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Profissão: levar uma tartaruga para passear

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NOVA YORK – A mulher que leva a tartaruga mais famosa de Nova York para passear foi ao trabalho em sua casa no Harlem em uma tarde de segunda-feira. A tartaruga lhe deixou um presente grande no saguão do apartamento e estava deixando outro na cozinha.

— Obrigada, amigo. Eu adoro isso — disse Amalia McCallister a Henry, a tartaruga-de-esporas-africana, também conhecida como “Notortoise BIG” (referência a um dos rappers mais famosos dos EUA, o falecido The Notorious B.I.G.) em suas contas no Facebook e Instagram.

Após vencer centenas de pessoas numa disputa para ganhar US$ 10 por hora para cuidar de um réptil do tamanho de uma forma de assar, Amalia está tranquila. Ela limpa Henry com lenços umedecidos, esfrega condicionador de tartaruga em sua carapaça com reentrâncias e o guia para a porta. Surpreendentemente ágil para uma tartaruga de oito quilos, Henry correu para a saída. Amalia trancou a porta atrás dele e o carregou por dois lances de escada, tomando cuidando com suas pernas, casca armada com pontas e a possibilidade de que ele poderia sujar seu longo vestido azul. Debaixo das escadas havia dois carrinhos de bebê. Amalia pegou aquele em que se lia “somente para bichos de estimação”.

— Este é o dele — explica.

No fim das contas, cachorros não são os únicos bichos que desejam se exercitar ao ar livre. A proprietária de Henry, Amanda Green, redatora do site de estilo de vida Refinery29, costumava levá-lo ao Central Park somente nos finais de semana, mas ele estava destruindo o apartamento.

— Ele arranhava as paredes do corredor — conta Green. — Eu sabia que caminhava o dia todo pelo corredor enquanto eu estava fora, assim comecei a me sentir mal.

Então, em março, ela colocou um anúncio no Craigslist procurando “alguém que ame animais e seja responsável” para levar Henry até o parque durante os dias da semana. “Henry pode andar livremente sob o seu olhar atencioso. Não é necessário ter experiência com tartarugas”, dizia o texto. Aquilo provocou uma avalanche de atenção da mídia. Surgiram interessados do mundo inteiro. Amalia, 24 anos, ex-estudante de arte que trabalha em uma pet shop a poucas quadras dali, conseguiu o emprego.

Segunda-feira foi seu segundo dia levando Henry para passear sozinha. Ela o colocou olhando para trás no carrinho.

— Eu tento mantê-lo virado para ele não se empolgar demais, mas ele se vira sozinho — disse.

Eles só andaram uma quadra antes de serem detidos pela polícia.

— Oi — disse uma policial que desceu do furgão para cumprimentar Henry. Ela olhou pela janela de tela do carrinho. Henry enfiara uma perna pelo buraco que abrira.

Amalia empurrou o carrinho. Mais dois quarteirões até o parque. Henry enfiou a cabeça pelo buraco, feito um cachorro na janela de um carro rodando. Darrell Johnson, bebendo refrigerante na praça perto do parque, perguntou:

— É menino ou menina?

— Menino — respondeu Amalia.

— Onde está a fêmea? — quis saber Johnson, de 50 anos. — Como teremos mais tartaruguinhas?

Ele se ofereceu para segurar um cartaz procurando uma namorada para Henry.

Dentro do parque, pessoas tomando banho de sol se reuniam na margem do lago Harlem Meer e patos espirravam água. Amalia escolheu um lugar sossegado, um belo gramado perto da parede da Rua 110.

— O melhor jeito de saber se o lugar é bom para Henry é procurando ervas ou dentes-de-leão. Como aqui não tem pesticida, ele pode comer a grama. Ele também adora comer dente-de-leão. É como um campo cheio de batatinhas fritas para ele — disse.

Ela o colocou no gramado, onde Henry passou duas horas devorando avidamente grama. Amalia o presenteou com um pequeno ramalhete de dentes-de-leão: um verdadeiro banquete. Todos que passavam olhavam pelo menos duas vezes. Os visitantes aumentaram após o horário de fim das aulas.

— É uma tartaruga! — exclamou Stacy Burroughs a suas sobrinhas de 3 anos, Sophia e Grace Burroughs.

— Se quiserem, podem tocar na casca — diz Amalia.

As meninas recuaram, mas a tia se empolgou.

— Vou tocar a carapaça. É gostosa e fresca — fala Stacy.

A curiosidade de Henry pode lhe render problemas. Amalia enviou uma mensagem de texto para Amanda: “Havia cogumelos escondidos debaixo da grama que Henry comeu. Eu não deixei ele pegar, mas acho que ele mordeu um deles. Devo me preocupar?”

“Vamos ficar de olho nele”, foi a resposta da dona.

Mais crianças pequenas e acompanhantes chegaram.

— As tartarugas são mais lentas do que os jabutis? — quis saber Louis Sclafani, 5 anos, e Amalia confessou que não tinha certeza.

Logo chegou a hora de levar Henry para casa. Ela disse que até agora achou o trabalho muito divertido.

— Para quem mora em Nova York, é muito importante ter contato com a natureza. Eu ia adorar fazer mais coisas assim, levar bichos de estimação esquisitos para passear.

No apartamento, Henry se arrastou para o quarto, onde Amanda deixa um cobertorzinho sobre uma almofada de aquecimento no chão.

— Acho que ele está cansado — arrisca Amalia.

Verdade. Henry sentou na almofada, cabeça voltada para a parede, imóvel. Dava para imaginar que ele sonhava com dentes-de-leão.


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