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Crise na Venezuela é ‘tragédia sem precedentes’, diz diretora da Anistia

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RIO – Uma combinação de todas as crises. Assim a Anistia Internacional classificou a grave situação atual na Venezuela, após uma visita ao país Numa dura nota, publicada ontem, a diretora para as Américas da organização, Erika Guevara-Rosas, disse tratar-se de uma situação “peculiar, excepcional e sem precedentes”, e que “comportamentos políticos inflexíveis estão afetando seriamente milhões de vidas”. Segundo ela, a situação que não pode ser comparada à de nenhum outro país da região, “mesmo os que têm problemas políticos, econômicos e de ordem social”. As críticas acontecem no mesmo dia em que o Conselho Permanente da Organização de Estados Americanos (OEA) confirmou uma sessão extraordinária para discutir a situação no país, no dia 23 de junho.

— Não é uma crise que pode acabar em poucos meses, mas uma crise sustentada, que levou a uma situação inimaginável no país com maiores reservas de petróleo do mundo — afirmou Erika ao GLOBO, por telefone de Caracas. — Não se trata de uma exceção na região, infelizmente, mas é uma tragédia sem precedentes na Historia da Venezuela e da América Latina. A deterioração foi muito rápida.

Durante a estada no país, ela se reuniu com a procuradora-geral, Luisa Ortega Díaz; o deputado governista Tarek William; congressistas opositores e vítimas de violações dos direitos humanos, além de visitar comunidades e hospitais em Caracas e no estado de Táchira para constatar a escassez de alimentos e remédios.

— Em um hospital, em Caracas, vi cenas dignas de filme de terror. É o único no país que atende crianças com doenças crônicas, e o encontramos praticamente em ruínas, com inundações, tetos desabados. Não imagino como estejam os outros.

Há duas semanas, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, havia solicitado uma sessão extraordinária, invocando pela primeira vez o artigo 20 da Carta Democrática Interamericana — mecanismo para tratar de casos de ruptura da ordem democrática num país-membro. Além da OEA, diversos ex-chefes de Estado e governo, dentre eles o espanhol José Luis Zapatero, tentam fazer a mediação entre a oposição e regime de Nicolás Maduro, com forte ajuda dos EUA. O posicionamento de Washington — que surpreendeu o governo chavista — tem sido determinante para que países da região apoiem o diálogo.

Opositores tiveram firma anulada

Enquanto o mundo mostra sua preocupação com a crise no país, internamente o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e a oposição travam uma nova disputa sobre o referendo revocatório do mandato de Maduro. Após um dia de violência nas ruas — quando dez deputados opositores foram agredidos — o CNE ameaçou suspender o processo:

— Qualquer agressão, alteração ou ocorrência de violência levará à suspensão imediata do processo até que seja restabelecida a ordem e a tranquilidade — disse a presidente do órgão, Tibisay Lucena.

O CNE, acusado pela oposição de ser um braço do chavismo, anunciou ontem os procedimentos para validar 1% das assinaturas necessárias para dar continuidade ao processo: serão cinco dias no total — de 20 a 24 deste mês, um deles feriado — durante sete horas diárias. Mas, se o recolhimento das assinaturas foi realizado em 1.523 pontos, apenas 24 escritórios regionais estarão aptos a realizar a validação, quando serão checadas as impressões digitais dos signatários.

— Como é possível que para validar milhares de assinaturas disponham apenas dos escritórios regionais do CNE? — questionou o opositor Henrique Capriles, um dos que lideram a convocação.

Nas redes sociais, muitos venezuelanos também denunciaram ontem a invalidação de suas assinaturas ao consultarem a página do órgão eleitoral, que confirmou 1,3 milhão de firmas do total de 1,8 milhão entregues. Dentre os que tiveram a assinatura anulada estão inclusive alguns opositores como o próprio Capriles e o deputado José Guerra:

“Quando a imoralidade e a corrupção não têm limites: minha assinatura foi excluída!”, disse Capriles no Twitter.

O governo, por sua vez, acusa a coleta de ter sido repleta de irregularidades, como a inclusão de pessoas já falecidas, menores e inabilitados politicamente.


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