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Estado Islâmico negocia escravas sexuais em aplicativos populares

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KHANKE, Iraque — A descrição em árabe é assustadora: “Virgem. Bonita. De 12 anos. Seu preço já está em US$ 12,5 mil e será logo vendida”. A propaganda aparece em um dos aplicativos criptografados em que o Estado Islâmico (EI) vende suas milhares de escravas sexuais no Iraque. Os extremistas agora negociam o comércio de mulheres e meninas em ferramentas populares — sobretudo o Telegram, o Facebook e o Whatsapp.

A Associated Press obteve fotos de 48 prisioneiras, enviadas por uma mulher que conseguiu escapar. Elas vestem roupas finas e algumas deles usam muita maquiagem. Elas olham sombriamente para a câmera. Algumas aparentam acabar de ter saído da adolescência. Nenhuma delas parece maior de 30 anos.

Além da publicação sobre a menina de 12 anos em um grupo com centenas de membros, outro aviso no Whatsapp oferecia uma mulher com seus filhos: um de 3 anos e outro de 7 meses. O custo era de US$ 3,7 mil.

Enquanto o Estado Islâmico perde controle de uma cidade após a outra em seu auto-proclamado califado, o grupo vem aumentando seu controle sobre seus prisioneiras. Para isso, contam com um banco de dados com as fotos das prisioneiras e os nomes dos seus proprietários, para evitar que elas escapem. Quem tenta resgatá-las é assassinado pelo grupo.

Mirza Danai, fundadora de um grupo para ajuda humanitária no Iraque, diz que o banco de dados trata as mulheres como se fossem uma mercadoria.

— Registram a cada escrava com o nome do seu dono. Se a mulher escapa, todos os serviços de segurança e os postos de controle são informados — explica Danai.

Dentre as meninas nas fotos, está Nazdar Murat. Ela tinha 16 anos quando foi sequestrada junto a outras duas dezenas de mulheres que haviam escapado de seu vilarejo no Sinjar quando o Estado Islâmico tomou a região. A sua mãe, Nouri Murat, disse em um centro de acolhimento a deslocados no Norte do Iraque que Nazdar conseguiu telefonar para ela uma vez há seis meses.

— Falamos por poucos segundos. Ela disse que estava em Mossul — disse Nouri. — Cada vez que alguém volta, perguntamos o que aconteceu e ninguém sabe nada sobre ela. Há quem diga que ela suicidou.

As fotos contrabandeadas oferecem às famílias das meninas a esperança de que talvez voltem a vê-las. No entanto, as imagens já serviram à venda de muias destas meninas em negociações por aplicativos digitais. Dentre os mais utilizados, estão o Telegram, o Facebook e o Whatsapp.

— O Telegram é muito popular no Oriente Medio e em outras regiões. Lamentavelmente, isto inclui tanto elementos marginais como as grandes massas que respeitam as leis — disse o representante do Telegram, Markus Ra, assegurando que a empresa faz todo o possível para evitar abusos e rotineiramente elimina canais públicos utilizados pelo EI.

DRAMA HUMANITÁRIO

Milhares de yazidis foram presos e outros milhares foram mortos quando os combatentes jihaditas tomaram vilarejos do Norte do Iraque em agosto de 2014. Desde então, as meninas desta etnia foram submetidas à escravidão sexual. Estima-se que 2.554 delas já tenham sido libertadas por contrabandistas. Mas, desde maio, o ritmo das libertações foi muito reduzido e apenas 39 foram resgatadas nas últimas seis semanas, segundo o governo regional curdo.

Lamiya Aji Bashar tentou escapar quatro vezes antes de finalmente conseguir sair das mãos dos jihadistas com a ajuda de um contrabandista em março. A fuga foi uma odisseia, já que ela foi perseguida por combatentes do EI. Duas meninas que escaparam com ela morreram ao pisar em uma mina terrestre. Lamiya perdeu a visão do olho direito por causa da explosão, que deixou grandes cicatrizes em seu rosto.

Em uma cama na casa do seu tio em Baadre, um vilarejo do Norte do Iraque, a jovem de 18 anos disse que, apesar do rosto desfigurado, não se arrepende de ter fugido:

— Mesmo que tivesse perdido a vista em ambos os olhos, teria valido a pena porque sobrevivi.

Os yazidi estão na mira do EI porque têm crenças antigas que combinam elementos do islamismo, cristianismo e zoroastrismo — o que faz com que os extremistas sunitas os considerem infiéis. Calcula-se que a população yazidi já tenha sido de 500 mil pessoas antes da guerra. Não se sabe quantos existem hoje.


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