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Associação denuncia que apenas três PMs faziam segurança no dia do massacre

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A Associação dos Praças do Estado do Amazonas (Apeam), entidade que representa policiais militares, denunciou na tarde desta quarta-feira que apenas três PMs faziam a segurança na muralha do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), onde 56 presos foram mortos em Manaus. A denúncia é baseada no depoimento de policiais no inquérito que apura o massacre e em um áudio distribuído a um grupo de PMs pelo WhatsApp. O áudio foi gravado por um policial que estava trabalhando na noite em que ocorreu o massacre.

— Tinha três policiais na muralha no momento que se iniciou a rebelião. Esses policiais foram obrigados a trocar tiros com os presos, porque eles estavam com arma de fogo. Ninguém sabe explicar como, mas eles tinham espingardas calibre 12 e arma de uso restrito da Polícia Militar. Eram três policiais para trocar tiros com mil presos, enquanto lá deveria haver pelo menos 35 homens — disse Gerson Feitosa, presidente da Apeam.

A entidade vai protocolar hoje na Justiça pedido para que policiais militares deixem de atuar em presídios de Manaus.

— Queremos resguardar a integridade do policial militar, tendo em vista que o governador adotou uma medida para movimentar os presos de uma facção criminosa para um presídio que tinha sido desativado e está sem condições de uso. Queremos que o governador tire o policiamento de lá, porque as portas estão estouradas e policiais não tem onde se alimentar e nem sequer sentar. Até o forro caiu — disse.

Na ação, a associação também alegará inconstitucionalidade no uso de policiais militares para a função de agentes penitenciários, como quer o governo.

— É ilegal. Não tem respaldo legal. Não tem legalidade empregar policiais militares como agentes penitenciários. Ainda por cima, o governador vai expor todo policial a risco de vida, porque ele teria que trabalhar desarmado, mesmo tendo contato com preso.

No áudio distribuído para um grupo de policiais por um aplicativo e divulgado pela associação, o PM conta que os presos quase tomaram totalmente o presídio e, em um momento de confronto, três policiais ficaram encurralados em um alojamento, sem saída, parecido com uma cela. A troca de tiros com os presos era feita por uma porta.

Segundo o relato do policial, eles enfrentaram um grupo de presos que estavam armados com duas espingardas calibre 12, revólveres, pistola e os estoques, as facas fabricadas pelos presos. O policial conta que o presídio estava com 1.224 presos soltos e sem controle.

— A guarda não foi tomada por muito pouco. Se o apoio demorasse a ter chegado, infelizmente não estaria aqui colocando esse áudio. Com toda certeza, estaríamos na contagem dos mortos — relata ele, que divulgou o áudio para mostrar como os policiais foram expostos e correram risco de morte.

 

Além da quantidade de policiais, o áudio relata que outra dificuldade enfrentada no confronto era o fato de os presos estarem com reféns.

— A gente trocou tiros, e eles avançando, com reféns. A gente ainda tem a preocupação de não atirar em reféns. Graças a Deus nenhum refém foi alvejado. Trocamos tiros com eles, e eles avançando, porque a gente tinha que dar tiros por baixo e de lado para não acertar nos reféns. Foi (sic) uns cinco minutos de troca de tiros, e eles avançando.

Veja abaixo a íntegra do áudio ouvido pelo GLOBO:

“(Eram) Apenas três policiais militar contra 1.224 presos. Eles trocaram tiros com a guarnição. Queriam tomar a guarda. Queriam tomar as armas longas, mas, graças a Deus, conseguimos intervir. Houver troca de tiros. Eles estavam com (espingarda calibre) 12, duas 12 niquelada. Nunca tinha visto isso. Nem a 12 da polícia é niquelada. (Além de) Pistola, revólver, fora os estoques (facas improvisadas). Eles chegaram até próximo da guarda, mas foram recuados. A gente trocou tiros, e eles avançando, com reféns. A gente ainda tem a preocupação de não atirar em reféns. Graças a Deus nenhum refém foi alvejado. Trocamos tiros com eles, e eles avançando, porque a gente tinha que dar tiros por baixo e pelo lado para não acertar nos reféns. Foram uns cinco minutos de troca de tiros, e eles avançando. Chegaram muito próximo da guarda. Quando eles estavam próximo, a gente ficou encurralado no alojamento, apenas por uma porta, trocando tiros com os bandidos lá, até que chegou uma viatura do Graer (grupamento aéreo da Polícia Militar) e da Força Tática, que foi a viatura que nos deu apoio. Por isso, (queria) agradecer esses guerreiros que chegaram rapidamente. Se não fosse por eles, a gente estava encurralado lá no alojamento, que é igual uma cela. Não tem saída. Só tem uma entrada, onde a gente estava trocando tiros com eles (os presos). Conseguimos tirar os armamentos, principalmente as armas longas. Conseguimos tirar as munições, só que ainda ficou na reserva seis revólveres e duas pistolas, que estão esculhambadas. Levamos os coletes, só ficou quatro. A guarda não foi tomada por muito pouco. Se o apoio demorasse a ter chegado, infelizmente não estaria aqui colocando no áudio. Positivo. Com toda certeza, estaríamos na contagem dos mortos. Só que alguém aí… se pudesse esclarecer, isso é uma questão de promoção, né? Fiquei questionando essa situação. Passei 24 horas lá. Uma promoção por merecimento, porque não tem proporção: apenas três policiais militares. Fomos expostos a essa situação. O negócio foi feio. Ainda bem que fiz duas vezes o curso de tiros. O curso de cabos para sargento, positivo? Vitória na guerra! Deus estava na frente.’’

Fonte InforGlobo

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/brasil/associacao-denuncia-que-apenas-tres-pms-faziam-seguranca-no-dia-do-massacre-20727508#ixzz4UooLikJu
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