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Florença evita pichações em catedral histórica com tecnologia

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As autoridades de Florença, capital da Toscana na Itália, decidiram buscar uma solução digital para as pinchações constante nas paredes da Catedral de Santa Maria del Fiore, começando pela torre do sino de Giotto, a Campanile. Depois de limpar todas as paredes da escadaria de 414 degraus no início deste ano, as autoridades incluíram três tablets na escada. A expectativa é que os visitantes deixem uma marca virtual, sem danificar o monumento.

As mensagens serão armazenadas em um site e arquivadas na internet por toda a eternidade. Qualquer outra marca será removida instantaneamente, conforme explica um enorme cartaz em italiano e em inglês na entrada da torre do relógio.

— Precisávamos de algo para impedir as pichações depois de limparmos as paredes e esperamos que o aplicativo ajude — afirmou Alice Filipponi, estrategista de mídias sociais da Opera di Santa Maria del Fiore, a instituição que cuida do complexo do Duomo de Florença. — Nosso objetivo é permitir que as pessoas deixem seus testemunhos sem sujar as paredes outra vez.

Beatrice Agostini, arquiteta da instituição e gestora de manutenção do local, precisou de três meses e de uma equipe de nove especialistas em restauração para limpar as paredes da torre utilizando solventes em gel e lasers. Ela e a equipe não desejam passar por isso outra vez, especialmente porque diversas partes da catedral ainda precisam ser limpas.

— Queremos que as pessoas entendam que as marcas não são apenas poluição visual, mas causam um dano real ao monumento. Remover as escritas é um problema. No mármore, é quase impossível; as manchas ficam para sempre.

Ela acrescentou que não é possível colocar câmeras em todo o canto, já que o espaço é estreito demais. Então a melhor aposta seria oferecer uma alternativa.

E parece que a aposta compensou na torre do sino. Nos primeiros três dias do experimento, os mais de três mil visitantes deixaram 304 mensagens digitais – e a parede permaneceu intocada.

Com a pichação virtual, os visitantes podem escolher o plano de fundo: madeira ou mármore, metal ou gesso – parecidos com o monumento. Além disso, é possível usar a ferramenta de preferência: batom, tinta spray ou dedos para deixar símbolos, nomes e mensagens.

Os usuários também informam seus endereços de e-mail para que, assim que as mensagens sejam aprovadas, eles possam ser informados da publicação.

Nos próximos anos, as mensagens serão impressas e incluídas no arquivo de papel da Opera di Santa Maria del Fiore, cujos primeiros documentos datam de 1296.

— Ainda não sabemos se seremos capazes de educar as pessoas, mas até o momento, nossa internet está repleta de mensagens e as paredes continuam limpas. Por isso, podemos dizer que já está funcionando — afirmou o presidente da instituição, Franco Lucchesi.

Contudo, o problema já resistiu a algumas soluções e certamente não é uma novidade. Uma das pichações no alto do sino da torre é de 1899.

— Espero que funcione, mas, com base em minha experiência, não existe ação definitiva contra isso — afirmou Giorgio Moretti, presidente de um grupo voluntário urbano com sede em Florença, os Anjos da Beleza, que limpam a cidade histórica há anos. — Todas as iniciativas são importantes, e esse é um projeto muito legal, mas é igualmente importante apagar constantemente as marcas deixadas.

Em Florença, a batalha para proteger os monumentos dos pichadores compulsivos e dos vândalos já dura décadas, mas tem piorado nos últimos anos. Em 2015, a catedral foi equipada com um sistema de alarmes e uma câmera de vigilância depois que uma nova pichação começou a aparecer a cada manhã.

Algumas pessoas confessaram seus erros. Lucchesi se lembra de “peregrinações” de um grupo de japoneses que voltava para se desculpar pelos danos causados pelos estudantes – por três anos seguidos.

— O fato de o monumento estar tão limpo também ajuda. Ninguém tem coragem de ser o primeiro a emporcalhar — afirmou Laura Bachmann, uma alemã de 21 anos que estava visitando Florença com uma amiga.

Para os especialistas, a limpeza é a principal ferramenta:

— Os vândalos fazem esse tipo de coisa em que todo mundo pode ver sua marca. Infelizmente, eu acredito que nenhum tablet será capaz de evitar a reincidência — afirmou Andrea Amato, presidente da Associação Nacional Antipichação da Itália, a respeito da iniciativa em Florença. — As câmeras não impedem pichações; paredes inteiras reservadas para os pichadores não impedem que eles vandalizem outros lugares. Entretanto, é importante que não deixemos nossos monumentos abandonados à degradação. Se os mantivermos limpos, as pessoas acham mais difícil sujá-los outra vez.


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