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Abrace um britânico e mantenha o Reino Unido na UE

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LONDRES – Alguns se esquivam, outros aceitam de bom grado e se juntam a quem tirou o dia para conversar enquanto tomam prosecco e comem espetos de frango. É um sábado de manhã e os espaços são concorridos no Parque Hackney, leste de Londres. Os membros do “Hugabrit” (Abrace um britânico em livre tradução) montaram seu lugar particular para abraços.

Ninguém será abraçado contra a vontade. Não se trata de um ataque ao tradicional pudor britânico, mas um convite para o debate sobre o tema do momento, com um tom mais positivo. E se a ideia funcionar terminará com um abraço.

O Reino Unido vai decidir, no dia 23 de junho, se permanece na União Europeia. E a decisão afetará de maneira decisiva a vida de 3 milhões de cidadãos de outros países que vivem na Grã-Bretanha. Testemunha silenciosa de um debate que lhes diz respeito, um grupo de europeus percebeu que, mesmo sem direito a voto, nada impedia que suas vozes fossem ouvidas. E decidiram participar de uma maneira diferente: abrançando seus vizinhos britânicos.

— Buscamos uma campanha muito simples — explica Tessa Szyszkowitz, jornalista austríaca e uma das fundadoras do projeto. — “Hugabrit” joga com dois estigmas famosos dos britânicos. O primeiro é que são muito reservados e o segundo é que têm um grande senso de humor. Tem gente que nos questiona: “Sério? Abraçar?”. Mas no final estão contentes em abraçar, encontrar uma campanha positiva e poder participar.

A imigração europeia é, de alguma maneira, o motivo do referendo. A ascensão do UKIP, partido que surgiu no cenário político com um discurso contra a União Europeia e reinvindicando o controle das fronteiras, levou o primeiro-ministro David Cameron a convocar o referendo para apaziguar o euroceticismo da direita britânica. Limitar o acesso dos imigrantes europeus aos serviços públicos de assistência foi o foco das negociações sobre o novo vínculo do Reino Unido com a UE, mesmo antes da convocação da consulta.

A onda de imigração em massa, a ameaça da saúde pública, os usurpadores da ajuda pública. São alguns dos retratos que os tabloides britânicos comumente divulgam sobre um grupo que, como reconheceu o Departamento de Responsabilidade Orçamentária, está sendo crucial para a recuperação econômica do país e é necessário para a continuidade desse movimento.

No entanto, nenhuma proposta do governo tem sido dirigida a esse grupo. Nenhum esforço tem sido dedicado para explicar qual será o futuro se vencer o Brexit (saída do Reino Unido da UE) para essa parcela que corresponde a 5% da população.

O “Hugabrit” nasceu a partir de um encontro de amigos imigrantes que se propuseram a trazer um pouco mais de afeto para um debate que desde o princípio tem sido agressivo.

— Quando começamos era algo entre amigos — assegura a alemã Birgit Maass, outra fundadora do projeto. — Mas desde que ficamos mais conhecidos, pessoas de toda a Europa nos enviam fotos.

A ideia é de que pessoas de outros países da UE abracem seu “britânico favorito”, fotografem e compartilhem nas redes sociais com a hashtag #hugabrit. Milhares de pessoas já aderiram à campanha e algumas das imagens podem ser conferidas na página do projeto.

O movimento não está associado a nenhum partido político e não faz parte de nenhum dos lados oficiais do referendo. É uma iniciativa cívica com uma mensagem positiva no meio de uma campanha cheia de negatividade. É um gesto de afeto em um país cujos políticos, inclusive o primeiro-ministro, lideram um movimento para permanecer na UE repetindo exaustivamente que não mantêm nenhum vínculo afetivo com o resto do bloco e que se trata apenas de um acordo comercial.

— Queremos inspirar toda a Europa e dizer que devemos permanecer juntos —conclui Maass. — Os problemas que enfrentamos como Europa não vão desaparecer se os países se retirarem do bloco. O continente precisa seguir unido. E o Reino Unido, para nós, faz parte da Europa. Por favor nos siga e nos ajude a enfrentar os desafios. Nós os amamos, não nos deixem.


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