Brasília Amapá |
Manaus

Áudio de Temer pós-impeachment repercute no Congresso

Compartilhe

BRASÍLIA — O vazamento do áudio do vice-presidente Michel Temer pregando a “pacificação” e “reunificação” das forças do país pós-impeachment da presidente Dilma Rousseff causou divergência no Congresso Nacional. Na comissão especial da Câmara, parlamentares contrário ao afastamento reagiram ao discurso de Temer, que disse que é preciso um governo de “salvação nacional” que reúna forças de todos os partidos. O deputado Sílvio Costa (PTdoB-PE) colocou a gravação no microfone durante sua fala. Já o líder do Psol, Ivan Valente (SP), disse que o conteúdo revela a existência de um acordão entre Temer e partidos da oposição para que derrubem Dilma.

— Ninguém tocou no áudio vazado sem querer querendo e que acena para um acordo de cargos e distribuição posterior. Foi um monumental tiro no pé. O vice-presidente está testando a nação antes da hora. Ele sentou na cadeira antes da hora, como fez Fernando Henrique (na disputa para prefeito de São Paulo), e o Jânio Quadros ganhou. O Michel Temer não pode trabalhar como golpista e trabalhador. Ele tem 1% das intenções de voto e 58% da população quer também seu impeachment — disse Ivan Valente, em referência à pesquisa Datafolha divulgada no sábado.

Um dos vice-líderes do governo na Câmara, Sílvio Costa (PTdoB-PE) tentou exibir um trecho do áudio na comissão do impeachment, mas a qualidade do som estava ruim. Costa fez duros ataques a Temer e o chamou de “traidor do Brasil”.

— Vocês vão ouvir aqui a voz de um homem que está tentando virar presidente no próximo domingo. É o maior conspirador da história. Ele trama à noite — disse Costa, que foi vaiado pelos deputados a favor do impeachment.

— Esse Michel Temer sempre foi um grande dissimulado, de tabelinha com Eduardo Cunha. Esse Michel Temer tramou um golpe com Eduardo Cunha. O que foi que Dilma fez de tão mal para vocês? É uma mulher digna e honrada — completou.

PT DIZ QUE VAZAMENTO FOI PROPOSITAL

Parlamentares do PT reagiram ao vazamento e chamaram o vice-presidente Michel Temer de “maestro do golpe” e conspirador, criticando e ironizando o áudio onde ele já fala em governo de “salvação nacional”, como se o impeachment da presidente Dilma Rousseff já tivesse sido aprovado na Câmara. A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse, no Twitter, que o vazamento do áudio mostra está “comprovada a conspiração de Temer contra Dilma”. Já os deputados Paulo Teixeira (PT-SP) e Paulo Pimenta (PT-RS) lançaram a campanha “vaza, Temer”, numa brincadeira com o vazamento do áudio.

— A conspiração de Temer para derrubar Dilma está agora comprovada. Haja oportunismo político! Se o vazamento foi proposital, revela-se o golpista; se foi por engano, revela-se incapaz. Como governar um país se não controla o WhatsApp? — disse Gleisi Hoffmann.

Pimenta reagiu com ironia ao vazamento do áudio. Para ele, foi um vazamento proposital, mas idealizado pelo mesmo “estrategista” que vazou a carta em que Temer se queixa à presidente Dilma Rousseff por ser tratado como um “vice decorativo”. O petista chegou a gravar um vídeo para redes sociais, simulando uma fala com militantes e, brincando, pede que não vazem o conteúdo.

— Esse áudio do Temer que vazaram chega a ser ridículo. Qualquer pessoa sabe que é um vazamento forçado, deve ser o mesmo estrategista da história da carta do Temer para Dilma. Num gesto de desespero vaza uma espécie de carta de compromissos, tentando sinalizar para a sociedade brasileira alguns compromissos com problemas sociais e transparecer aos deputados que têm os votos para o impeachment — diz Pimenta no vídeo.

Segundo o petista, é preciso “ser muito bobo” para acreditar nessa “conversa mole” de que o áudio foi vazado por acaso. Mantendo a simulação de que também vaza o vídeo por acaso, ele diz que todos devem ficar atentos e tranquilos porque o governo já pensa em ações para anunciar na segunda-feira, pós-impeachment.

— Tem muita violência, hostilidade contra o nosso pessoal, temos que ficar atentos e tranquilos. Já estamos pensando na segunda-feira pós-votação. Queremos anunciar mudanças da política econômica, o país precisa voltar a crescer, gerar emprego, está tudo pensado para a próxima semana. Mas, cuidado: esse áudio não pode vazar, é conversa interna nossa, que a gente vazou por gosto para mandar recado para nosso pessoal.

No início do vídeo, Pimenta diz que conversou com Lula e Dilma e que está motivado e crê que há votos para barrar o impeachment.

Já Paulo Teixeira chamou Temer de “maestro do golpe”:

“Vazamento prova que Temer é maestro do golpe e rege uma orquestra cujo cantor principal é o Cunha (presidente da Câmara, Eduardo Cunha), aspirante a vice-presidente. #vazatemer” disse Paulo Teixeira, no Twitter.

Depois do vazamento, aliados de Temer decidiram difundir o áudio. O deputado Carlos Marun (PMDB-MS) mandou a seguinte mensagem, além do áudio: “Amigos, o vice-presidente Michel Temer, consciente da responsabilidade de estar preparado para assumir o comando da nação em conformidade com o seu papel constitucional, analisava uma ideia do que dizer à nação no caso de o impeachment ser aprovado na Câmara no próximo dia 17, e o áudio desta reflexão vazou na internet. Assim sendo, remeto aos amigos para conhecimento”.

REAÇÕES DIVERGENTES NO SENADO

O líder do PV no Senado, Álvaro Dias (PR), criticou a divulgação do áudio. Para ele, o Brasil está no fundo do poço e vive uma época de “pilhéria, deboche e mediocridade”.

— O vice já está ensaiando o seu governo, considera favas contadas o impeachment. Isso demonstra o governo que temos, a presidente Dilma, o vice Michel Temer… É muita trombada no bom senso, trombada naquele valor fundamental da lealdade e da coerência — criticou Álvaro Dias.

O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), minimizou o impacto do vazamento do áudio. Para o tucano, foi uma fala imprevidente mas premonitória porque antecipa o resultado. Na avaliação de Cunha Lima, o discurso pode não ter sido vazado por acidente, mas para funcionar como uma vacina, para trazer tranquilidade sobre seu eventual governo.

— Lógico que vai dar munição para o governo. Mas o efeito será mais tranquilizador do que desestabilizador. A desestabilização já está posta, portanto a fala de Temer vai trazer segurança em meio a tantas incertezas sobre um eventual governo de união nacional — disse Cássio Cunha Lima.

Na oposição, o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), admitiu que a fala de Temer pode ter sido “inoportuna”, mas não a considerou desrespeitosa. Para Caiado, Temer reagiu aos constantes ataques feitos pelo PT e tentou mostrar seus planos para o governo.

— A fala de Michel Temer pode ser vista como inoportuna, mas não vejo a fala como falta de respeito ou qualquer adjetivo negativo prefiro analisar por duas vertentes. O PT tem assumido a tribuna da Câmara e do Senado para atingi-lo e colocar em sua conta a um falsa retirada dos direitos sociais e que ele não teria governabilidade. Como isso, quis dar uma resposta — disse Caiado.


...........

Siga-nos no Google News Portal CM7