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Obama: de estranho no ninho ao resgate dos democratas

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WASHINGTON – O presidente Barack Obama ganhou destaque como um tipo diferente de democrata, um estranho no ninho que não fazia parte do establishment e queria traçar um destino novo. Agora, oito anos depois de se eleger, o chefe de Estado trabalha duro para restaurar o partido. Ele assistiu a uma maior perda eleitoral da legenda do que qualquer outro presidente que teve dois mandatos consecutivos, desde a Segunda Guerra Mundial. Mas esta eleição é sua última oportunidade para inverter esta tendência. E é também um desafio para o presidente, que tem experimentado com a sua própria base política fora do Comitê Nacional Democrata.

Entre 2008 e 2015, os democratas perderam 13 cadeiras do Senado, 69 assentos da Câmara de Representantes, 913 vagas legislativas estaduais, 11 governadores e 32 Assembleias Legislativas estaduais, de acordo com dados compilados pelo professor Larry Sabato, da Universidade de Virgínia. O único presidente nos últimos 75 anos que chega perto é Dwight Eisenhower, que assistiu a um declínio similar para os republicanos durante seu mandato (1953-1961).

— O Partido Republicano é indiscutivelmente mais forte agora em relação aos últimos 80 anos, apesar de não ter a Casa Branca — disse Simon Rosenberg, um democrata de longa data e presidente do centro de estudos progressista NDN.

Os democratas também estão preocupados se a coalizão estimulada em 2008, e depois remontada em 2012, irá se esvaziar se Obama não estiver mais na cédula de votação. As primárias, até agora, enfraqueceram esta coalizão, com os jovens migrando para o senador Bernie Sanders, enquanto muitos negros — especialmente os mais velhos — se voltaram para a ex-secretária de Estado Hillary Clinton.

Presidente modernizou arrecadação

Muitos fatores contribuíram para os ganhos dos republicanos nos níveis estadual e federal, incluindo um esforço concertado por seus doadores para ganhar disputas menores. Os defensores de Obama afirmam que, após grandes vitórias em 2006 e 2008, era previsível que os democratas perdessem terreno significativo nas eleições de meio de mandato de 2010 e 2014. E apontam para o enorme aumento no número de voluntários da campanha democrata — de cerca de 252 mil em 2004 para consideráveis 2,2 milhões em 2012.

— Barack Obama conseguiu, sozinho, modernizar a capacidade dos democratas para empreender campanhas em nível local — disse Jim Messina, responsável pela campanha de reeleição.

Rosenberg concorda, dizendo que o presidente se beneficiou do trabalho de Bill Clinton, o único outro presidente democrata de dois mandatos da última geração.

— Clinton estabeleceu o quadro intelectual para o Partido Democrata, e Obama modernizou suas políticas — afirmou Rosenberg. — O que não se tem ainda é um grande conjunto de líderes da próxima geração para levá-lo adiante.

E algumas das primeiras decisões de Obama continuam a repercutir negativamente para o partido. O grupo Organizing for Action (OFA), sem fins lucrativos e criado a partir da campanha de Obama para a reeleição, vem rivalizando continuamente com o Comitê Nacional Democrata (CND). Nos primeiros seis meses de 2013, o CND arrecadou US$ 30,8 milhões, enquanto o OFA levantou US$ 13 milhões. E isto num momento em que o CND acumulava mais de US$ 18 milhões em dívidas.

Mas, se muitos voluntários do OFA concentraram-se em referendos locais e outras batalhas políticas menores, o grupo também ganhou a inimizade de alguns fiéis do partido por supostamente desviar recursos.

Agora, com a popularidade em alta entre os democratas e nenhuma eleição pela frente, Obama tem trabalhado para fortalecer seu partido, tanto financeira quanto politicamente. Seus assessores dizem que ele transformou questões controversas, como a imigração, os direitos dos gays e as alterações climáticas, numa vantagem para os democratas.

— Ele vai ser agressivo, do nível presidencial a níveis mais baixos como estadual e de representantes locais — explicou David Simas, que dirige o Escritório de Estratégia Política da Casa Branca. — Haverá uma nomeação democrata e candidatos democratas. Eles serão os únicos a dirigir suas campanhas, e o presidente vai estar lá para ser tão útil quanto for possível.

Recentemente em Dallas, diante de dezenas de convidados que doaram milhares de dólares para o comitê de campanha, Obama diagnosticou um dos problemas:

— Os democratas não são muito bons em focar em campanhas de candidatos que concorrem a cargos menores — disse, segundo dois participantes.

O presidente pode ter dito o óbvio. Mas reflete uma mudança no pensamento entre os democratas, que estão trabalhando furiosamente para escorar seus candidatos em nível estadual. Em 2014, muitos candidatos de estados conservadores queriam aproveitar as proezas da angariação de fundos de Obama, mas estavam relutantes em aparecer ao lado de um presidente com baixos índices de popularidade. Já em 2016 é diferente.


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