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Obama e Macri mostram sintonia em visita

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BUENOS AIRES — A sintonia entre os presidentes dos Estados Unidos e da Argentina, Barack Obama e Mauricio Macri, respectivamente, foi tão intensa que, após o encontro na Casa Rosada de quarta-feira, o chefe de Estado americano lamentou ter apenas nove meses pela frente para “trabalhar” junto a seu mais novo parceiro estratégico na região. Macri e Obama trocaram elogios, agradecimentos, reconhecimentos e promessas de uma parceria no combate ao terrorismo e ao narcotráfico, em epidemias como as de zika e na defesa dos direitos humanos e ambientais, entre outros.

E às vésperas do 40º aniversário do golpe de Estado que, em 24 de março de 1976, iniciou uma das ditaduras mais violentas da História da Argentina, o presidente americano confirmou a abertura de arquivos militares e de Inteligência. E disse que Washington está disposta a “fazer sua parte” para esclarecer os crimes cometidos pelos militares argentinos. Hoje, os dois presidentes visitarão, juntos, o Parque da Memória, construído em homenagem às vítimas do regime militar, que terminou em 1983.

— Queremos fazer a nossa parte e esperamos que ajude a reconstruir a confiança — afirmou Barack Obama.

O presidente evitou pedir desculpas em nome do governo americano — ou até mesmo fazer uma autocrítica pelo papel da Casa Branca nas ditaduras da Argentina e de outros países da região nas décadas de 1970 e 1980. O chefe de Estado usou expressões como “aprendemos a lição”, mas não foi tão longe como esperavam organizações de defesa dos direitos humanos locais, que questionaram sua presença no país no dia em que serão realizadas manifestações em repúdio ao golpe. Junto a representantes de ONGs, o Prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel chegou a pedir que Obama cancelasse sua primeira visita à Argentina.

— Os EUA são responsáveis pelos golpes de Estado na região — declarou Esquivel.

Macri, no entanto, contemporizou:

— Quero agradecer que, faltando poucas horas para o 40º aniversário do golpe militar que consolidou o capítulo mais escuro de nossa História, o senhor, diante de nosso pedido de que fossem abertos os arquivos, aceitou. Para os argentinos, foi uma demonstração muito importante — disse. — Que seja o começo de uma etapa de relações maduras, inteligentes, construtivas, que têm como única preocupação melhorar a qualidade de vida de nossa gente.

‘Exemplo para outros países na região’

Visivelmente satisfeito pela Argentina ter sido escolhida como o segundo destino de Obama na região, após sua histórica viagem a Cuba, o presidente argentino disse que ambos os governos compartilham “valores profundos por democracia, direitos individuais, justiça e paz”. A química entre os chefes de Estado contrastou com a tensão entre os dois países durante os quase 13 anos de governos kirchneristas. Os ex-presidentes Néstor e Cristina Kirchner nunca esconderam suas críticas à Casa Branca e, em alguns momentos, protagonizaram conflitos que estremeceram o relacionamento bilateral.

Em setembro do ano passado, Cristina chegou a acusar o governo americano de proteger o agente de Inteligência argentino Jaime Stiusso, considerado peça-chave nas investigações sobre a morte do promotor Alberto Nisman, morto em janeiro do mesmo ano.

— Macri está se tornando um exemplo para outros países na região… é um homem apressado, por ter se movimentado rapidamente com tantas reformas e por voltar a reconectar o país à comunidade global — disse Obama, que não economizou palavras de admiração na hora de referir-se ao presidente argentino.

Num clima descontraído, não faltaram piadas e gracinhas. Obama revelou ter experimentado chimarrão pela primeira vez e comentou o sucesso da filha caçula de Macri, a pequena Antonia, de 4 anos, na rede social Facebook. Já o presidente argentino confirmou que estará presente nas Olimpíadas, apesar “de estar fora de forma”.

As primeiras-damas Juliana Awada e Michelle Obama também mostraram se entender muito bem num encontro que compartilharam com estudantes, no Centro Metropolitano de Design portenho. Em seu discurso, Michelle destacou o papel das mulheres argentinas na política e em movimentos sociais, lembrando a campanha “Nem uma menos”, de repúdio ao assassinato de mulheres no país.

Depois da reunião na Casa Rosada, o presidente americano fez uma rápida visita à Catedral portenha, onde homenageou as vítimas do atentado à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), que matou 85 pessoas em 1994. À tarde, Obama se reuniu com jovens empreendedores e, à noite, foi a estrela de um jantar organizado pelo governo argentino no Centro Cultural Néstor Kirchner.

— Me entristece que só coincidiremos durante nove meses. Ele (Macri) está no começo de seu governo, e eu, no fim do meu. Mas podemos empreender um caminho eficiente, que se estenderá no futuro — disse, aparentando melancolia.


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