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Atentados em Bruxelas ressaltam ameaça à Europa

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BRUXELAS – Sede de instituições como União Europeia (UE) e Otan e importante centro de transportes e conexão para o restante da Europa, a Bélgica foi ontem alvo do maior atentado de sua História — pouco mais de quatro meses depois do mais grave ataque terrorista em Paris, na vizinha França, em novembro. O pânico no continente cristalizou a sensação geral — expressa por líderes, cidadãos e a imprensa — de que a morte de 31 pessoas no aeroporto internacional de Bruxelas e na estação de metrô de Maelbeek evidencia o ódio que o grupo extremista Estado Islâmico, que reivindicou a autoria dos ataques, tem contra o que a Europa simboliza. E os ataques são um desafio ainda maior à segurança no continente, que enfrenta o dilema de combater a ameaça terrorista sem pôr em xeque a livre circulação de pessoas e as liberdades individuais — princípios do bloco que já vêm sendo fortemente questionados com a crise de refugiados.

Enquanto realizava batidas policiais em busca de suspeitos e provas, a Bélgica também fechou sua fronteira com a França. O governo francês, que pediu união na luta contra o terrorismo, enviou 1.600 policiais extras para a divisa. Mas, enquanto os terroristas atacam o continente com toda a sua força, a resposta tem sido lenta e ineficaz, segundo analistas. Na noite de ontem, o governo belga convocou ministros do bloco para uma reunião que deve acontecer amanhã.

— Através dos ataques a Bruxelas, toda a Europa foi atingida — disse o presidente francês, François Hollande, afirmando que a guerra contra o terror será longa.

Duas explosões atingiram o terminal de embarque do aeroporto internacional da capital belga, na região metropolitana, no horário do rush matinal, por voltas das 8h (horário local), deixando 11 mortos. Cerca de uma hora depois, uma terceira explosão, ainda maior, na estação de metrô no centro de Bruxelas, matou mais 20 pessoas. Próximo à sede da UE e do Parlamento Europeu, o local costuma ser utilizado por muitos funcionários. No total, 250 pessoas ficaram feridas. O nível de alerta de ameaça de terrorismo foi elevado para quatro, o máximo, por ordem do Ministério do Interior.

Todo o sistema de transporte público foi suspenso. O Eurostar, que liga Paris e Londres a Bruxelas por trem, suspendeu as viagens à capital belga. Já o governo britânico “desaconselhou” seus cidadãos a viajarem para a cidade, num alerta incomum em relação a outro país europeu.

Líderes pedem esforços conjuntos

O premier belga, Charles Michel, condenou os “ataques cegos e covardes”:

— O que temíamos aconteceu.

Na Jordânia, a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, não conseguiu conter a emoção e chorou ao falar sobre os atentados.

— É um dia muito triste para a Europa, da forma como a Europa e suas capitais estão sofrendo da mesma dor que esta região conhece todos os dias — disse, referindo-se aos sangrentos conflitos no Oriente Médio.

Já o presidente americano, Barack Obama, em seu terceiro dia da histórica visita a Cuba, defendeu a união de esforços:

— Nós precisamos estar juntos. Vamos fazer tudo o que for necessário para encontrar os terroristas — disse Obama.

O número de extremistas islâmicos, a localização estratégica — o país faz fronteira com França, Holanda, Alemanha e Luxemburgo — uma infraestrutura de transportes altamente desenvolvida e a concentração de instituições europeias tornam a Bélgica um grande alvo para o terror. Nos últimos meses, foram realizadas dezenas de detenções, que culminaram com a prisão de Salah Abdeslam, na sexta-feira, até então único suspeito foragido dos ataques em Paris. Mas, apesar do sucesso da operação, o atentado de ontem deixa claro que o país representa um problema de segurança adicional para o continente.

Uma foto mostra três suspeitos caminhando tranquilamente com suas bagagens pelo aeroporto de Zaventem. Dois deles, vestidos de preto, estariam armados com fuzis kalashnikovs. O terceiro, de branco, está sendo procurado pela polícia. Pelo menos duas das explosões foram causadas por homens-bomba. Ao total, três malas com explosivos foram deixadas nos locais dos atentados, mas uma não explodiu. De acordo com testemunhas, tiros e gritos em árabe foram ouvidos antes das duas explosões no terminal. O aeroporto ficará fechado até hoje.

Em nota, os jihadistas alertaram para mais ataques que estão por vir nos “Estados aliados contra o Estado Islâmico”. A suspeita é de que o atentado já estivesse sendo planejado, e teria sido antecipado com a prisão de Abdeslam:

— Isso demonstra a existência de uma rede terrorista ampla e sofisticada na Bélgica, que vai além da que atacou a França — explica Shiraz Maher, do Centro Internacional de Estudos da Radicalização do King’s College de Londres.

Poder do EI é maior do que se pensava

As investigações revelaram até agora a existência de uma rede extremista maior do que se pensava. E com os novos ataques, a Europa é confrontada novamente com um dilema: como combater a ameaça cada vez mais global do Estado Islâmico, sem ferir o Espaço Schengen, de livre circulação? O eurodeputado português Carlos Coelho defendeu que o combate ao terrorismo passa por “mais eficiência na prevenção e na troca de informações”.

Analistas alertam para falhas:

— O ataque mostra que há limites das ações que podem ser realizadas em um estado de emergência — diz Philippe Hayez , ex-oficial da Inteligência francesa.


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