Vice do PMDB diz que relação com o governo está ‘se esfacelando’
BRASÍLIA – Eleito no sábado como vice-líder do PMDB, o senador Romero Jucá (RR) disse que a relação do partido com o governo Dilma Rousseff está se “esfacelando”. Em discurso nesta segunda-feira na tribuna do Senado, ele também conclamou os políticos a trabalhar para construir uma “solução” para o país.
Jucá afirmou que a relação com o governo veio piorando ao longo do tempo. Ressaltou que chegou-se a cogitar uma reaproximação quando o vice Michel Temer foi chamado para a articulação política. Afirmou, porém, que não houve a parceria esperada.
— Da eleição para cá, esse processo de entendimento e parceria foi se desconstruindo, se esfacelando. Alguns meses atrás foi dito que haveria uma reaproximação, que o Michel Temer ia coordenar a parte política e depois de algum tempo deu em água — disse Jucá.
O vice do PMDB afirmou que “setores majoritários” do partido defendem o afastamento do governo e disse que o partido não pode ser culpado pela crise econômica e pela falta de articulação política.
— O PMDB participa do governo, ajuda setorialmente, mas o PMDB não tem ingerência na política econômica, que está destruindo o país, na condução politica, que está desagregando a base. Temos hoje um momento de dificuldade, de relevância, existem setores do PMDB que defendem a continuidade do governo e existem setores majoritários que defendem o afastamento — disse Jucá.
O peemedebista afirmou que diante das manifestações deste domingo cabe aos políticos construir uma saída que atenda ao clamor popular.
— A gente não pode tapar sol com a peneira. O que ocorreu foi uma demonstração de que o Brasil quer uma solução. Se os políticos não tiveram competência de construir essa solução ela virá independente da política — afirmou.
O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) destacou como positiva a decisão do PMDB de esperar até 30 dias para decidir sobre o rompimento. Ele afirmou que o partido é o principal ator da política nacional.
— O PMDB é o centro de gravidade da política do Brasil. Essa é a verdade. E continuará sendo se continuar sendo conduzido com sabedoria e equilíbrio — afirmou o tucano.
‘MANIFESTAÇÃO FOI CONTRA O QUE ESTÁ AÍ DE ERRADO’
Em entrevista após o discurso, o senador comentou também as manifestações de domingo, onde políticos, como o senador Aécio Neves, foram vaiados. Para Jucá, a manifestação não foi partidária e nenhum político deve minimizar o impacto dos protestos.
— Não se deve minimizar o tamanho das manifestações. Pelo contrário, se deve respeitar e qualificar a manifestação da população. A manifestação de ontem não foi partidária, não é a favor de nenhum partido e nenhum candidato. Ela foi contra o que está aí de errado. Ela apoia investigação, mudanças sociais e econômicas, mudanças no emprego, então a população está dizendo com o que não está satisfeita. Foi uma catalização de aspectos negativos. De protesto, de raiva. Qualquer manifestação contra individualmente uma pessoa, um fato isolado, não tem que ser levado em conta e nem ser potencializado. Não estamos discutindo aqui participações partidárias — disse Jucá.
Para ele, a oposição ajudou a mobilizar.
— A participação da oposição foi importante no momento em que ajudou a mobilizar. Mas essa não foi uma manifestação de nenhum partido de oposição. Essa foi uma manifestação de brasileiros indignados querendo mudanças para o brasil —disse ele.
Jucá disse ainda que o político que ignorar as manifestações deste domingo “pode mudar de ramo”. Ele sinalizou ainda que não há clima para o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) assumir algum ministério.
— Aqueles que não fizerem a leitura do tipo de raiva, do tipo de protesto, do tipo de manifestação, do tipo de falta de paciência que está a população efetivamente vai ter que mudar de ramo. O próprio PT e o próprio governo devem estar avaliando isso. Ninguém que está na política no Brasil, pode deixar de levar em conta como um ponto de referência essas manifestações — disse Jucá.
Jucá lembrou ainda que a convenção deixou bem claro o caminho do partido, dando 30 dias de prazo para uma tomada de posição unificada.
— A discussão na convenção foi muito forte no que se diz respeito a ter novos cargos. É uma questão de foro íntimo do deputado Mauro Lopes e de sintonia com o que o PMDB está pensando. É muito importante que o deputado Mauro Lopes e o próprio PMDB reflitam sobre as manifestações de ontem e o posicionamento de sábado do partido — disse o senador.
O senador lembrou ainda que na quarta-feira o Supremo Tribunal Federal (STF) se manifestará sobre o rito do impeachment na Câmara e depois no Senado.
Perguntado se Dilma deveria renunciar, Jucá respondeu:
— Não vou discutir renúncia. É decisão pessoal e unilateral. O que se tem que fazer é se constatar que efetivamente o brasileiro não está satisfeito com a situação que vive hoje. Vamos ter que ver aí como reverter esse quadro e isso será feito por meio da política. A tendência é o quadro ir se agravando.
Em discurso, a senadora Gleisi ironizou a posição do PMDB, afirmando que o partido continua governista, apesar dos discursos inflamados na convenção de sábado. E disse que a oposição foi “corrida” das manifestações, citando o caso de São Paulo.
— Parece que acabar com o PT solucionaria tudo, segurar, inclusive, a Lava-Jato. A oposição que apostou e financiou as manifestações foi vaiada e corrida do ato. O PMDB continua onde está, apenas deu um prazo de 30 dias, mas com discursos que sempre teve. Apesar dos discursos na convenção de sábado, não entregou nenhum cargo. O golpe de impeachment é inaceitável, não tem base para acontecer, não são manifestações que lhe darão base legal e muito menos constitucional. A mídia e a oposição têm que parar com essa campanha. Já vivemos esse protagonismo da imprensa no pré-64 e vimos no que deu — disse Gleisi.