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‘Povo pesa mais que interesses de Maduro’, diz deputada mais jovem da Venezuela

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RIO – De família humilde e chavista, a mais jovem parlamentar na Assembleia Nacional (AN) venezuelana é opositora. Eleita pelo Primeiro Justiça, de Henrique Capriles, Marialbert Barrios aposta na nova geração — que passou metade da vida sob o mesmo governo — para mudar o quadro atual no país. Sua carreira começou ainda no movimento estudantil, e deslanchou quando ela decidiu colaborar com a campanha de Capriles, em 2011. Aos 25 anos, reconhece algumas melhorias durante o governo de Hugo Chávez, mas critica fortemente Nicolás Maduro, que, para ela, é o retrato de um modelo que fracassou. “Maduro sai ainda este ano”.

Com só 25 anos você se converteu na mais jovem deputada da AN. O apoio dos jovens foi importante?

Somos protagonistas do que chamamos do futuro do pais, os primeiros interessados na mudança. São mães solteiras que não conseguem dar comida aos filhos, jovens que se formam e não conseguem exercer a profissão ou recebem baixos salários, são pequenos empresários que veem o governo lhes virar as costas… Antes de votar num nome, votamos numa alternativa. Me vejo como instrumento de um país que aposta na juventude para mudar.

Sua geração viveu quase sempre sob o mesmo governo. Acha que essa seja uma das razões para tanto descontentamento com o chavismo?

Passei quase metade da minha vida vendo políticos satisfazendo apenas a um grupo, vendo só um jeito de fazer política. O resultado é uma fuga de cérebros sem precedentes, que não podemos quantificar porque o governo não é transparente com números. Jovens que não têm segurança para andar de ônibus, vulneráveis às drogas por falta de trabalho, vítimas de má nutrição por falta de alimentos. São 17 anos de um governo que levou a esse panorama. Não temos outra opção que não seja assumir o compromisso de construir o futuro que o país merece.

Você vem de uma família chavista. Como viram sua opção pela oposição?

Aprendi com eles a respeitar os que pensam diferente, e eles respeitaram minha posição política aos 18 anos, quando entrei no movimento estudantil. Entre 2011 e 2013, participei da campanha de Capriles, e eles não fizeram comentários. Estavam conscientes de que eu fazia parte da oposição descontente com o modelo chavista, que hoje vemos que fracassou.

Como você avalia o governo de Hugo Chávez?

Posso citar como boa a intenção inicial de organizar as bases e ajudar os venezuelanos que vieram de setores populares. Mas essa intenção se transformou numa necessidade de satisfazer alguns grupos políticos, não resolveu problemas de infraestrutura que temos até hoje e, na economia, o saldo final foi uma grande escassez de alimentos e a pobreza, que se mantém, levando aos piores índices de insegurança do país. Hoje um salário mínimo acaba com duas idas ao supermercado.

E o governo Maduro?

A consequência de Chávez não foram suas políticas populares, mas políticas populistas, que aparecem apenas em época eleitoral. Hoje, Maduro representa o pior dessas políticas. É um governo que não se preocupa com o povo. Por exemplo, o Supremo Tribunal de Justiça declarou recententemente inconstitucional uma lei para resolver a crise de medicamentos no país.

Você acredita na convocação de um referendo revocatório este ano?

Sim. E ele não irá apenas tirar Maduro, mas esse modelo que fracassou. Estou convencida de que 28 milhões de pessoas pesam muito mais que os interesses pessoais de Maduro. O povo venezuelano merece se alimentar e viver melhor. Defendo uma solução constitucional, pacífica e democrática.

Como você vê a atual polarização na América Latina?

O que vivemos hoje prescinde de um termo ideológico: é uma resposta a uma necessidade que não foi coberta pelos governos que estão no poder. Mostra que estamos ávidos de progresso, e por isso é preciso fazer mudanças.

Capriles é o nome da mudança?

Acho que antes de definir qual é a cara da oposição, de decidir quem será o próximo presidente, precisamos sair desta crise.


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