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Brexit estimula clima xenófobo no Reino Unido

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BERLIM — Após terem servido como um dos pretextos para a saída da União Europeia (UE), os imigrantes do Leste Europeu que vivem no Reino Unido e não têm grandes chances de permanecer quando os britânicos deixarem o bloco já começaram a manifestar a intenção de voltar a seus países de origem. Esta é pelo menos a conclusão de um estudo do Instituto de Relações Internacionais de Varsóvia, que constatou a tendência em 40% dos chamados “migrantes do trabalho”. Desde a realização do plebiscito, na última quinta-feira, inúmeros incidentes de cunho xenófobo e racista ocorreram no país.

A polícia britânica investiga um ataque “racialmente motivado” de vândalos contra a Associação Social e Cultural Polonesa, um centro comunitário no Oeste de Londres, cujas paredes e janelas foram pichadas com a expressão “Go home” (“vá embora”). Em Cambridgeshire, as autoridades apuram a distribuição de panfletos deixados do lado de fora de uma escola primária, onde se lia: “Saiam da UE! Chega de vermes poloneses!”.

Hoje, vivem no Reino Unido 850 mil poloneses – o maior grupo de estrangeiros do Leste Europeu. Há cinco anos, eram no total 700 mil. Desde então, vieram para o Reino Unido mais 2,6 milhões, sobretudo dos países pobres do Leste. O combate a essa migração foi um tema central da campanha do Brexit.

— Não há dúvida de que o Reino Unido está dando uma guinada para um clima mais racista — disse Adam Posen, diretor do Peterson Institute for International Economics.

Para defender os interesses dos seus cidadãos e evitar o caos que resultaria se houvesse um retorno maciço de imigrantes, o chefe do governo tcheco, Bohuslav Sobotka, exigiu que também os países do Leste Europeu participem das negociações sobre o Brexit. Cem mil tchecos vivem no Reino Unido. Segundo o estudo do instituto de Varsóvia, eles querem voltar porque sabem que não poderão ficar. Mesmo os que querem ficar, mas chegaram há menos de cinco anos, precisam contar com o risco de deportação. Dados do governo polonês revelam que cerca de 400 mil poderão ser deportados.

Durante o debate sobre o Brexit, muitos poloneses decidiram se mudar de Londres para Berlim, elevando o número de trabalhadores poloneses residentes na capital alemã nos últimos meses em 50%, para 354 mil. Com a boa imagem de trabalhar bem, de forma meticulosa, rápida e barata, os poloneses e outros imigrantes do Leste são, porém, alvo das críticas dos sindicatos, que receiam a pressão de redução dos salários. Eles também são acusados de “roubar” os empregos dos britânicos.

Marek Szczesny, polonês que vive em Londres há oito anos, afirmou que há um clima de grande apreensão entre os imigrantes do Leste da Europa, sobretudo os que chegaram nos últimos cinco anos, mais vulneráveis à deportação. O presidente da Polônia, Andrej Duda, aconselhou os compatriotas a voltarem para a pátria, mas Szczesny diz que muitos têm medo de retornar para a pobreza e o desemprego.

Desde que a Polônia ingressou na UE, em 2004, a situação econômica melhorou bastante. O desemprego caiu de 20% para cerca de 10%, taxa registrada em dezembro último. Mas o nível salarial do país é ainda bem mais baixo do que a média da UE. Muitas cidades pequenas, sobretudo do Leste, perto da fronteira com a Ucrânia, encolheram nos últimos anos com a emigração em massa. Diversos analistas afirmam que o desemprego caiu porque os desempregados foram embora.

Para o economista alemão Gabriel Felbermayr, com o Brexit os ingleses disseram claramente aos europeus do Leste: “Não queremos mais vocês aqui”. Segundo Jasvir Singh, advogado em Londres e ativista do Partido Trabalhista, o tom do plebiscito “legitimou a retórica racista”:

— Há agora uma minoria que se sente fortalecida para usar o resultado do plebiscito para expressar seu ódio.

Desde a vitória do Brexit, os britânicos estão denunciando incidentes xenófobos e racistas nas redes sociais, como Facebook e Twitter. Cerca de cem foram registrados nos últimos dias. Fiona Anderson, por exemplo, disse ter restemunhado num ônibus uma senhora dizendo a uma jovem polonesa e seu bebê para “fazer as malas e dar o fora”. Já Heaven Crawley, professor da Coventry University, disse no Twitter que sua filha “ao sair do trabalho em Birmingham, viu um grupo de jovens encurralar uma menina muçulmana, enquanto gritavam: “Saia, nós votamos pelo Brexit”. (Com agências internacionais)


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