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Alemanha tenta integrar crianças e jovens que fogem da guerra

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BERLIM – Mesmo após o fechamento da rota dos Bálcãs, que resultou em uma queda drástica do número de refugiados, a Alemanha ainda enfrenta o grande desafio da integração de milhares de menores desacompanhados que chegaram ao país. Segundo Elija Kochembar, da Secretaria de Juventude de Berlim, 10% dos cerca de um milhão de refugiados que vieram para a Alemanha no ano passado são menores desacompanhados, órfãos e crianças enviadas pelos pais em um ato de desespero para que sobrevivam às guerras e conflitos de suas regiões.

Ute Schaeffer, autora do livro “Die Flucht der Kinder” (A fuga das crianças), afirma que só os mais fortes sobrevivem à travessia repleta de perigos.

— E quando chegam ao destino, deixaram de ser crianças e adolescentes para ser transformarem em adultos traumatizados — diz.

De acordo com um estudo da Universidade de Munique, cerca de 25% dos refugiados menores que precisaram enfrentar sozinhos a viagem desenvolvem distúrbio pós-traumático e, provavelmente, outros problemas psiquiátricos.

O assistente social Hassan Faraj, da ONG Kompaxx, lembra ainda que a situação se complica ainda mais quando os refugiados entram na adolescência.

— A crise deles se manifesta de forma diferente porque são marcados pela enorme luta pela sobrevivência — acrescenta Hassan.

Paralelo com fuga do nazismo

Berlim, cidade que viu milhares de crianças e adolescentes judeus serem enviados pelos pais ao exterior para escapar da morte durante o regime nazista, recebe agora os menores sozinhos. O capítulo contundente da História é lembrado no Centro por uma escultura do artista Frank Meisler, que foi enviado pelos pais para a Inglaterra.

Faraj, nascido na Tunísia há 42 anos, veio para Berlim há 15 para estudar Ciências Sociais e acabou ficando. Hoje, administra um dos centenas de lares de menores refugiados espalhados pela cidade.

— Há paralelos entre a fuga das crianças durante o nazismo e os menores que são enviados ou que vêm por conta própria para a Europa — destaca.

Ute Schaeffer calcula que o Estado gaste cerca de € 70 mil por ano com cada menor. Segundo Gerd Landsberg, diretor da Federação dos Municípios Alemães, as cidades preveem gastar, com ajuda e acompanhamento dos refugiados menores, € 2,7 bilhões em 2016.

Para baixar o custos e apoiar a integração, o Ministério da Família lançou o programa “Gente fortalece gente”, que oferece à população alemã a chance de participar do acompanhamento dos refugiados como “padrinhos, pais e avós hospedeiros”.

Segundo o Ministério, dez mil pessoas apresentaram interesse. Mas só o altruísmo não é garantia de sucesso. De acordo com Helga Siemens-Weibring, da Diakonie, uma ONG luterana, o relacionamento com os refugiados nem sempre é fácil porque eles são independentes, mas, ao mesmo tempo, altamente traumatizados.

— Esses jovens têm uma longa história de fuga. Isto significa que por muito tempo foram responsáveis por si mesmos. Por outro lado, precisam de ajuda — diz ela.

Nem sempre há um final feliz. Segundo Ute Schaeffer, as experiências traumáticas e as dificuldades de integração contribuem para que cerca de 30% deles terminem na criminalidade.

Os problemas se agravam quando os jovens atingem a maioridade de acordo com a lei — que é de 18 anos, mas nesse caso específico é frequentemente adiada para 21. Depois disso, acaba bruscamente o apoio integral. Refugiados que vêm de países em guerra, como a Síria, podem ficar. Os outros, só se tiverem profissão ou vaga na universidade.

Para o advogado sírio Oussama Al Agi, há 20 anos na Alemanha, o fracasso dos filhos na Europa é um golpe duro para as famílias.

— Os pais investem tudo o que têm e levam em conta até o perigo da viagem porque pensam na chance de melhoria de vida para toda a família. Os filhos que conseguem vencer podem mandar buscar pais e irmãos — diz.

Ute Schaeffer, ex-chefe de redação da rádio Deutsche Welle, lembra que a última onda de refugiados deverá mudar definitivamente a Alemanha. Na sua opinião, o importante é que os erros do passado, das ondas migratórias de turcos nos anos de 1960-1970, sejam evitados. Para que os refugiados ou seus descendentes não terminem em guetos, defende uma política de integração competente.

— Guetos (de imigrantes) como na França são o caminho errado — conclui.


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