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Ficar ou sair da UE? Personalidades britânicas explicam seu voto

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LONDRES – Imigração, economia, soberania, união nacional… Cada um dos dois lados na disputa usa as mesmas munições em armas de diferentes calibres de argumentação para justificar a saída ou a permanência do Reino Unido na UE, uma decisão crucial tanto para o futuro do país como da ordem construída no continente europeu no pós-guerra.

A FAVOR DA PERMANÊNCIA:

Carolyn Fairbairn | Diretora-geral da Confederação da Indústria Britânica: “Em 2020, o custo total de uma saída da União Europeia poderia chegar a £ 100 bilhões e 950 mil empregos. A renda familiar no mesmo ano pode apresentar uma queda de até £ 3.700. A economia poderia até se recuperar lentamente ao longo dos anos, mas nunca chegando aos níveis que atingiria dentro do bloco. Deixar a UE significa enfrentar uma economia reduzida em 2030.”

Nicky Edwards | Diretor de políticas e negócios públicos do TheCityUK, grupo de lobby da indústria de serviços financeiros de Londres: “A saída da União Europeia teria uma série de impactos potenciais. Uma delas é que veríamos as empresas estrangeiras que estão concentradas no país sendo obrigadas a realocar boa parte ou mesmo todas as suas operações de volta ao mercado único europeu.”

John M. Roberts |
Especialista em segurança energética
do Atlantic Council: “Se os britânicos optarem pelo Brexit, não será apenas o cargo de David Cameron que estará em risco, mas a própria existência do Reino Unido. É praticamente certo que a maioria dos eleitores escoceses apoiará a permanência. No caso de uma vitória da saída, o governo da Escócia, comandado por fervorosos nacionalistas, estará preparado para um futuro no qual a Escócia não integre a UE? Nessas condições seria muito difícil para um governo britânico negar a realização de um novo referendo sobre a independência escocesa, e, caso ele acontecesse, é muito provável que a rejeição do último pleito fosse revertida em favor do apoio à independência. Além de gerar caos em Londres, Bruxelas e Edimburgo — que teriam que renegociar praticamente todos os seus acordos — que espécie de Reino Unido teríamos no caso de uma vitória da independência escocesa? Seria o País de Gales o próximo na fila por um referendo nacionalista?”

Danny Dorling | Professor da Universidade de Oxford: “A vida não é um mar de rosas para muitos dos cidadãos britânicos, mas isso não é culpa da UE. Se o Reino Unido fosse um Estado mais progressista, na vanguarda do progresso social do continente, poderíamos ter motivo para nos ressentirmos e alegar que Bruxelas está nos impedindo de progredir. Mas somos retardatários sociais. Precisamos das leis da UE para impedir que exploremos nossos trabalhadores. Nosso establishment político não teria problema algum em tolerar níveis de poluição atmosférica muito superiores àqueles que nos rendem multas da Comissão Europeia. E nunca teríamos noção dos inacreditáveis níveis de desigualdade econômica se não fosse pela leis europeias que forçam nossos banqueiros mais ricos a divulgarem detalhes de seus salários e bônus. Ao contrário de muitos dos nossos benefícios, nossos problemas não são criados pelo fato de pertencermos à UE. Somos diferentes do resto da Europa porque nosso passado é diferente. Costumávamos nos apoiar num império, e deixar a UE não vai trazê-lo de volta.”

David Cameron | Primeiro-ministro britânico: “O Brexit levaria, sem dúvida, a uma perda na influência global do Reino Unido, enfraqueceria a Otan e fortaleceria os inimigos do Ocidente, justamente quando precisamos estar lado a lado com a comunidade euro-atlântica contra ameaças comuns, inclusive no nosso continente. Sair significa retroceder a uma era de nacionalismo competitivo na Europa. Podemos estar tão seguros de que a paz e a estabilidade no continente estão garantidas sem sombra de dúvida? Esse é um risco que vale a pena correr? Eu não seria tão inconsequente a ponto de presumir isso. O isolacionismo nunca funcionou muito bem para este país.”

Stephen Hawking | Físico britânico, em carta assinada juntamente com outros 150 membros da Royal Society: “O financiamento da UE aumentou enormemente o nível da ciência europeia em geral e do Reino Unido em particular, já que temos uma vantagem competitiva. Atualmente, recrutamos nossos melhores pesquisadores a partir da Europa continental, incluindo jovens que adquiriram benefícios da UE e escolheram o Reino Unido como destino. Trabalhando em conjunto, fortalecemos nossa economia, aumentamos nossa influência no mundo e damos oportunidades futuras aos jovens.”

Sadiq Khan | Prefeito de Londres: “Temos praticamente um consenso por parte dos economistas que concordam que permanecer na UE será melhor para a economia, para o comércio, para os negócios, para a geração de empregos e para as exportações. Sabemos também que, ficando na UE, estamos protegendo direitos trabalhistas, fortalecendo as defesas do país, melhorando a qualidade do ar e garantindo o respeito às mulheres no mercado de trabalho. A campanha pela saída tenta vender a ideia de que fazer parte da Europa nos torna menos britânicos. Mas, na verdade, a opção patriótica é não virar as costas para nosso passado de abertura e disposição de coexistir com o resto do mundo. Será que realmente queremos que nosso legado seja a criação de barreiras para a próxima geração, impedindo a continuidade de programas que ajudaram mais de 200 mil estudantes britânicos nos últimos 30 anos?”

A FAVOR DA SAÍDA:

Michael Gove | Ministro da Justiça e um dos líderes da campanha pela saída britânica da UE: “A resposta da União Europeia à crise migratória é um convite irrestrito para que Macedônia, Montenegro, Sérvia, Albânia e Turquia se juntem ao bloco. Como não podemos controlar nossas fronteiras, os serviços públicos, como o Sistema Nacional de Saúde, se verão diante de uma demanda inqualificável, já que milhões de pessoas se tornarão cidadãs europeias e terão o direito de se mudar para o Reino Unido.”

Gerard Lyons | Economista e ex-conselheiro econômico da prefeitura de Londres: “A UE está mal posicionada para prosperar na economia global do futuro. A geografia deixou de ser uma barreira para o comércio, e as economias que quiserem prosperar precisarão ser flexíveis, adaptáveis e em controle de seu destino. A saída da UE nos permite ter esse controle, enquanto o bloco se tornou mais centralizador, aumentando a regulação e o controle, exatamente o oposto do que precisamos para criar empregos e obter sucesso no futuro. É errado pensar que, se permanecermos na UE, poderemos mudá-la e adequá-la. Sempre ouvimos que a UE será reformada, mas essa reforma nunca acontece. O bloco nunca enfrenta seus principais problemas, como o alto índice de desemprego entre os jovens, a depressão econômica na Grécia ou as migrações em massa. E o cenário ainda pode piorar. Estima-se que a UE será a região de menor crescimento no planeta nas próximas décadas. Permanecer no bloco envolve uma grande dose de incerteza, porque não sabemos o que acontecerá com o euro. Para encobrir suas rachaduras econômicas, a zona do euro terá que aumentar ainda mais sua centralização rumo a uma união política, e embora o Reino Unido não precise adotar o euro, estando dentro da UE ficará incapaz de evitar as consequências negativas do que quer que aconteça com a moeda.”

Philip Johnston | Editor-assistente do diário inglês “Daily Telegraph”: “A questão que será apresentada ao eleitorado britânico é, na verdade, sobre soberania: quem governa? Podemos criar nossas próprias leis, aumentar nossos próprios impostos, negociar com quem bem entendermos, pescar em nossas próprias águas, convidar quem quisermos para dentro de nosso país e remover aqueles que não quisermos? Se fôssemos uma nação independente, poderíamos fazer tudo isso, exceto atividades reguladas por tratados internacionais. Como membro da UE, não podemos fazer nenhuma delas, a menos que façamos de maneira coletiva. O Parlamento ainda detém a soberania. A questão é se ele vai usá-la para devolver ao Reino Unido o controle de suas leis. E isso só será possível caso o país vote pela saída da UE no referendo. Não há meio-termo.”

Boris Johnson | Ex-prefeito de Londres: “Uma relação com a Europa que não seja baseada nos caprichos de burocratas não eleitos, mas na cooperação entre governos eleitos na qual poderemos continuar cooperando com nossos amigos e parceiros em questões de interesse mútuo. Podemos fazer tudo isso num nível intergovernamental, no qual não estamos mais sujeitos ao modelo único e ineficaz das leis supranacionais da UE. Quando pudermos retomar o controle dos £ 350 milhões semanais que damos à UE, teremos também o controle de nossas fronteiras. Então, quando ouço as pessoas dizendo que não podemos fazer comércio livremente com o resto do mundo, ou que a libra vai despencar ou ainda que as taxas de juros irão disparar, me lembro dos profetas do apocalipse que diziam que o bug do milênio faria com que os aviões caíssem dos céus. São as mesmas pessoas que disseram que teríamos um desastre econômico se não adotássemos o euro. O oposto provou ser verdade, e é justamente por termos nos mantido longe do euro que temos hoje a economia mais dinâmica da Europa.”

Michael Caine | Ator, duas vezes premiado com o Oscar: “Temos atualmente na Europa uma espécie de governo por procuração de todos os países que agora saiu do controle. A menos que haja uma mudança extremamente significativa, deveríamos sair da UE.”

Sol Campbell | Ex-zagueiro da seleção inglesa de futebol: “Se tivermos um controle rigoroso sobre quem pode entrar e sair do Reino Unido, poderemos trazer os melhores entre os melhores, não importa de onde quer que eles venham, enquanto impedimos aqueles que não produzirão de entrar no país.”

Richard Werner | Economista e professor da Universidade de Southampton: “O super-Estado europeu que já se formou não é democrático. O chamado Parlamento Europeu não tem o poder de propor leis. A legislação é formulada e proposta pela Comissão Europeia, que não é eleita! Como um observador russo comentou, o Parlamento Europeu é uma farsa com a função única de carimbar documentos, tal qual o Parlamento soviético durante os dias da União Soviética, enquanto o governo não eleito é a Comissão Europeia — uma espécie de Politburo repleto de seus comissários.”


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