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Votos que morreram na praia

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BRASÍLIA — O desejo de votar a favor ou contra o impeachment de Dilma Rousseff, de tentar manter ou tirar a presidente do cargo, de aparecer em rede nacional e garantir seus dez segundos de fama — a duração do voto na sessão do último domingo — alijou do processo de impeachment 21 deputados suplentes, dos 36 que até à véspera da votação cumpriam o mandato. Os titulares das vagas, reais donos do mandato, decidiriam deixar cargos de secretários que ocupam em seus estados, ou em ministérios, para dizer “sim” ou “não” no plenário. O suplente, tendo menos votos, ocupa o lugar do titular quando este deixa a Câmara temporariamente.

Atuante na oposição ao governo, autor de ações na Justiça para, entre outras pretensões, impedir que o ex-presidente Lula assumisse a Casa Civil, Raul Jungmann (PPS-PE) foi um desses “excluídos”. Ele se disse frustrado por não participar do protesto e contou que, entre os colegas na mesma situação, circula a brincadeira que seus casos se tratam do “voto fecho eclair”.

— Participei de todo o processo para levar à frente a consumação do impeachment na Câmara, e continuo participando, e na hora do voto mesmo, você está fora. Comparado ao futebol, é como se eu sofresse um pênalti aos 45 minutos do segundo tempo, numa final de campeonato, e, na hora de bater, sou substituído por outro — comparou Jungmann, que estava no mandato desde início de 2015.

Outro que ficou de fora da votação foi Ademir Camilo (PTN-MG). Somente na véspera, no sábado, um suplente de sua coligação, do PT mineiro, assumiu sua vaga. Prudente, Camilo, que votou em 80% dos projetos contra o governo, não antecipou seu voto nas várias enquetes feitas por veículos de comunicação. Acha que seria oportunismo e sabia que dificilmente votaria, e que o PT o substituiria por outro. Camilo está de volta ao mandato desde a última segunda-feira.

— O suplente é um sujeito que vive de expectativa. Para mim, não votar, foi até confortável. Não precisei dar satisfação a ninguém. E, durante as últimas semanas, expliquei ao meu eleitorado que não me posicionaria porque sabia que seria substituído na hora H — disse Camilo.

EX-DEPUTADOS MARCARAM PRESENÇA

Outros deputados experientes na Câmara ficaram impedidos de votar por serem suplentes neste momento, casos do presidente nacional do PPS, Roberto Freire, e da fluminense Laura Carneiro (PMDB-RJ). Por outro lado, 13 felizardos suplentes tiveram o gosto de dar seus votos e não foram trocados por titulares do cargo. Casos de Adelmo Carmeiro (PT-MG), que votou contra o impeachment, e José Fogaça (PMDB-RS), a favor.

Na sessão do impeachment na Câmara, era comum também encontrar antigos ex-deputados circulando no plenário. Eles deixaram o Congresso, mas a condição de ex-parlamentar dá a eles o direito de usar o broche de deputado e circular livremente por todos os setores da Casa. Entre eles estavam Professor Luizinho (PT-SP), Abelardo Lupion (PP-PR) e Rafael Guerra (PSDB-MG). Ex-deputados e atuais presidentes de dois partidos: Roberto Jefferson (PTB) e Carlos Lupi (PDT) também apareceram. O primeiro, em campanha pelo impeachment e o segundo, contra o afastamento de Dilma. A condição de ex-deputados é o principal benefício que ostentam ao deixar o mandato — uma vez que não há benefícios financeiros para quem está fora do cargo.


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