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Hillary busca não repetir erros de republicanos, e Trump parte para o ataque

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WASHINGTON — Após as primárias mais surpreendentes na política americana, os partidos buscam novas estratégias para as eleições presidenciais de novembro. A equipe de Hillary Clinton, provável candidata democrata, estuda os erros dos 15 postulantes que falharam na tentativa de barrar Donald Trump no campo republicano, ao mesmo tempo em que corre atrás de doadores que, até então, eram mais próximos dos conservadores. O magnata, contudo, já parte para o ataque contra a democrata, e especialistas afirmam que seu eleitorado parece imune às tentativas de denegrir a imagem do polêmico bilionário.

Neste cenário, a luta pelo eleitorado independente, no centro do espectro político, é essencial para a vitória. E em um ano tão imprevisível — no qual a maior parte dos analistas falhou ao não prever a força de Trump e o fênomeno Bernie Sanders no campo democrata, levando o partido para uma posição mais à esquerda — qualquer erro pode ser fatal.

O site “Politico” informou que diversos assessores de Hillary Clinton — que deve levar a candidatura, apesar da disputa com Sanders que tende a ir até junho — se preocupam com uma questão: evitar que a candidata seja atropelada como foi Jeb Bush, o ex-governador da Flórida, filho e irmão de ex-presidentes, que passou de favorito a humilhado na disputa republicana. O temor não é em vão: Jeb agiu com passividade aos insultos e e acabou com resultado muito aquém do previsto.

E mesmo quem, entre os republicanos, tentou enfrentá-lo, como o senador Marco Rubio, acabou não tendo sucesso. Hillary, considerada uma pessoa com pouco carisma que se esforça para parecer espontânea nesta eleição, terá de encarar um candidato impulsivo e que sabe como poucos usar respostas rápidas e termos vagos em seus discursos, mas com grande apelo, como o slogan de sua campanha: “Tornar os EUA grandes novamente”.

— Ela não será passiva, como vimos muitos dos republicanos vencidos por Trump. Mas também não vai baixar o nível. Ela pode desafiá-lo de uma forma que os republicanos não podiam, ao tratar de sua retórica odiosa e divisionista — afirmou ao “Politico” Brian Fallon, porta-voz da campanha de Hillary, que no domingo obteve mais quatro delegados na prévia em Guam.

ELEITORADO FEMINNO É PONTO FRACO DE TRUMP

Trump, por sua vez, pode usar os ataques contra a democrata para unir os republicanos.

Para Melinda Henneberger, editora-chefe do Roll Call, especializado em política, “jamais se viu um ano como este na política americana”.

— Não parece ser possível dissuadir os homens que apoiam Trump com qualquer anúncio contrário a ele. As mulheres poderiam ser dissuadidas, principalmente se lembrarmos o que ele disse sobre elas.

O poderoso eleitorado feminino é, juntamente com os latinos — assustados com as políticas de imigração — o grande calcanhar de Aquiles do bilionário. Mas analistas afirmam que, se ele tiver 65% dos votos dos homens brancos, poderá ser competitivo. E ele já acenou aos mexicanos ao ser fotografado esta semana comendo tacos. Muitos dos republicanos que estão dizendo que não votarão em Trump podem mudar de ideia diante do que acreditam ser uma “ameaça maior”: o terceiro mandato seguido dos democratas na Casa Branca. E ele atrai os independentes, cansados da política, que buscam um outsider.

— Pode ser mais fácil para Trump conquistar independentes, pois fez campanha como candidato anti-establishment e seus eleitores vêm de diversas origens sociais e econômicas — afirmou ao GLOBO Michelle Whittaker, diretora da ONG Fair Vote (Voto Justo).

Ela lembra que muitas vezes, o que está em jogo para o eleitor é a rejeição — evitar que um candidato considerado “ainda pior” ganhe. Em outras, o reflexo da falta de opções é o baixo comparecimento. Os jovens também podem desequilibrar. Entre os democratas, eles estão majoritariamente com Sanders. Vão se mobilizar a sair de casa e votar em Hillary, que consideram um exemplo da velha política?

— Ambos vão tentar parecer mais compreensíveis para os jovens. E isso poderá soar estranho — afirmou o cientista político Michael Crovetto, da Cornell University, que viu a polarização gerar um desafio extra: — Quando os candidatos mudaram a mensagem para atrair pessoas de extrema-esquerda ou extrema-direita, podem ter posto em risco o eleitorado do centro. E o centro é o mais importante para ganhar a eleição.

De fato, uma pesquisa Gallup, do ano passado, mostra 43% dos eleitores se classificando como independentes, um recorde, contra 30% democratas e 26% republicanos. Além disso, a luta agora passa pelos doadores. A previsão é que a campanha de cada candidato ultrapasse, pela primeira vez, US$ 1 bilhão (ou R$ 7 bilhões as duas campanhas, ou mais da metade do custo das obras para levar o metrô do Rio à Barra). E segundo o “Politico”, emissários de Hillary já foram atrás de antigos doadores republicanos. Querem obter o dinheiro dos que se decepcionam com o bilionário populista e com sua visão mais fechada sobre comércio internacional. Resta saber, no fim, como chegará a situação eleitoral em novembro. E, como tem ocorrido até agora, as previsões tendem a falhar.


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