre os argentinos: um promotor vasculhando campos na província de Santa Cruz que pertencem ao empresário Lázaro Báez, sócio e amigo da família Kirchner, acusado de lavagem de dinheiro e preso há três semanas. Dando verdadeiro tom cinematográfico a um dos casos judiciais que poderia complicar a vida da ex-presidente Cristina Kirchner nos próximos meses, o promotor Guillermo Marijuán, encarregado de investigar a “rota do dinheiro K”, desembarcou na terra natal dos Kirchner para procurar, até debaixo da terra, resquícios da fortuna construída por Báez durante os governos de Néstor e Cristina. Segundo depoimentos em poder de Marijuán e do juiz Sebastián Casanello, o empresário comandou, junto com o ex-presidente, uma rede de lavagem de dinheiro financiada com recursos de obras públicas.

Nos últimos três dias, os principais canais de TV da Argentina mostraram o promotor em ação, utilizando máquinas escavadeiras e cães farejadores da Receita Federal local para tentar localizar o dinheiro que Báez teria escondido em suas terras, seguindo o modus operandi, por exemplo, do narcotraficante colombiano Pablo Escobar. Até agora foi encontrada uma mala com US$ 90 mil, cem carros de luxo, quadriciclos, motos e até mesmo uma estátua de bronze de Kirchner, de 1,80 metro de altura. Marijuán detectou, ainda, cerca de 150 propriedades da família Báez que não tinham sido declaradas. A Justiça uruguaia, que também tem o empresário kirchnerista na mira, embargou recentemente uma chácara de 150 hectares adquirida no apogeu de sua vida de magnata.

Antes da chegada dos Kirchner ao poder, Báez era gerente do Banco da Província de Santa Cruz e, segundo confirmam pessoas que o conheceram na época, entre elas o ex-vice-governador provincial Eduardo Arnold, “não tinha empresas nem imóveis”.

— A hipótese mais forte é o sobrepreço em obras públicas — declarou ontem o promotor.

Essa sempre foi, de fato, a teoria de vários opositores do kirchnerismo, que nos últimos anos denunciaram os negócios de Báez na Justiça. O caso começou a ser investigado em 2013, mas a passos lentos. Só foi reativado no início do ano, com a divulgação de vídeos que mostravam Martín, um dos filhos de Lázaro, contando mais de US$ 3 milhões, numa agência cambial clandestina. A vereadora portenha Graciela Ocaña, que foi ministra da Saúde do primeiro governo de Cristina, contribuiu com várias acusações contra o empresário que hoje são parte do expediente em mãos de Casanello.

— As empresas de Báez, sobretudo a Austral Construções, foram criadas a partir de 2003 para receber dinheiro destinado a obras públicas que, ao final, era para os Kirchner — disse Graciela ao GLOBO, lembrando que, quando Cristina encerrou o segundo mandato, em dezembro, a Austral Construções demitiu 1.800 trabalhadores e fechou. — Como é possível que a governadora da Santa Cruz, Alicia Kirchner, cunhada da ex-presidente, não faça nada em relação às dívidas que ainda tem a companhia? Não faz porque tudo isso era dos Kirchner.

‘BÁEZ É TESTA-DE-FERRO DOS KIRCHNER’

A sociedade entre Báez e o casal foi confirmada com a divulgação de contratos entre empresas de ambas famílias.

— A construtora de Báez alugou dezenas de quartos de um dos hotéis de luxo dos Kirchner que nunca foram usados. Foi claramente uma manobra para lavar dinheiro — enfatizou a vereadora.

A Austral Construções também foi a encarregada do projeto de mausoléu onde está enterrado Kirchner, na cidade de Río Gallegos, capital de Santa Cruz. Existem fotos que mostram Báez e Cristina visitando juntos o túmulo do ex-presidente.

— Não tenho dúvidas de que Báez e os Kirchner foram e são sócios. As companhias de Báez obtiveram a concessão de 80% das obras públicas de Santa Cruz durante os governos Kirchner — disse Arnold, que conviveu com o empresário quando Kirchner era governador. — Báez é testa-de-ferro dos Kirchner, tudo era para eles. Meu temor é que este processo judicial não chegue aonde deve chegar.

A família Kirchner já faz parte do expediente de Casanello e Marijuán. Uma das testemunhas do caso, o ex-colaborador do empresário, Leonardo Fariña — hoje de paradeiro desconhecido e com proteção estatal — deu recentemente detalhes específicos da suposta rede de lavagem de dinheiro administrada por Kirchner e Báez e revelou, ainda, que após a morte do ex-chefe de Estado, em outubro de 2010, seu sócio passou a tratar dos negócios conjuntos com Cristina. A declaração de Fariña levou o promotor a solicitar que a ex-presidente também seja investigada. Outra testemunha é o ex-advogado de Báez, Jorge Oscar Chueco, que após desaparecer foi encontrado em Encarnación, no Paraguai. Levado para Buenos Aires, preso, confessou ter pensado em se suicidar.

— Escolheram Santa Cruz porque lá se sentem impunes — assegurou o dirigente da União Cívica Radical (UCR) Álvaro De Lamadrid, que apresentou, em fevereiro, uma denúncia judicial contra Cristina por suposta lavagem de dinheiro, narcotráfico e enriquecimento ilícito. — A ex-presidente forma parte de uma organização criminosa que tem vínculos internacionais.


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