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China libertará último preso de Tiananmen após 27 anos

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PEQUIM — O último preso conhecido que permanece no cárcere chinês por ter participado dos protestos pró-democracia de 1989 em Tiananmen deverá sair da prisão em outubro. Miao Deshun foi condenado à pena de morte suspensa — o que equivale à prisão perpétua — por queimar um tanque durante os enfrentamentos com o Exército. Na ocasião, o regime chinês decidiu utilizar a força para desalokar os milhares de manifestantes que haviam ocupado a praça de forma pacífica durante meses.

Miao já está atras das grades há 27 anos e a sua sentença foi reduzida em três ocasiões. A última aconteceu no dia 07 de março, quando um tribunal de Pequim rebaixou sua pena em oito 11 meses, segundo informou a fundação Dui Hua, organização que luta pelos direitos dos presos na China.

Hoje com 51 anos, ele entrou no cárcere aos 25 anos de idade e agora será libertado no dia 15 de outubro, segundo a ONG. A Justiça chinesa confirmou a informação e será obrigada a notificar a liberação do preso aos seus familiares.

O operário da província de Hebei, perto de Pequim, foi declarado culpado de incêndio criminoso quando lançou uma cesta em um tanque em chamas. Ele foi um dos 1,6 mil detidos que receberam sentenças formais de prisão. Apesar de este ser um delito pequeno, sua pena foi muito grande porque, diferentemente de outros presos, Miao se recusou a assinar cartas de arrependimento. Ele também não realizou os trabalhos penintenciários e nem mesmo apelou da sentença quando foi inicialmente condenado à morte.

O preso não manteve nenhum contato com o mundo exterior durante vários anos. Não se encontra com a sua família há uma década porque pediu que não fossem visitá-lo. Em algumas ocasiões, chegou a se recusar a vê-los. Um de seus companheiros na prisão — outro ativista detido após Tiananmen —, Zhang Yansheng já relatou à imprensa que Miao tem problemas mentais severos, incluindo a esquizofrenia. Ele também teria Hepatite B.

Em 2003, Miao foi transferido ao centro penitenciário de Yanqing, perto da capital chinesa, que conta com uma unidade para presos mais velhos, doentes e inválidos. É muito provável que desde então ele tenha permanecido confinado em uma cela sem companhia.

“Damos as boas-vindas a esta notícia e expressamos nossa esperança de que Miao receberá o cuidado de que necessita para retomar uma vida normal após passar mais da metade dela entre grades”, disse John Kamm, diretor executivo da Fundação Dui Hua, em comunicado.

Durante anos, a ONG obteve toda as informações possíveis sobre os cidadãos que acabaram na prisão por seus vínculos com este dramático episódio da história recente da China, que terminou com a morte de centenas ou milhares de pessoas. Pequiim nunca deu um balanço oficial dos falecidos.

A China castigou milhares de pessoas após a dura repressão do Exército sobre as manifestações. Além das mais de mil pessoas que enviou à prisão, muita outras foram levadas a campos de trabalhos forçados. Atualmente, as famílias das vítimas continuam pedindo justiça e compensaçoes pelo que aconteceu.

No entanto, Pequim continua silenciando os fatos e submetendo ativistas e seus familiares à vigilância a cada vez que se aproxima o dia 04 de junho. Foi neste dia que os tanques do Exército chinês entraram nas ruas de Pequim e golpearam os sonhos de democracia do movimento estudantil.


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